DEATH BODIES [KimChay]

8. I can't

Kim

Eu não deveria ter falado sobre meu passado, eu nem deveria mais estar aqui. Ele já sofreu demais e agora eu estou o arrastando para a minha vida, para o perigo que eu carrego desde que nasci.

Eu não posso permitir que Porchay entre neste mundo, Porsche entrou e vejamos onde isso o levou. Não foi de estranhar que meu pai tivesse me vigiando a cada passo meu, então não foi de estranhar quando todos da familia principal descobriram que eu estava "passando um tempo" na casa de um garoto do primeiro ano da universidade de música. Estranho mesmo foi quando Kinn me ligou e me informou que esse garoto era irmão do seu falecido namorado, Porsche. Muita coincidência, uh? Eu me ofereci para pagar todo o funeral antes mesmo de saber, eu fiquei e cuidei deste garoto antes mesmo de saber toda a merda que ele poderia estar envolvido.

No fundo eu ainda tive um pouco de esperança que fosse apenas coincidência, que a máfia não estivesse envolvida com a morte de Porsche, mas foi inútil. Quanto mais Kinn investigava, mais macabro ficava toda esta história, a cada pista nova mais tinhamos certeza que a culpa foi da máfia, mesmo que Porsche nem mesmo fosse o alvo principal. O massacre foi todo armado com um objetivo, Porsche apenas foi um "bónus", Porsche apenas estava no lugar errado e na hora errada.

Todos chegaram a achar que eu, ou até mesmo Macau, pudéssemos ser os alvos, mas o atirador nem mesmo chegou perto do local onde Macau tinha aula e o meu nome foi descartado quando Arm conseguiu aceder ao computador do atirador e descobriu que as únicas pessoas sendo alvo de algo eram Porsche e Porchay, e assim chegamos a nossa conclusão.

Porsche apenas seria um bónus porque Porchay era o alvo principal, talvez para afetar Porsche.

Agora aqui estava eu, abraçando este garoto tão indefeso que já escapou a morte mais vezes do que poderia imaginar, por vezes apenas por se baixar para amarrar o cadarço ou por sempre estar correndo por estar atrasado para algo. Ele escapou a morte inúmeras vezes apenas por ser distraído.

Inúmeros guardas estão cercando a casa de Chay agora, não por ele ser da máfia, nem nada do tipo, mas sim pelo simples facto que eu ordenei que o mantivessem a salvo. Ele está dormindo tão suavemente em meus braços que nem imagina o perigo que está o rodeando. Seu rosto é feito de traços suaves e delicadas, seus olhos levemente inchados pela quantidade de vezes que ele vem chorando nos últimos dias, seus lábios, levemente grossos, agora estão entreabertos enquanto deixam o ar sair por entre eles.

Ele está tão relaxado e livre de qualquer dor que, se eu pudesse, deixava-o assim: livre do sofrimento que ele vem sentindo nos últimos, livre da dor e da tristeza de perder alguém que amamos.

Sou puxado de volta a realidade quando o corpo de Chay se aperta contra o meu, isso foi como um alarme em minha mente me alertando que ele estava tendo um pesadelo, novamente, igual vem acontecendo todas as noites. Já era automático para mim, eu parecia saber reagir perfeitamente a isto: apertar seu corpo contra mim, fazer um leve cafuné em seus cabelos e sussurrar tantas vezes as palavras "está tudo bem, eu estou aqui" até sentir seu corpo se acalmar novamente.

Parecia algo simples, mas era mais assustador do que todas as vezes que eu tive que enfrentar pessoas que tirariam minha vida sem pensar duas vezes. Aqueles pequenos momento em que era minha responsabilidade protegê-lo e afastar aquela dor, me deixavam mais apavorado do que qualquer missão que eu tivesse realizado em toda minha vida.

Não sei quanto tempo passou até eu sentir seu corpo se mexer novamente em meus braços, agora já sendo de manhã e eu nem mesmo me importei que deveria acordar mais cedo e fazer o café da manhã, hoje eu decidi que poderia simplesmente ficar ali e agarrar Chay até que ele acordasse.

Okay, talvez eu tenha me arrependido um pouco quando o garoto se virou de frente para mim e seu rosto ficou tão próximo ao meu que eu senti minha respiração falhar e meu coração acelerar tanto que eu tive certeza que precisaria consultar um médico mais tarde. Sua respiração relaxada me deu a certeza que Chay ainda estava dormindo, totalmente inconsciente de seus atos e eu não faria algo que pudesse me arrepender depois, não faria algo que pudesse me afastar dele e me impedir de protegê-lo.