Ensina-me [wyf+hzt]

02

Não seria um exagero se Baekhyun dissesse que o tempo nublado combinava com o humor de Zitao naquela manhã. O ômega passou o fim de semana após a festa bastante irritado e pensativo, e nem mesmo sua mãe teve coragem para lhe perguntar o motivo. Quando deixou sua casa na segunda-feira, mais cedo do que geralmente saía e agradecendo a carona de seu melhor amigo, Tao estava determinado a fazer Wu Yifan concordar com seu “plano genial”.
Sabia que o alfa estaria no colégio naquele horário, pois ele sempre chegava mais cedo, embora Zitao não soubesse o real motivo. Haviam boatos de que o lúpus se encontrava com ômegas escondido antes da aula, e outros diziam que ele apenas gostava de garantir sua vaga no estacionamento, porém a verdadeira razão dele permanecia um mistério.
Não que Zitao se importasse, de toda forma.
Foi consideravelmente difícil encontrar o capitão do time. De todos os lugares possíveis, jamais imaginou que o veria em uma biblioteca às seis da manhã. Se aproximou de punhos cerrados e em passos firmes, decidido a conquistar a ajuda do alfa. Não demorou para que o alfa percebesse sua presença na biblioteca vazia — além dos dois, somente a bibliotecária estava presente —, e ele levantou a cabeça, o observando enquanto se aproximava e adquirindo um pequeno sorriso presunçoso nos lábios.
— Você e eu precisamos conversar! — o ômega falou no momento em que parou ao lado da mesa em que ele estava sentado, repousando suas mãos na superfície plana tentando adquirir uma pose superior.
— Bom dia para você também, príncipe. — Yifan deu um sorriso cafajeste.
Zitao arqueou uma sobrancelha, olhando de relance para o lado antes de voltar seu olhar novamente para o rosto do Wu. Mordeu o canto interno da bochecha, dando o braço a torcer e suspirando em seguida, conscientemente concordando com o tom de ironia do alfa. Sim, ele estava ansioso para vê-lo, mas não era motivo para passar por cima de sua educação; ele havia sido criado melhor que isso.
— Bom dia. — seus lábios formaram um pequeno bico no final, arrancando uma risada anasalada de Yifan. — Agora, precisamos conversar. — repetiu.
— Shh! — o alfa levou o indicador até a boca, sinalizando a placa pendurada na parede onde pedia silêncio, em seguida, voltando seus olhos para o livro em sua frente, ignorando a presença de Zitao.
— Não me mande ficar em silêncio! — cruzou os braços, fechando a cara.
— Estamos em uma biblioteca. — murmurou indiferente.
— Só tem nós dois aqui!
— Primeiro: a senhora Kim também conta. — mencionou a bibliotecária. — Segundo: é a regra.
O ômega estreitou as pálpebras, xingando o alfa mentalmente.
— Wu Yifan! — disse entredentes.
O lúpus respirou fundo, deixando o livro de lado e voltando sua atenção ao mais novo. Se ajeitou na cadeira, apoiando suas costas no encosto e colocando seu braço em cima do encosto da cadeira ao lado, o sorriso ladino nunca deixando seus lábios, sabendo que irritava o garoto.
— Já te disseram que você fica uma gracinha tentando ser mandão?
— Já te disseram que você é irritante?
— O único que tem essa coragem é você, príncipe. — o sorriso do alfa aumentou e Tao revirou os olhos.
— Para de me chamar por esse apelido brega! Eu tenho um nome.
— Um nome que você não me disse qual é! — Kris rebateu.
— É Zitao.
— Viu?! Não arrancou nenhum pedaço. — zombou, e Zitao jurou que poderia socar o alfa naquele mesmo instante, porém precisava que ele concordasse em ajudá-lo, então se conteve.
— Será que podemos conversar civilizadamente?
— Olha só! Até pediu educadamente, gostei de ver. — provocou. — Bom garoto!
— Yifan!
A seriedade na voz do Huang fez o alfa finalmente fechar o sorriso, adquirindo uma expressão igualmente séria.
— Tá’ legal, o que foi?
Tao respirou fundo antes de falar:
— Quero que você me ajude com aquele plano.
Foi a vez de Yifan revirar os olhos ao escutar novamente sobre a ideia maluca do ômega.
— Você teve o fim de semana inteiro para pensar sobre isso e ainda considera uma ideia boa? — indagou, desacreditado.
— É uma excelente ideia! — se defendeu.
— Já disse que é estupido. — o Wu declarou, cético. — Por que eu?
— Bom…
Zitao pela primeira vez ficou sem palavras ao lado de Yifan. Não havia pensado até o momento sobre o real motivo para ser o alfa lúpus, mas não conseguia pensar em nenhum outro que poderia estar disposto a ajudá-lo dessa forma, e definitivamente tinha vergonha demais para se aproximar de outros alfas e contar sobre seus sentimentos como já havia feito com Kris durante a festa, então, por tabela, o Wu parecia a melhor opção.
— Por que não você? 
Resolveu rebater com uma outra pergunta, o que também pareceu pegar o alfa de surpresa pois, bem, até aquele momento, ele também não havia pensado em um bom motivo para não ser ele a ensinar Zitao a arte da pegação.
— O que eu ganharia com isso?
— Eu posso te pagar.
Yifan arqueou as sobrancelhas mordendo o lábio inferior, e Zitao não deixou de notar que ele pareceu um pouquinho ofendido com a insinuação.
— Com todo o respeito, mas você sabe que eu não preciso de dinheiro, não sabe?
Zitao concordou com a cabeça. Não era segredo algum que o lúpus vinha de família rica, e mesmo se alguém duvidasse, bastava colocar os pés em sua casa para que tudo fosse esclarecido. Não havia nada em Yifan que não gritasse dinheiro.
