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[1918 palavras]

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A pele de Hani queimava, como fogo ardendo por todos seus poros. Suas pernas mornas tremeram quando encostaram nas mantas frias pelo ar-condicionado, fazendo com que ela se encolhesse, pelo inesperado toque frio no quente. Ela puxou as cobertas, tirando-as de cima do seu corpo e respirou profundamente, quando seus olhos se acostumaram com o escuro, ela percebeu que não estava em seu apartamento, tão pouco em seu quarto.

Estava na sua antiga casa da árvore. Da sua infância.

A casa parecia minúscula agora que Hani cresceu. As chamas começaram a surgir em sua volta, consumindo as madeiras e os pequenos móveis almofadados que seu pai havia construído duas semanas antes. Hani perdeu o ar por um instante, se perguntando por que tinha voltado logo para aquele maldito lugar. olhando em volta, seu coração batia com força contra o peito.

Os olhos de Hani ainda estavam perdidos, tentando se acostumar com o novo ambiente, seu corpo curvado para não bater a cabeça no teto, enquanto o fogo corroía toda madeira, brinquedos e colchonetes. Foi quando Hani a viu.

Myla permanecia imóvel no meio das chamas, fixando seu olhar em Hani sem piscar. As labaredas pareciam não lhe causar nenhum incômodo enquanto ela permanecia imóvel como uma estátua prestes a ser consumida pelo fogo. Hani bateu a cabeça no teto da casa da árvore, mas não sentiu dor enquanto tentava ir na direção da sua irmã gêmea, sentindo sua respiração ficar tensa. Ela ouvia os gritos e o estalar do fogo, mas Myla não fazia nenhum barulho. Nem um grito, choro ou som. O medo tomou conta de Hani, assim como aconteceu naquela noite fatídica em que Myla morreu queimada pelo fogo.

- Myla! - Hani gritou, com lágrimas escorrendo por suas bochechas. Os gritos ecoavam no meio das chamas, mas Myla permanecia imóvel. - Saia daí, você vai morrer. Myla, você está me ouvindo?

Quando finalmente alcançou Myla, ela ainda permanecia parada no meio do fogo, segurando uma boneca chamuscada pelas chamas. Seu rosto estava sujo de carvão e as chamas ao seu redor nem parecia tocá-la, mas ela permanecia imóvel como se estivesse em transe. Hani sentiu seu coração apertar ao ver a garota de nove anos que costumava ser sua cópia perfeita ali, diante de seus olhos: os cabelos pretos longos, os olhos escuros e a pele alva. Ela estremeceu ao dar um passo em direção à irmã, sentindo seu coração bater forte no peito.

- Myla... - sussurrou Hani.

Hani deu mais um passo em direção a Myla, depois outro e mais outro, até que estivesse a apenas um passo de tocá-la. Quando ela ergueu a mão, que tremia diante das chamas, o chão desabou debaixo de seus pés e antes que seu corpo atingisse o chão em um baque oco, ela acordou.

Seu peito subia e descia, enquanto sua camisola molhada de suor grudava em seus seios. Com dificuldade, ela se sentou na cama, ainda tonta pelo pesadelo. Quando ergueu o rosto, fixou os olhos na sombra parada entre as cortinas, que se moviam com o vento. A mancha diante de seus olhos parecia encará-la de volta, com a forma de um ser humano alto, magro e masculino. Algo naquela sombra em específico parecia estranha, e Hani não tinha certeza do que era. Uma vespa voou na sua direção, pousando na ponta da cama, enquanto a sombra continuava parada ao lado das cortinas.

A Carícia da Escuridão • Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora