A espada escorregava sobre as mãos de Min-suk que lutava com o seu irmão mais velho, Jaen. O barulho do objeto tocando um ao outro era música para os ouvidos do imperador que observava claramente a potencialidade de sua filha. A menina de apenas quatorze anos joga a espada do mais velho, permitindo aplausos de todos os presentes.
O Imperador Jin-hoo desce de seu trono e os lutadores se curvam.
- Estou certo que um de vocês precisa de mais treinos. - brinca o pai.
- Parabéns, princesa Min-suk. - curva-se o filho da Imperatriz, primeira esposa de Jin-hoo.
A moça lhe agradece e todos se retiram, exceto a vencedora.
- Ainda não cansou? - pergunta Mai, mãe da mesma.
- Um pouco, mas irei treinar mais. Preciso estar pronta para quaisquer batalha.
A mulher fica orgulhosa e beija a testa da filha.
- Não fique até tarde. - ela se retira.
A moça continua a treinar sem parar até escurecer-se completamente. Ao perceber que já não enxergava plenamente, decide voltar aos seus aposentos - os jantares eram servidos ao entardecer. Enquanto retornava aos aposentos reais, passeia pelos jardins do palácio. De repente, escuta-se uma voz grave e baixa cantando, inicialmente acreditou que era sua imaginação, mas quanto mais se aproximava da prisão, melhor se ouvia a música.
[...] Que outros sejam
Mais amados e estimados que eu
Dá-me a graça de posto à parte
Ver os outros sendo escolhidosQue os meus lábios
Possam ter a graça de sorrir
Enquanto os meus olhos
Estão chorandoA música toca na alma da garota.
No entanto, vê um velho homem a cantar segurando as grades e olhando as estrelas, as tochas mostram o brilho de seus olhos. Ao se aproximar, observa que suas costas estavam cortadas e amordaçadas pelos espancamentos, seus membros eram magros, cabelos longos e acinzentados, sua pele suja e ferida, apesar de tudo isto olhava com tanta fé e esperança ao céu criando conforto de suas dores ao cantar.O prisioneiro para ao ver Min-suk o encarar como uma criança curiosa descobrindo algo novo. O homem sorri para ela fazendo-a perceber que precisava sair dali.
A princesa correu aos seus aposentos, seu coração parecia estar prestes a sair pela boca, mesmo naqueles poucos segundos parecia haver cometido um pecado cruel contra tudo que imaginava.
Mais calma decide então descansar, por conta do cansaço seus olhos se tornam pesados e logo adormeceu brevemente, porém em sonho viu aquele mesmo homem, o qual brilhava ao cantar a mesma música que ouvira antes. Com um tempo, percebeu-se que não brilhava só e sim centenas de pessoas, formando um grande coral da mesma música. O seu rosto então se volta a um homem de vestes brancas com uma aparência diferente do costume do qual via diariamente, ao estender os seus braços abraça a todos, exceto a princesa que observava de longe aquele encontro triunfal. Min-suk sente um forte desejo de ser abraçada pelo mesmo, porém o medo a tomou por si. O homem de branco a vê e estende a mão procurando segura-la, a nobre olha para elas e percebe que as mesmas estavam furadas.
A princesa Min abre os olhos e percebe a presença de sua serva colocando seu chá da manhã.
- Bom dia, minha princesa.
- B-Bom dia. - ela levanta-se e lava o rosto confusa.
- Dormiu bem?
- Eu... Sim.
- Aqui estão suas roupas. - a entrega. - A terceira esposa lhe espera para o banho matinal junto com as outras damas. - o qual tomava todas as manhãs.
- Obrigada. Pode se retirar. - ordena.
Depois que a serva sai, a menina decide que voltaria à prisão, mas deveria tomar cuidado. Planejou ir à noite enquanto na hora das trocas dos guardas.
[...]
Após do banho da noite nas águas termais, a princesa escapa para a prisão.
Quando chega a maioria dos prisioneiros já estavam adormecidos exceto aquele à quem desejava falar. O vendo fica incerta se deveria ir ou não, até uma força dentro de si a faz tomar coragem para ir.
Aproxima-se, o olhar do homem encontra com o seu. Min-suk senta-se nas palhas que havia no chão humildemente, mas de certa forma grosseira.
- Serei breve e rápida. - diz arrogantemente.- Quem é o senhor e por que está aqui? - começa o interrogatório.
- Poderia ter perguntado ao seu pai. Ele saberia dizer-lhe.
- Não desejo lhe causar problemas.
- Obrigado, vossa alteza.
- Não estou falando do senhor.
O velho não se contém e ri da moça.
- Meu nome é Ji Ho. Fui acusado de cometer desordem e blasfêmia.
- Como consegue ficar tão calmo diante dessas acusações? O senhor não sabe que essa prisão são para os condenados para morte?
- Claro que sei. Por isso que estou tão pacífico.
- Então como?! Enlouqueceu?! - exclama assustada.
- Alguns já me disseram isso. - ri diante das palavras que já lhe foram direcionadas. - Mas não é isso. Na verdade, eu acredito na vida mesmo depois da morte, e acredite. É melhor do que estar nas melhores bençãos da terra.
- Que loucura! Você é um louco!
O velho ri sem se sentir ofendido.
- Não é loucura, criança. Isso se chama fé!
- Fé?
- Isso! Quando acreditamos em algo que vai além das perspectivas humanas, podemos vencer dores profundas se fortalecendo na esperança viva.
A princesa fica reflexiva.
- Qual o seu nome, mocinha? - pergunta o prisioneiro.
- Eu sou princesa Min-suk Min.
- Que honra receber a vossa alteza em meu humilde lar. - brinca.
Min-suk solta uma risada alta.
- Minha nossa! Não podia ter feito isso! - tampa a boca.
- Por que não?
- Fugi para me encontrar com um prisioneiro velho e louco à noite, sem ninguém saber!
- E por que fez isso?
- Eu... não sei.
-Sabe o que acho? Que a pessoa a quem está louca não é apenas eu. - brinca.
A menina revira os olhos, mas acaba rindo com o idoso. Eles brincam mais um pouco.
- Devo retornar, os soldados já devem estar voltando às suas posições.
- Senhorita Min, poderia lhe pedir um favor? - ela assente. - Poderia passar na minha celas nessas próximas noites? Mesmo com fé que tudo isso acabará em breve, às vezes é bom ter alguém para me lembrar que ainda estou vivo.
- Tudo bem, mas só estou fazendo isso porque logo irá deixa esse mundo.
- Obrigado, estarei lhe devendo um favor.
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1 Coríntos 1:18
"Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus."
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Entre A Cruz E A Espada
Historical FictionMin-suk nasceu sendo a filha de um imperador. Era a representação a qual todos admiravam e contemplavam até conhecer um... cristão? Sua visão do mundo e a sua vida é alterada. Será se ela conseguirá salvar o cristianismo numa Era onde era odiado, ou...