Capítulo 5

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Simone sentou-se de frente a Eduarda e Fernanda na mesa, com o coração saindo pela boca. As mãos, nervosas e inquietas, batucando na madeira, arrancando as cutículas e enxugando o suor das palmas na calça. Esfregou o rosto, tentando evocar a coragem que precisava para conseguir terminar logo com aquilo. Era inevitável; então que fizesse o quanto antes. A mais velha parecia tão ansiosa quanto a mãe, enquanto a mais nova não fazia ideia do que estava acontecendo.

- Vou tentar explicar da maneira mais objetiva possível - Simone quebrou o silêncio.

Ela soltou um suspiro, colocando para fora toda aquela agonia ansiosa junto com o ar que soltou pela boca.

- Anos atrás, quando eu era professora, conheci Soraya como aluna - fez uma pausa para respirar fundo. - Nós desenvolvemos uma amizade intensa, uma conexão muito profunda que logo evoluiu para... algo a mais.

Simone fechou os olhos, não querendo ver a reação das filhas às suas palavras. Sua voz saia trêmula e arrastada; o estômago quase deixava a comida voltar a cada palavra que ela dizia. Mas então, quando pensou em Soraya e no que diria a seguir, foi como se injetasse um calmante em sua veia, que tranquilizou todo seu corpo inquieto.

- Nos apaixonamos.

Disse agora olhando suas filhas nos olhos. Elas, por sua vez, não expressavam raiva ou nojo, como Simone pensava. Pelo contrário, seus olhares eram de carinho e compreensão.

- Ela é o amor da minha vida - disse com os olhos marejados. - E eu a perdi porque não tive coragem de assumir isso, anos atrás. Mas estou tentando fazer diferente, estou tentando fazer direito - limpou as lágrimas. - Não posso perdê-la de novo.

- O papai sabe? - Eduarda perguntou

Simone sentiu aquela ansiedade novamente ao pensar em como Eduardo reagiria.

- Não... foi muito antes dele - respondeu. - E não acho que estamos na fase de conversarmos sobre isso ainda.

- É por isso que vocês estão se separando? - Fernanda perguntou receosa

- Não... quer dizer, sim. Mas não. Como eu disse, ele não sabe sobre isso.

Ficaram em silêncio por um tempo. Fernanda ainda assimilava tudo aquilo com a inocência de uma criança, sem saber exatamente como reagir àquilo. Eduarda, por outro lado, procurava uma forma de demonstrar apoio, apesar de sentir um certo remorso pelo divórcio dos dois.

- Ela também te ama?

Simone, que encarava os próprios dedos, levantou o olhar. Os olhos, antes tristes, brilharam ao ouvir a pergunta de Eduarda. Sentiu-se tão feliz por ser acolhida pela filha.

- Sim - respondeu. - Mas ela tem um pé atrás porque acha que não vou ter coragem de assumí-la.

- E não é o que está fazendo agora? - Eduarda encorajou

- É, mas não é só isso.

- E precisa de mais o quê?

Simone parou para pensar um pouco.

- Tem seu pai, seus avós, os amigos... A mídia vai saber - lembrou. - Não é tão simples assim.

As meninas pareceram decepcionadas com a resposta. Até elas acharam a mãe um pouco covarde. E Simone percebeu. Não queria ser vista como fraca pelas próprias filhas! Que exemplo seria esse?

- Então... - se ajeitou na cadeira - é melhor eu ir começando a eliminar os obstáculos da lista.

Soraya entregou os papéis de divórcio a César como se fossem apenas papéis sem significado. Tinha o olhar vazio, distante; a boca curvada em desprezo à figura que se posicionava a sua frente. Ele tentava manter-se inabalável, mas ela sabia que por dentro estava destruído. Ouvira-o choramingar diversas vezes durante a noite, já sabendo o que viria no dia seguinte. Era questão de tempo até os dois se separarem, e Soraya esperava que a essa altura do campeonato ele já estivesse conformado com isso. Aparentemente, ele tinha mais sentimentos do que ela achava.

Nossa história - Soraya e SimoneOnde histórias criam vida. Descubra agora