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Já perdi as contas de quantas garrafas tintilam na sacola.
E não sei quanto tempo o próximo ônibus demora a chegar.
Conto mentalmente quantas pessoas há na estação.
Faço rabiscos na caderneta velha que você me deu.
As folhas amareladas do tempo.
Mostrando como ele foi cruel com nós.
Consumindo tudo, roubando o que nos pertencia.
Abro uma das garrafas.
A cerveja barata me induz a escrever qualquer baboseira em uma das poucas folhas limpas que restam no caderno.
Independente de como o texto comece ou termine, você já sabe.
Este também é sobre você e sobre o estrago que causou.
Às vezes me pergunto se você pensa sobre mim.
Sobre nós.
Se guarda meus poemas como uma lembrança do que poderíamos ter sido.
Perco o ônibus.
O rumo.
O sentido.
Espero que valha a pena, mais uma perda só pra te dar mais um gostinho do meu sofrimento.
Da minha dor.
Então, se delicie nas minhas lamúrias inacabadas e tente ler isso antes que o seu cigarro apague.
Ou deixe queimar, você decide.

- não hesite em me chamar para dividir o próximo.

Para Ler Antes Que O Cigarro Apague Onde histórias criam vida. Descubra agora