Profano

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New York City, USA.

Depois.


Faltava luz. O apartamento estava escuro. Sem vida. Vago. Tudo era tão grande e espaçoso. Mas ao mesmo tempo minúsculo e limitado. Alfred chorava. Esparramado na poltrona de roupão. A vida perdeu-se no tempo. Precisava encontrar sentido para viver. Estava sozinho. Solitário. Em sua imensidão. Pensamentos. Angústias. Esses momentos geram lembranças. Recordações. Boas e ruins. O luto não ia acabar nunca. Mas tinha que continuar sua jornada. O destino se constatou. E uma chama se acendeu. Renasceu. Pegou o telefone. Discou os números.

"Quero clonar Benjamim!"

"Não é algo tão simples."

"Uma cópia fiel."

"É um experimento que pode dar certo ou errado."

"Um ser idêntico."

"Fisicamente."

"Mas pode parecer ..."

"E pode não parecer..."

"Que ódio!"

"Calma."


Cruel. Insensível. Egoísta. Um homem quando sente dor pode tornar-se um monstro.


"Benjamim Weber."

"Um novo Benjamim."

"Um novo Benjamim, no corpo do meu Benjamim."

"Anos e anos de pesquisa Alfred. Muitos testes até chegar onde estamos. A medicina evoluiu muito."

"E contribui bastante pra isso."

"Sim. Sem os recursos vindo da sua empresa nunca chegaríamos onde estamos."

"Estão espero ser recompensado. Isso soa ridículo, eu sei. Mas desde o princípio já pensava em futuramente poder usufruir da ciência. Desse experimento, precisamente."

"Chegou a hora."


Uma mulher. Magra. Loira. Alta. Linda. Estava grávida. Radiante. Sua barriga era tão oval. Tão bonita. Sexy.


"Foi um aluguel."

"Alugou seu corpo?"

"Sim."

"Vai receber bem por isso."

"Vou. "

"Está vendendo uma criança?"

"Não! Estou gerando uma criança que não é minha."

"Mas que está saindo de dentro de você."

"É..."


A neve caía lá fora. O sol nascia aqui dentro. Um choro. Não era de tristeza. Uma simples alegria. Eu nasci. Eu estou vivo. É tão bom estar vivo. Ainda que em outro corpo. Mas espera. Este não sou eu. É uma cópia de mim. Alfred me pegou em seus braços. Aquele olhar emocionado. Uma confusão de sentimentos. Alegria e tristeza. Era confuso, eu sei. Mas no fundo tornava-se algo grandioso. Magnífico.

"Pai. Eu estou aqui." dizia se ele pudesse me ouvir.

Se realmente eu estivesse ali. Mas um olhar pode dizer o que mil palavras não diriam.


"O nome dele é Benjamim Weber. O mesmo nome do meu filho que morreu."


Felicidade. Se houvesse uma palavra para descrever este momento, essa palavra seria felicidade. Depois do mundo cão. A glória havia retornado. O meu pai era outra pessoa dentro da mesma. Aquele homem deprimido deu lugar a um outro bem mais alegre. Um homem que nem eu cheguei a conhecer direito. Talvez fosse o homem que ele era antes da morte de minha mãe.


SádicoOnde histórias criam vida. Descubra agora