— Você está olhando isso pela perspectiva errada. — Tao argumentou, gesticulando com as mãos. — A pergunta certa seria: o que você tem a perder? Vai ganhar dinheiro e de quebra vai poder acrescentar mais um nome na sua lista de ômegas que você já pegou. — deu de ombros.
Não que Zitao realmente achasse que seu nome valeria algo naquela lista, mas sabia que alfas em sua maioria tinham um ego frágil, então não se importou em usar aquilo como um golpe baixo. A voz do mais novo vacilou um pouco ao dizer, e não passou despercebido pelo Wu, porém escolheu dar sua atenção em outra informação: que lista?
— Lista de ômegas que eu já peguei?
— É!
— Eu não tenho nenhuma lista. — negou, cruzando os braços.
— Ah… — Tao murmurou. — Algumas pessoas vão ficar desapontadas se souberem. — Zitao estreitou os lábios em uma linha fina.
— Quem mais acredita nessa idiotice?
— Bom, — fingiu contar nos dedos, repousando seus olhos no piso — além de mim, a escola inteira.
— A escola inteira?! — repetiu, arregalando os olhos.
— Você tem uma reputação bem marcante, sabia disso? Existem muitos boatos sobre você. — o Huang deu de ombros. — Além disso, não é como se você se importasse o suficiente para desmentir as histórias.
— Isso seria a coisa mais babaca que eu poderia fazer. — o alfa continuou, negando com a cabeça. — Uma lista, tsc, francamente… — cobriu seu rosto com a mão, impaciente.
Tinha total consciência de que tinha uma reputação péssima entre os outros alunos, e assim como o ômega disse, jamais se importou em desmentir quaisquer que fossem as histórias absurdas que inventavam sobre si, independente do quão exageradas poderiam ser, mas, em alguns momentos o pintavam como um completo filho da puta.
— Você vai me ajudar ou não? — Tao questionou, esperançoso.
Yifan o observou por alguns segundos, analisando o leve brilho nos olhos felinos. Zitao tinha razão em dizer que ele não tinha nada a perder: ganharia mais dinheiro e ainda poderia beijar um ômega extremamente fofo daqueles, algo que desejou fazer no momento em que colocou os olhos nele em seu armário. E se porventura ele viesse a namorar Sehun, ainda poderia provocar o alfa dizendo que ele teve a exclusividade de ter o primeiro beijo do mais novo. Yifan geralmente tinha preferências em ômegas e betas do gênero feminino, mas ele não seria louco em negar que Zitao era de tirar o fôlego, principalmente quando o afrontava.
— Quero cinquenta pratas por semana.
— Cinquenta?
— Se reclamar eu subo para cem. — seu tom de voz não deu brecha para Zitao acreditar que ele estava brincando, então apenas concordou. — E, você vai fazer absolutamente tudo o que eu mandar.
— Não é essa a intenção? — suspirou.
— E eu quero exclusividade. O único alfa que você vai poder beijar além de mim será o Sehun.
— Não é como se eu estivesse interessado em outro, de qualquer forma… — mordeu a pontinha da língua. — E quanto a você?
— Não sou eu quem está tentando conquistar alguém aqui. — umedeceu os lábios.
— Isso não parece muito justo.
— É pegar ou largar. — estendeu a mão, esperando que o ômega tomasse uma decisão.
Zitao ponderou. Não havia um real problema em Yifan beijar outras pessoas, assim como ele mesmo havia dito: não devia fidelidade a ninguém.
— Negócio fechado! — falou por fim, apertando a mão do alfa.
Soltaram as mãos e Yifan voltou a prestar atenção no livro. Contudo, Zitao permaneceu parado no lugar, com uma expressão neutra, o que foi notado pelo alfa que respirou fundo após alguns segundos, levemente incomodado.
— O que foi?
— Quando vamos fazer isso?
— Podemos começar depois da aula.
— Não posso! — coçou a nuca. — Tenho aulas de piano.
Yifan suspirou.
— Então no intervalo.
— Baekhyun não pode saber! — mordeu o lábio inferior.
Adorava o beta, mas sabia que ele faria o inferno na Terra se descobrisse sobre seu plano mirabolante, e mesmo conseguindo fugir dele na trajetória até o colégio, Tao sabia que não seria capaz de fazer o mesmo durante o intervalo das aulas.
— Então faltamos no último horário. — o Wu não fazia nem mesmo menção de olhar para ele enquanto sugeria, mas com o som reprovador que escutou, sabia que também seria um empecilho. — Qual o problema agora?
— Eu tenho um histórico escolar perfeito até agora, não pretendo mudar isso agora. — brincou com os dedos. — Gosto de Sehun, mas ele não vale tanto a pena assim.
O alfa riu soprado.
— Anjo, você realmente está determinado a dificultar minha vida, não é?
— Desculpe… — encolheu os ombros.
— Aqui! — pegou o celular do bolso e o entregou ao ômega após desbloquear. — Salva seu número e combinamos por mensagem.
Zitao fez o que lhe foi pedido antes de entregar o aparelho novamente ao lúpus, escutando o alarme indicando que as aulas iriam começar tocando.
— Nos vemos depois!
Tao disse enquanto sorria sem mostrar os dentes, se afastando do alfa que apenas deu um menear de cabeça em troca, concordando. Yifan olhou o contato salvo em sua agenda com o nome do ômega, lambendo os lábios enquanto ia até a opção de edição, trocando o nome salvo para "príncipe", antes de se levantar e devolver o livro para a bibliotecária, saindo do local antes que fosse visto por outras pessoas; ainda tinha uma reputação de bad boy a zelar.

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