Naomi
Eu odeio aeroportos. Estou completamente convicta disso, apesar de até 12 horas atrás, amar viajar. Se eu for sincera, preciso dizer que na verdade não odeio aeroportos, mas odeio completamente o motivo de estar embarcando em um vôo para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Apesar de ter nascido em São Paulo, mas ter morado os últimos anos em Minas Gerais, minha casa é em Mato Grosso do Sul desde os meus 3 anos de idade. Eu amo a minha cidade, mas a minha família é o motivo de ter meu coração tão ligado com aquele lugar.
Meu telefone toca, e sou tirada dos meus pensamentos quando olho para a tela do celular e vejo o nome "pai" ascendendo na tela. Atendo com um sorriso no rosto.
– Oi papai. – Digo alegremente, enquanto espero o som familiar da sua voz.
– Oi joaninha. Quanto tempo até embarcar? – O apelido me faz sorrir, mas diferente da sensação familiar de segurança que eu costumo sentir ao falar com ele, sou automaticamente lembrada do motivo de estar esperando a 2 horas nesse maldito aeroporto. Eu estava visitando meu pai biológico em Minas Gerais quando recebi um telefonema da minha mãe informando sobre a piora do estado de saúde do meu avô, pai do meu padrasto, com quem estou falando no telefone nesse momento enquanto meu sorriso some do rosto.
– O vôo está atrasado, papai. Devo chegar mais tarde do que o pretendido. Você está em casa? – O ouço respirar fundo do outro lado da linha, e ao fundo posso ouvir um som de tosse. Meu coração se aperta.
– Só um minuto, Naomi. – Ele só me chama pelo nome quando algo não está certo. Não consigo permanecer sentada, e começo a andar de um lado para o outro na sala de embarque. – Sinto muito, joaninha.
– Como meu velho está? – Pergunto, temendo uma resposta. Sinto os olhares em mim na sala de embarque, mas simplesmente não ligo. Eu preciso estar com a minha família o quanto antes.
– Aguentando, por enquanto. Ele não tem muito tempo, Naomi. Todos estão vindo para cá e eu preciso avisa-la, filha, mas Vicente chegou hoje a tarde. – Apenas a menção do nome dele me faz tremer. Não o vejo a 7 anos, e sinto meu coração sangrar ao perceber que vou vê-lo na pior circunstância possível. Me sinto arrasada, mas não consigo nem imaginar como Vicente está se sentindo nesse momento.
– Tudo bem, papai. Ele tem mais direito de estar com a família do que eu. Estranho seria se ele não tivesse aparecido. – As palavras se tornam nublada em meio às lágrimas que se formam nos meus olhos, mas eu pisco rapidamente para afasta-las.
– Naomi, nós já tivemos essa conversa antes. Vicente tem tanto direito de estar aqui quanto você. Aliás, nós não o vemos a anos, mas é você que permanece conosco. Nós somos sua família, nenhum de nós se importa com laços de sangue, você sabe disso. – Posso sentir a repreensão do outro lado da linha, e sei que não é momento para discutir sobre isso.
– Tudo bem, papai. – Digo, sabendo que não adianta discutir com Alberto Portes quando ele usa esse tom de voz.
– Como Frederico está? Imagino que ele não tenha gostado de tê-la por apenas 2 dias. – Seu tom me faz sorrir. Frederico Ferri é o meu pai biológico e a razão de eu estar em Minas Gerais. Frederico conheceu minha mãe quando ela tinha apenas 20 anos, eles se apaixonaram e em menos de 1 ano, ela estava grávida de mim. Felizmente a relação não durou, e meu pai biológico decidiu que não estava pronto para ser pai, então nos deixou. Com apenas 21 anos e uma filha para criar sozinha, ela fez tudo que pôde por mim, até conhecer Alberto, me pai do coração.
Lembro da primeira vez que o vi, quando tinha 3 anos e usava uma roupa de joaninha, a minha preferida. Ele se ajoelhou na minha frente e disse "Oi joaninha". Daquele dia em diante, eu e mamãe não nos separamos dele. Pouco tempo depois estávamos nos mudando para Mato Grosso do Sul, onde eu fui apresentada a família de Alberto, que hoje é a minha família. Vovô Joaquim e vovó Ester nos receberam como se já fôssemos da família, assim como meus tios Heitor e Amélia, pais de Matias e Vicente. Logo, nos tornamos uma só família, e eu e mamãe nunca mais estivemos sozinhas.

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Apenas agora
Roman d'amourUm amor que começou na infância, uma mágoa que não pode ser esquecida. Naomi Ferri conheceu Vicente Portes aos 5 anos de idade. Desde então, ela foi acolhida e amada pela família do rapaz. Um amor floresce a partir da amizade desenvolvida ao longo d...