Descendo Cegamente Pelas Profundesas Da Água Gelada

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A fanart na capa da fanfic pertence à 산지🐯Sanji (@_sanji7), no Twitter. Não fui eu quem fez. Nenhum dos personagens de Umbrella Academy pertencem a mim either.

Also, tenham em atenção alguns TWs que vão aparecer futuramente nessa fic: assuntos sobre drogas, antidepressivos, pedofilia (implied), um tanto bem normal de violência para a série e maus exemplos de como cuidar de uma criança.

Boa leitura.


   — Ele nem vai responder sua pergunta.

— Ele tem que responder. Ou é isso ou vamos 'pular' sem a permissão dele, e acho que ele não gostaria muito disso. Papai adora estar no controle de tudo.

Vanya mastigou o interior de sua bochecha, claramente cética. Five não a culpava, ele mesmo ainda estava lutando para encontrar a coragem de enfrentar seu pai também (e para memorizar as equações que ele estava tão certo de que poderiam levá-lo além, repetindo-as vezes sem conta em sua mente, verificando quaisquer erros, porque tudo tinha que ir perfeitamente e havia muitas variantes ao redor). Ele suspirou para si mesmo e lhe disse gentilmente:

— Nós podemos voltar, você sabe. — Vendo como Vanya estreitou seus olhos, intrigada, ele prosseguiu — Também não precisamos demorar. Pode ser apenas uma olhadinha rápida no nosso brilhante futuro e então podemos viajar de volta antes mesmo do momento em que partimos — ele então sorriu e se inclinou para mais perto dela. — Se demorarmos mais de quinze minutos lá, será porque minha irmã favorita vai estar tocando o primeiro violino em uma orquestra e eu só tinha que ir vê-la.

E pronto. Ela riu e balançou a cabeça humildemente.

— E porque vamos estar procurando por livros novos, certo?

— Definitivamente. Nós já lemos todos os livros desta casa. Ah, e eu tenho uma lista do que Ben gostaria.

Falando no tal, Ben saiu de seu quarto (eles estavam esperando à sua porta), levando um de seus livros de histórias inacabado sob seu braço,

— Hm? Vocês vão sair escondidos para a biblioteca outra vez?

— Yup — ele meio que não estava mentindo, — logo após o almoço. Alguma coisa em sua lista de leitura?

— Eu confio na sua. Mas seria bom se você trouxesse "O Cântico de Natal" para Klaus, a novela. Estou tentando provar um ponto a ele.

Five acenou com a cabeça. Número Seis parecia querer dizer algo mais, mas no momento em que ele desistiu de hesitar embaraçosamente, Grace tocou um sino e os corredores se encheram de barulho - Diego quase arrombando sua porta, Allison choramingando por ainda não ter feito o cabelo, Luther pisando nos pés dos outros para descer primeiro e Klaus praguejando alto enquanto fumegava com um saco plástico de... Bem. O rapaz optou por dar um olhar cauteloso ao irmão antes de entrar para um abraço triplo. Não podia durar muito mais do que alguns segundos, ele não ousava chegar tarde à mesa e Five não gostava particularmente de ser tocado, ainda assim, era repleto de significado. "Cuidem-se", "Não façam nenhuma estupidez" e "Eu amo vocês dois".

De alguma forma, isso deu à Five um impulso de confiança.

Quando ele entrou na sala de jantar, ele começou a inventar o que iria dizer enquanto um podcast de um manual do exército de campo sueco sobre montanhismo tocava no fundo. Sentado ali, ele deu uma boa olhada ao redor, absorvendo o máximo que podia das características de seus irmãos e de suas pequenas brincadeiras (Klaus estava enrolando erva?) só por precaução. "Só por precaução" representava todas as probabilidades calculadas de seu salto acabar em um futuro desmesuradamente distante onde eles não existem mais e acabar preso lá. 'Saltar' diretamente para o apocalipse seria uma das piores possibilidades.

