Prólogo - O princípio do Caos

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"O que esperar, senão o nascer de um sublime caos, quando a vida pela morte se apaixona?"


Os filhos de Caim.

Descendentes da morte e amaldiçoados com sangue. Foi assim que os primeiros vampiros, criados no tempo de Gênesis, foram nomeados. Criaturas das sombras, nascidas da culpa assumida por um maldito, cuja boca abriu-se para receber o sangue do próprio irmão. O primeiro transgressor, o criador de seres carregados de beleza, fascínio e horror.

Para aqueles que ousassem cruzar seus caminhos só restavam dois destinos: sucumbir à morte, ou ceder a insaciável sede escarlate. Assim, Caim ergueu seu temido império, protegido pela marca da punição de um deus que o sentenciou ao fardo de uma vida eterna, alimentada por sangue e morte.

Sem nunca renegar sua natureza assassina, Caim governou por séculos humanos, fazendo todas as terras temerem-no ou servi-lo, condenando os seus filhos a repetir seu crime pela eternidade.

Mas o deus que lhe concedeu a maligna e divina benção, também bendisse com lágrimas as terras manchadas com o sangue do segundo filho, trazendo a vida os nascidos do lamento pela morte de Abel.

Da terra nasceram os lobos.

Humanos com a capacidade de transformarem-se por completo em feras, com rapidez, sagacidade e força. Detentores do direito à defesa que Abel não teve, predadores naturais das criaturas das sombras.

Do levantar dos lobos surge a queda dos filhos de Caim.

Quando o primeiro vampiro teve a cabeça arrancada pelas presas de um lobo, uma infinita guerra, travada entre ataques e retaliações, se iniciou, devastando vilarejos inteiros, carregando em cada vida inocente ceifada, o ardor que consome àqueles que só se importam em manterem-se no poder.

De um lado, Caim e seu exército de sanguessugas, liderado pelo mais atroz e impiedoso de sua prole: o Conde Escarlate. O primogênito concebido no ventre de Havah: aquela que dá a vida.

Do outro, Baruc – o primeiro homem a tornar-se lobo – erguendo uma matilha, trazendo vida a vingança de Abel, compartilhada no coração de cada criança que das terras de Basã nasciam.

Terras estas que eram a essência da vida. Solos férteis, famílias grandes e frutíferas, protegidas pela força da fera que habitava em cada descendente de Baruc. Viviam daquilo que plantavam e colhiam; do ciclo animal, onde a natureza se fazia presente, ordenando quem era o alimento e quem deveria ter a fome saciada. Já as águas tocadas pelos filhos de Caim tornavam-se traiçoeiras e turvas e o chão onde seus pés pisavam, secos e improdutivos.

O exato contraste entre a morte e a vida.

Todavia, a guerra nunca faz discernimentos, consome com voracidade todos a quem por ela optam, até mesmo aos inocentes, que nem sequer a elegeram como salvação.

Sejam estes homens ou mulheres; adultos ou crianças; vampiros ou lobos...

Com o avançar do conflito, a existência de toda e qualquer criatura estava sob real ameaça de ser dizimada da face da terra. Temendo que esse fosse o desfecho da tenebrosa batalha, os imortais – aqueles que existem desde antes do que se haja, que se faça, que se crie... – decidiram, pela primeira vez, intervir no livre arbítrio dos homens. E assim, emergindo do intangível vazio que antecede a criação, três seres tomaram por receptáculos os corpos de três irmãos, dando início ao que pelos homens foi conhecido como A Ordem dos Feiticeiros.

O Conde EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora