Capítulo I - e então eu perco a fala
Quando Severus abriu os olhos, ele viu o mais puro branco. Tão claro ao ponto de cegá-lo. Quando tentou se levantar, sentiu sua pressão cair. Foi o suficiente para fazê-lo deitar mais uma vez. Pelo que via, estava em um hospital. Os aparelhos médicos, as paredes exageradamente brancas e a roupa que usava denunciava isso.
Ele estava vivo, afinal.
Mas, como?
Automaticamente, Severus levou os dedos a garganta, ela doía e parecia muito seca, como se não bebesse uma única gota de água a mais de meses, lembrava-se bem da facada que sua mãe havia dado naquela região, quase conseguia sentir a faca cortando a carne, como se estivesse acontecendo agora. Sentiu uma vontade enorme de chorar, sua mãe havia tentado lhe matar.
Depois de tudo que fez, todas as vezes que a defendeu e todas as vezes que ele sacrificou seus momentos de felicidade apenas para não chateá-la, e ela ainda sim o chamava de ingrato e atentou contra a sua vida. Como ela pôde?
A tristeza e a mágoa transformaram-se em raiva e rancor, como ela pôde? Seus olhos, que antes carregaram lágrimas límpidas da mais pura melancolia, tornaram-se então em lágrima salgadas de ira. Como ela pôde?
Novamente, ele tentou se levantar, mas antes que sequer conseguisse forçar seu corpo a agir, a porta foi aberta sem pudor por um homem e uma mulher. Os dois pareciam bem surpresos ao ver o garoto Snape. Rapidamente, a mulher se aproximou. Seu olhos carregando uma repreensão velada.
- vejo que já acordou - o homem falou o óbvio, seu semblante calmo e um olhar triste.
- pobrezinho - Snape torceu o nariz ao ouví-la, não queria a pena de ninguém - deite-se querido, será melhor assim - sua mão deslizou pelo peito do garoto mais novo, e com delicadeza ela o "empurrou" bem fraco para que deitar-se enquanto ia conferir todos os aparelhos e agulhas que estava em Severus.
- eh garoto, realmente fizeram um estrago em você - o médico tornou a falar, portava um sorriso penoso e uma prancheta gasta, tinha vários papéis presos nela, o homem folheava-os com lentidão - costelas trincadas, cortes profundos por toda a extensão de seu peitoral, bracos e pernas, alguns bem maiores na garganta e nas costas, além de casos de ossos quebrados mal curados e, por fim, um caso gravíssimo de anemia severa, me surpreende que esteja vivo, garoto - ele continuava dizendo, rondado sua cama enquanto folheava a prancheta com avidez.
Severus abriu a boca e tentou dialogar com o, provável, doutor, mas tudo que saia de seus lábios eram barulhos baixíssimos que não se assemelhavam em nada com palavras.
- e tudo isso acarretou no que vou te dizer agora - seu olhar de tristeza e pena só intensificaram, fazendo a raiva do garoto crescer, ele não precisava da pena de absolutamente ninguém. A mulher lhe estendeu um grande copo da água que ele aceitou azedo, bebendo todo o conteúdo dele em goles dolorosos, queria para com a secura em sua garganta imediatamente.
O médico continuou o observando pesarosamente, como ele deveria falar tudo o que tinha de falar para aquele garoto sem ser muito maldoso? Ele suspirou e então tomou coragem.
- Severus - o mais velho chamou a atenção do garoto com seriedade - não há um jeito gentil de dizer isso mas, escute-me garoto, devido todo o seu quadro de saúde e o ataque que você sofreu, eu sinto muito, mas você nunca mais poderá falar ou usar sua voz novamente.
Seria melhor que ele tivesse lhe dado a porra de um gancho de direita, teria doído bem menos.
Severus olhou do doutor para a mulher que provavelmente era uma enfermeira, ambos olhavam-o com um misto de pena e pesar. Aquilo não era real.
Não podia ser real, não podia. Ele não podia perder a fala, não, não podia. Aquilo não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real, não era real. NÃO ERA REAL!
- Severus! - as mãos do médico agora estavam em seus ombros, segurando-o com força enquanto tentava trazer o garoto de volta a realidade. A enfermeira agora estava em um canto do quarto, de repente destruído, encolhida enquanto ligava para a recepção avisando que um paciente teve um acidente com magia - eu sei que é doloroso, garoto, mas você precisa se acalmar, ter uma explosão dessas só vai piorar seu estado! - ele gritava, suas mãos tinham subido e agora agarravam cada lado da cabeça de Severus.
O garoto se viu sem saída, perdido e sem saber o que fazer, ele apenas desabou em lágrimas, desesperado ele soluçava e se engasgava, fazendo barulhos estranhos que se assemelhava bastante a um choro.
O médico, sem saber o que fazer, apenas deslizou as mãos para as costas do garoto e o abraçou com certa estranheza e sem jeito, com cuidado para não afetar os curativos. Severus chorou como a porra de uma criança até sua cabeça doer e até cair no sono
884 palavras
Ficou um pouco curto, nem perto do tamanho que eu queria mas acho que transmiti o que eu queria dizer.
Espero que tenham gostado, obrigado por lerem♡
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Descida até o inferno
FanfictionOnde Severus morre, mas de algum jeito sobrevive. A imagem da capa não é minha, apenas peguei ela no Pinterest, créditos ao autor.