11. Primeira dolorosa lição

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Nos dias seguintes a vida voltou a normalidade daquele lugar.

Carlos voltou a estar fora todo o dia, como o pai e o irmão, com certeza para gerir o trabalho na plantação de café, o gado e os negócios

As noites eram de amor e Teresa dava por si, durante o dia a desejar que a noite chegasse. Alem do sexo, adorava dormir nos braços do seu marido e do beijo carinhoso que ele lhe dava antes de sair

Passava o dia com as senhoras da casa. A sogra esforçava-se por a ensinar a bordar e a foi com orgulho que terminou o bordado simples em um paninho de prato que nunca saberia a sua serventia. No entanto, passava a maior parte do tempo na salinha a ler em voz alta as aventuras de Guliver para elas a ouvirem enquanto costuravam. As vezes tinha de parar devido aos comentários à história e Teresa pensava muitas vezes em como, momentos tão simple,s poderiam ser tão agradáveis

As refeições já eram praticamente organizadas por ela e Nina. Passou uma das tardes a ensinar as cunhadas a fazer a sua receita de bolo, outra alterou ligeiramente a receita de Nina e fez umas bolachas de banana admiradas por todos

Em segredo, na hora das orações de D. Isabel, começou a ensinar Luísa a ler, no pátio por trás da casa com um pau que riscava na terra. Duas das jovens escravas atrasavam a hora de lavar a roupa para ficarem a ver as lições e principiavam também a juntar as letras.

Por duas vezes, nas manhãs mais quentes, após convencerem Luísa com dificuldade, foram até a cachoeira tomar um banho deixando Rute a guardar as roupas e o caminho.

Teresa apercebia-se que apreciava aquela vida e aquele mundo em que as cores, os cheiros, os sons eram autênticos, e não existia a vida agitada a que ela estava habituada.

Os jantares eram em família, servidos por uma das mucambas, e Teresa percebeu que os escravos eram tratados, pelo menos em casa, com algum cuidado e respeito mesmo pelos homens da casa. Mas continuava a perguntar-se como admitiam que Raul tomasse conta dos escravos e os tratasse como ela tinha visto na plantação.

Ao domingo o padre Simões celebrava missa na capela. Os senhores da casa assistiam na frente e os escravos na parte de trás do singelo templo.

Alice continuava a fugir para fora de casa, e Teresa procurava acompanha-la ao fim da tarde para ver os gatinhos ou alimentar esquilos, de forma a não a deixar esquecer as horas e a traze-la para casa, para que estivesse presente quando os homens chegavam. Tentou convencê-la também a aprender a ler, mas no primeiro dia perceberam que Alice não tinha muito interesse. No entanto, quando lhe explicou o poder que poderia ter se soubesse procurar a sua própria informação e a sua própria verdade, a pequena concordou em tentar concentrar-se nas lições e decorar os sons e regras das letras.

Em um fim de tarde, o Coronel veio a casa e informou que os homens não estavam presentes ao jantar. Luísa veio avisar Teresa e Nina à cozinha

ꟷO pai veio mudar de roupa e diz que não vem jantar, nem ele nem Carlos, nem Alexandre

ꟷPorquê? -perguntou logo Teresa

Luísa encolheu os ombros

ꟷComo vou saber?

ꟷQue tal perguntando?! ꟷExclamou Teresa

Luísa pareceu surpreendida como se nunca tivesse pensado em tal coisa

-Oh! Eu não ia perguntar...Eles não me diriam. São coisa de homens!

ꟷOu será que não queres ouvir a resposta porque sabes que vão à cidade, a casa de Madame Carmen dormirem com outras mulheres?

Luisa fitava-a chocada

ꟷTeresa, não deves falar assim...

ꟷNão entendo como aceitam isto! Eu quero saber onde Carlos está! Ele vai ter que me explicar. E se pretende deitar-se noutra cama, não se deita na minha.

A Dama indomávelOnde histórias criam vida. Descubra agora