Capítulo 2

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Encontraram-se num restaurante no centro da cidade de Campo Grande ao meio dia. Olharam o cardápio enquanto conversavam amenidades. O dia era claro, sem nuvens no céu que ofuscassem o brilho quente do sol. Era uma tarde limpa. Soraya escolheu um prato de salada ceaser e Simone pediu macarrão com molho branco, sua comida preferida daquele lugar.

O garçom as serviu quase sem ser notado; estavam muito absortas na conversa para perceberem que alguém havia chegado. Simone insistiu que Soraya provasse seu macarrão, alegando ser a melhor coisa que já provara.

- Te juro Soraya, - disse enquanto mastigava - que se você achar isso ruim, você pode dar na minha cara.

Soraya achou graça da aposta.

- Você sabe que eu sou fresca com comida - levantou uma sobrancelha.

- Ainda assim; eu aposto! - Simone manteve seu olhar confiante

Soraya riu mais uma vez; aproximou-se da mulher e abriu a boca, esperando o garfo vir em sua direção. Os olhos não se desviavam, quase congelados uns nos outros. Simone colocou o macarrão em sua boca e esperou ela puxar; estremeceu-se ao observar seus lábios vermelhos envolvendo o talher com delicadeza. Soraya mastigou por um tempo, sem esboçar reação, para não estragar o clima de tensão da aposta.

- Tudo bem, você ganhou - Soraya finalmente anunciou.

Simone abriu um sorriso largo e puxou o punho em forma de comemoração.

- Vou te fazer experimentar mais coisas, você vai ver.

Provocações ambíguas eram a forma preferida de se comunicarem.

- Simone, seja sincera - Soraya pediu, de repente - Você acha que consigo aquela vaga de estágio?

Simone termimou de beber seu suco antes de responder.

- Por mim, sim. Adoraria trabalhar com você - sorriram. - Infelizmente, não depende só de mim. Mas sei que você é esforçada e acho que isso não vai passar despercebido entre os contratadores.

- Gosto de passar tempo com você também.

Soraya tocou a mão de Simone num gesto simples e casual. Mas dentro delas, um turbilhão de sensações se passavam; mil e um pensamentos se embaralhavam e causavam uma névoa na mente; aquele frio na barriga de nervosismo; e claro, a conhecida corrente que as atravessavam toda vez que se tocavam. Olhavam-se intensamente sem conseguir desviar, como se buscassem enxergar o que havia por trás das suas peles arrepiadas.

O garçom chegou com a conta e Simone insistiu em pagar. Disse que foi um prazer almoçar com ela e que esperava repetir isso mais vezes. Separaram-se na saída apenas fisicamente; porque em suas mentes, ainda estavam juntas.

Soraya foi embora do hotel de Simone por volta das duas da manhã. Seu voo para casa era cedo, às sete horas, então precisava chegar bem antes no aeroporto para não correr o risco de se atrasar. Não queria ir para casa, no entanto; queria permanecer alí na cama com sua mulher. Mas seu marido no celular não lhe deixava esquecer de que precisava voltar.

O voo foi melancólico, quase choroso. Era difícil separar-se de Simone mais uma vez. Mas sabia que a encontraria mais vezes, seja no senado, seja nos debates à presidência.

A situação de Simone era mais complicada ainda. Tinha duas filhas esperando por ela em casa. Estava com muita saudade delas; abraçou-as com força quando as encontrou. Adorava suas meninas, tinha muito orgulho delas, mas como toda pré-adolescente, Maria Eduarda estava na fase mais chata da juventude.

Nossa história - Soraya e SimoneOnde histórias criam vida. Descubra agora