Porque Essa É A Vida

Carta aberta às cicatrizes que ainda sangram

Cansei de tudo.
Tudo? Sim, tudo; das coisas ruins que estão acontecendo ultimamente e me deixam tão para baixo. Cansei da falsidade alheia e da ideia de que talvez estejam se aproveitando da minha bondade.
Cansei de ser eu; tão recatada, falsamente organizada, personalidade complicada. Cansei de ser isso que não sou, todas essas coisas que me fazem duvidar de tudo o que sou ou conquistei até então. Sou eu mesma ou apenas uma miragem daquilo que sempre desejei ser?

Cansei de me frustrar tanto em tão pouco tempo e de ver as pessoas que eu amo também se frustrando. Se eu sou luz, porque tudo anda tão escuro? Cansei das coisas que antes faziam sentido e que agora não fazem mais; de não brilhar e de me sentir tão impotente.
Cansei de me sentir fora do meu corpo, sendo constantemente julgada por ser como sou, minhas ações sendo milimetricamente calculadas. Cansei dessa tensão de estar sendo observada ou até mesmo julgada, quando na verdade não estão e é tudo coisa da minha cabeça.

Cansei da segunda-feira e de como tudo parece triste, frívolo e cansativo. Cansei da ansiedade e de me sentir tão perdida em meio a multidões de pessoas que também estão perdidas. Cansei de parecer que estou fingindo tratar meus amigos bem, a verdade é que eu não consigo agir de um jeito tão autêntico, porque eu estou gradualmente apagando, então parece que estou forçando. Não estou, saibam. Cansei de não conseguir me expressar tão bem pessoalmente como em mensagens de texto ou poesias.

Será que me perdi novamente nas cicatrizes que ainda ardem ou elas nunca se fecharam e agora a camada sensível se rompeu e tudo dói com mais intensidade?
Eu cansei, não aguento mais e tenho medo de cansar de ter esperanças de que tudo vai melhorar. Chego a duvidar que talvez esse momento de coisas tranquilas cheguem até mim, mas espero estar tão errada nesse quesito como costumo estar em muitas outras coisas.

Não gosto dessa ideia de estar presa num limbo onde sou obrigada a escolher entre soltar a corda ou me segurar mais forte e esperar ser puxada pelo meu "eu" que ainda tem forças para persistir. Até lá, vou fechar os meus olhos e ao menos fingir que está tudo bem, mesmo que percebam que as coisas estão um aglomerado de frustrações e confusões mentais. Estou me enganando e continuarei, sei fingir bem, não sei?

— Torço para que essas cicatrizes se fechem, não só em mim, mas em todos que passam pelas mesmas coisas, só que em situações distintas.