Seu pai se sentou e seus irmãos começaram a comer. Ele esperou, mexendo com sua faca, e tomou a decisão final, uma decisão que ou arruinaria ou daria um pontapé inicial em sua vida. Apunhalando a mesa, ele esperou até que a atenção de todos estivesse sobre ele (ele podia sentir o olhar de desdenho de Luther) e cuspiu para fora:

— Eu tenho uma pergunta.

— O conhecimento é um objetivo admirável, mas você conhece as regras — seu pai abanou sua mão como se Five fosse um mosquito irritante, — nada de falar durante a hora da refeição. Você está interrompendo Herr Carlson.

Ele não ia ser dispensado.

— Eu quero viajar no tempo.

— Não — ele disse simplesmente. Vanya deu uma grande dentada em seu garfo.

— Mas eu estou pronto. Tenho praticado meus 'saltos' espaciais, exatamente como você mandou. — Para provar seu ponto de vista, Five 'piscou' pela sala para o lado de seu pai — Viu?"

— Um 'salto' espacial é trivial quando comparado com as incógnitas da viagem no tempo. Um é como deslizar ao longo do gelo, o outro é como descer cegamente pelas profundezas da água gelada e reaparecer como uma bolota.

Isso não fazia sentido antes, não faz sentido agora e não faria sentido até alguns minutos mais tarde para Five. Ele franziu o sobrolho.

— Bem, eu não entendo.

— Daí a razão de não estar preparado.

Maldito velhote.

Número Cinco ficou imóvel diante da mesa, sentindo tanto uma raiva fervente quanto uma incerteza fria crescendo dentro dele, o que não é uma combinação confortável - enviava calafrios através de seus ossos ao mesmo tempo em que lhe queimava as bochechas - ainda assim, vislumbrando sua irmã abanando veementemente a cabeça ("Deixa, Five, ele não vai ouvir"), seu cérebro lhe deu flashbacks de meses e meses de cálculos precisos, momentos suaves e promessas compartilhadas entre ele e seus irmãos, lembrando-lhe que ele ia fazer isso por eles. Não apenas Vanya e Ben, mas todos os seus seis irmãos tinham esperanças e sonhos que odiariam perder. Ele estava 'pulando' para tranquilizá-los sobre seu futuro. Ele não podia se dar ao luxo de ter medo.

— Eu não tenho medo.

— O medo não é o problema — Reginald não estava nem mesmo olhando para ele. — Os efeitos que pode ter em seu corpo, ou até em sua mente, são imprevisíveis demais. — O menino rolou os olhos e então seu pai decidiu dar um já-chega, dizendo — Agora, eu te proíbo de falar mais sobre isso.

Infelizmente, Five chegou à mesma conclusão ao mesmo tempo: falar não ia valer mais a pena. Então ele se virou e correu, já aquecendo com a adrenalina. Sua irmã não o seguiu. Não perdendo nenhum precioso segundo, ele 'saltou' algumas estações, pousando em uma primavera brilhante e colorida ainda por vir.

Five riu:

— Não tô pronto meu cu.

E então ele foi por alguns anos. Apesar da queda de neve que ele entrou, sentiu faíscas de fogo sob sua pele, a estática familiar de seu poder fluindo através de suas veias, a qual ele puxou o mais forte que pôde e rasgou o tempo e o espaço com suas próprias mãos, grunhindo.

Ele espreitou através do sinistro portal azul que forçou a abrir, encontrando o quintal de sua própria casa em supostos poucos anos. Um grupo de adultos estranhamente familiares olhou de volta em confusão. Five olhou para eles, perguntando-se se era isso que ele estava procurando, e se decidiu quando um extintor de incêndio foi jogado em sua direção (ele se abaixou, o extintor atingiu um transeunte, ele entrou em pânico).

Era uma situação de agora ou nunca. Ele deu um passo em frente.

E caiu uns vinte metros de altura sobre a grama.

A Bolota (The Umbrella Academy)Onde histórias criam vida. Descubra agora