Apenas agora

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Naomi

Desembarco no Aeroporto Internacional de Campo Grande sentindo todos os meus nervos a flor da pele. Carrego minha mala em meio às pessoas e estou prestes a abrir o celular para pedir um carro quando uma voz familiar me interrompe.

– Eu disse que você não manda em mim. – Me viro já sorrindo, apenas para encontrar os olhos familiares de Matias. Ele tem sido uma constante na minha vida desde que eu entrei para a família Portes. A nossa diferença de idade sempre fez com que Matias me amasse como uma irmã, e a isso eu seria eternamente grata. Mesmo depois de tudo que aconteceu com Vicente, ele permaneceu do meu lado. Lembro de quando ele me procurou apenas para dizer "Jojo, eu quero que saiba que você é tão minha irmã quanto ele." Ele nunca perguntou os motivos, ou o que de fato aconteceu, mas muitas vezes me viu chorar e permaneceu disposto a me abraçar pelo tempo que eu precisei.

– E ainda assim você não é capaz de me deixar pegar um uber. – Ele revira os olhos, mas prontamente pega a mala das minhas mãos.

– É sempre mais rápido se você estiver comigo. – Dessa vez, sou eu quem reviro os olhos. Ele é tão irritante.

– Pelo menos você reconhece que dirige como um louco. – Provoco, deixando-o para trás enquanto acelero o passo. Não demora muito para que os 1,87 dele alcancem os meus 1,65 de altura.

– Não Jojo. Estou reconhecendo que você não tem o mínimo de foco. Você quer tirar foto de tudo que passa na sua frente. Olha que linda aquela formiguinha voltando para o formigueiro. – Sua imitação da minha voz é completamente ridícula, mas não consigo segurar o riso.

– Você ama as minhas fotos. – Disparo, porque é simplesmente a mais pura verdade. Acho que Matias é meu fã número 1, ele sempre ama tudo que eu faço, inclusive as minhas fotos. – E pare de me chamar de Jojo. – Desde que me viu pela primeira vez, meu pai me chama de Joaninha, mas Matias não conseguiu se controlar e achou uma maneira de me irritar através disso. Ele criou o apelido "Jojo" e desde então utiliza como arma para me irritar. Lembro quando ele e Vicente me chamavam de Jojo na frente de todos os meus colegas. Eu era a prima mais nova, e o trabalho deles era me tirar do sério. Eu gritava e gritava, mas eles só paravam quando viam lágrimas nos meus olhos. Eventualmente eu passei a gostar do apelido, secretamente, é claro. Matias jamais saberia.

Encontramos o carro de Matias e vejo o semblante sério em seu rosto, muito diferente do meu primo brincalhão de 5 minutos atrás.

– Está tudo bem? – Pergunto, preocupada. Ele respira fundo, e o seu cansaço me faz parar. – Você está cansado? Quer que eu dirija? Você não deveria ter vindo me buscar, eu sei que ficou no hospital com o vovô... – Seu olhar me interrompe.

– Não estou cansado fisicamente, Naomi, estou com medo. Minha mente não para de funcionar nem por um segundo e eu não sei quando vou finalmente respirar. – Suas palavras são cortantes. Meu primo é um dos homens mais fortes que eu conheço, e poucas foram as vezes que eu o vi demonstrar qualquer tipo de fragilidade. Deve ser exaustivo.

– Também estou com medo, Tito. Não sei o que será da nossa família sem o vovô. Não sei o que será da vovó sem ele. Só de pensar, meu coração dói. – Lágrimas se formam nos meus olhos, mas eu pisco rapidamente para afasta-las.

– Vicente está em casa, chegou ontem. Ele está tão diferente, Jojo... Eu não consigo imaginar como ele está se sentindo. Você sabe, o vovô sempre foi mais próximo dele, mesmo com a distância e os anos ausente. Eu sei que não deveria falar isso com você, mas as vezes eu só queria que as coisas pudessem a ser como antes. Eu, você e o Vico. – A menção do apelido de Vicente me faz fechar os olhos com força. O ar parece sumir dos meus pulmões e uma única lágrima escorre do meu rosto. Sinto a mão de Matias tocar a minha, e a aperto em busca de apoio. Ele me entende. Eu perdi o garoto que amava, Matias perdeu o irmão, meus avós perderam o neto, e tudo foi culpa minha. – Me desculpe,  Jojo. Eu sei que não está fácil para você, mas lembre-se que você tem meu apoio. – Suas palavras penetram o meu coração, mas eu sei que não posso envolver Matias nisso. Ele precisa se reconectar com o irmão, e eu não posso mais ser um obstáculo para isso.