Capítulo 1

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Soraya bebia uma taça de vinho já pela metade quando ouviu alguém bater à sua porta. Estava tentando acalmar-se devido à ansiedade iminente que se alastrava pelo seu corpo; um sentimento inevitável, justificado pelo debate em rede nacional que ela participaria no dia seguinte. Soraya nunca gostou de dormir; considerava tempo perdido. Mas justo hoje, ela sentia que precisava. Tentou em vão; já era quase meia noite e seu corpo parecia pronto para correr uma maratona. O nervosismo que percorria seu sangue e a deixava em estado de alerta não permitia que ela ficasse quieta nem por um segundo. Resolveu revisar a cola para o dia seguinte bebendo um vinho importado que comprara no aeroporto à caminho de São Paulo. Era o que estava fazendo até aquele momento.

Abriu a porta sem muita expectativa. Não esperava ninguém; deduziu que fosse algum funcionário do hotel. Mas, para sua surpresa, era Simone.

- Soraya - disse entre suspiros.

As duas se encararam por um tempo, certas de que aquilo talvez fosse inapropriado.

- Desculpe. Eu só... - Simone balançou a cabeça tentando colocar as palavras no lugar. A figura de Soraya havia as embaraçado na sua mente. - Estou nervosa. E não tenho ninguém aqui além de você.

Soraya engoliu em seco com a última frase. Ela sabia sobre o que Simone estava falando; sentia o mesmo.

Buscou uma taça no armário da copa e o encheu até a metade com o vinho importado que tomava. Julgou que seria melhor conversarem em um lugar aberto e perto de outras pessoas; assim não poderiam fazer nenhuma besteira. Buscou seu sobretudo branco pendurado no cabide e fechou a porta atrás de si.

Percorreram o corredor de carpete bege do hotel até chegarem à área da pscina. Estava vazia, obviamente. Ninguém teria a ideia de ir tomar banho de pscina nesse frio de madrugada de São Paulo. Soraya estava mais ansiosa do que quando deixou seu quarto. Era um misto de sensações: borboletas na barriga e vontade de ir embora. Não sabia se aguentava ficar tão perto de Simone sem querer tocá-la. Observava os cabelos escuros que chegavam timidamente aos ombros e se envergavam em cachos no final; sentia seu cheiro doce vindo da nuca que fazia Soraya ter vontade de aconchegar-se alí.

Simone tirou uma cartela de cigarro do bolso do casaco e acendeu um com um isqueiro.

- Faz anos que não fumo, mas hoje sinto que eu mereço. - disse depois de dar uma tragada - Aceita?

- Como nos velhos tempos - Soraya sorriu antes de tomá-lo em seus dedos.

Não pôde evitar soltar uma careta ao sentir o gosto amargo em sua boca quando tragou o cigarro.

- Tinha esquecido como isso era nojento - e devolveu à Simone, que achou graça.

Simone podia estar olhando para a pscina, mas sua mente estava em outro lugar, Soraya percebeu. Resolveu deixá-la com seus pensamentos por um tempo. Talvez fosse disso que precisasse. Mas ela definitivamente não conseguia pensar em mais nada com Simone sentada ao seu lado. Não, sua presença causava um curto-circuito em seu cérebro, como se ele não funcionasse corretamente. Não conseguia montar uma frase enquanto Simone a olhava com aqueles olhos escuros e penetrantes que conheciam cada célula do seu corpo, cada pensamento que passava pela sua mente.

- Você se lembra daquele dia depois da prova em que me viu chorando? - Simone cortou o silêncio.

- Sim - a voz de Soraya saiu falha.

- Nunca me esqueci do que você disse.

Simone a encarava profundamente nos olhos. Conseguia fazer Soraya corar apenas com essas encaradas.

- Eu ainda acredito nisso - Soraya respondeu com um sorriso fraco.

Simone meneou com a cabeça.

- Você não é imparcial - respondeu.

Nossa história - Soraya e SimoneOnde histórias criam vida. Descubra agora