5. you're just a boy

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Porchay

King e Kai me perguntaram, vagarosamente, como eu conhecia Kim, ou "WIK" como eles haviam dito, e eu apenas respondi que foi durante os acontecimentos do dia anterior. Eles não tocaram mais no assunto, talvez não quisessem me fazer lembrar de tudo, ou talvez eles ainda não estavam prontos para escutar tudo. O certo, é que eles pareciam mais aliviados em saber que eu não tive sozinho durante toda aquela catástrofe e chegaram até a me pedir o número de Kim para falarem quando eu não me sentisse bem; só ai me toquei que eu nem mesmo tipo o número da pessoa que teve comigo durante todas as horas que eu tive trancado dentro de uma sala tão pequena como aquele mini armazém.

Eram quase 20 horas quando a campainha tocou e Kai abriu o portão para Kim, que praticamente ignorou os meninos e veio correndo para saber como eu estava.

— P'Kim? - Kai chamou sua atenção, fazendo o mais velho desviar o olhar na sua direção ainda sem se afastar de mim. - Posso falar com você?

Kim o olhou durante longos segundos, talvez pensando em negar mas, quando ele sinalizou com a cabeça que eu era o assunto de conversa, Kim se afastou de mim, sussurrando um "já volto" e me lançando um sorriso.

—☆—

Kim

King ficou com Porchay enquanto que eu caminhei com Kai para o lado exterior da casa, para que o garoto não escutasse a conversa.

— Porchay me contou que você estava com ele quando... - ele começou a fala com bastante convicção, mas essa convicção desapareceu assim que ele precisou falar sobre o irmão mais velho de Porchay. - Quando aconteceu.

- O cara ia atirar nele, eu fiz o que qualquer pessoa faria. - era mentira, e eu sabia isso. Ninguém iria arriscar sua vida por um estranho, não naquela situação. - Fiquei com ele porque Chay quase não se aguentava em pé depois que viu o corpo do irmão.

Nesse momento eu vi os olhos do garoto se encherem de lágrimas e eu calculei que ele também estivesse sofrendo. Pelo que eu vi de Chay em todas estas horas, ele não parece o tipo de pessoa extrovertida, então deve conhecer os dois mais velhos a algum tempo, consequentemente, os dois deveriam conhecer Porsche também.

— Eu queria te agradecer. - ele falou por fim depois que piscou algumas vezes, impedindo as lágrimas de cair. - Porchay não pode ficar sozinho, não ainda. Eu posso levar ele para minha casa, se você não puder ou quiser ficar com ele, mas... Se estiver pensando em continuar perto de Porchay, eu preciso lhe pedir que me dê seu número pois sei que ele não irá atender ligações durante várias dias.

Simples e direto, sua fala foi completamente assim. Eu nem sabia o porquê, mas não conseguia pensar em deixar Chay sozinho e simplesmente fingir que nada aconteceu durante as últimas horas, fingir que não tive que impedir que seu corpo estivesse preenchido por queimaduras porque, por algum motivo, ele não está sentindo dor física. Eu não podia deixá-lo.

— Eu vou ficar com Chay, não irei sair daqui, ficarei o tempo necessário. - rapidamente peguei meu celular e lhe entreguei, indicando que o mesmo marcasse seu número. Eu o salvei e tratei de enviar uma mensagem para que o mesmo tivesse também meu número.

Logo entramos novamente na residência vendo Chay completamente quieto no sofá, sem expressão e com o olhar preso em algum ponto aleatório da parede e King, tentando falar com ele ou animá-lo. Chay simplesmente não reagia.

Por algum motivo eu me identificava com ele.

Eu olhava para ele e via eu mesmo, alguns anos atrás: um garoto que tentava se esconder do mundo depois que perdeu a mãe, tentando fazer a dor sumir.

Olhando para Porchay eu me via e isso era horrível.

—☆—

Porchay

Kai saiu para fora juntamente com Kim e eu deveria estar curioso para saber o que eles estavam falando, ainda mais sabendo que eu era o motivo daquela conversa mas, por algum motivo, eu não conseguia sentir nada, nem mesmo se tentasse. Eu poderia dizer que isso estava me matando, mas como algo que não existe pode nos matar?

Os dois voltaram depois de apenas alguns curtos minutos e logo Kai tocou o ombro de King que, até ao momento, tentava falar comigo mesmo não obtendo nenhum tipo de resposta.

— Nós já vamos, Porchay. - King começou, se aproximando de mim - Kim vai ficar com você, sim? - não sei se ele esperava alguma resposta, mas eu não respondi - A gente vai vir aqui sempre que conseguir, e iremos te ajudar... Com o funeral. - agora eu sabia que deveria responder.

— Não tem como. - falei por fim, atraindo três olhares confusos, acho que eles achavam que eu estava em negação. - Eu não tenho dinheiro para pagar um funeral.

Vi quando Kai iria falar antes de ser interrompido por Kim que era quem estava mais perto de mim, bem do meu lado.

— Eu pago. - sua fala me deixou, no mínimo, surpreendido ou chocado. Eu ia negar o seu "pedido" mas ele novamente foi mais rápido em falar. - Eu pago todas as despesas necessárias e não vale a pena negar.

Eu apenas baixei minha cabeça não precisando dizer nada para Kim entender que eu não iria argumentar. Logo Kai e King se despediram de mim, ambos com um beijo no topo da minha cabeça, como sempre acontecia, logo sendo acompanhados por Kim até o portão para que o mais velho pudesse logo trancar o objeto de metal. Eu agradeci mentalmente por isso, me sentia mais seguro mesmo sabendo que seria impossível que o responsável pela morte de Porsche entrasse por aqui atirando para todo lado igual fez na universidade.

—☆—

Agora estavamos sentados na mesa de jantar, Kim havia feito o jantar e agora estava sentado de frente para mim com a mesa nos separando. Já estavamos ali a alguns minutos e nenhuma palavra foi dita durante esse tempo, mas eu podia sentir o mais velho me olhando várias vezes.

— Você, King e Kai parecem bastante amigos. - sua fala saiu em um tom baixo, talvez tentando me fazer falar um pouco.

— Somos amigos desde que nascemos, praticamente. - quando subi meu olhar até seu rosto consegui ver um olhar curioso vindo de Kim e, estranhamente, isso me deu vontade de falar com ele, realmente falar. - Nossas mães eram bastante amigas também. - comecei calmamente, pudendo agora ver sua expressão mudar para espanto, mas apenas continuei - Eles são um ano mais velhos do que eu, e tem um relacionamento meio complicado, ou uma espécie de namoro. - dei de ombros, não focando muito nesse detalhe - Nossas mães trabalhavam juntas e eram vizinhas. Quando meus pais tiveram o acidente, os pais de Kai me ajudaram bastante mais, por terem mais dinheiro, mas a senhora e o senhor Sanguandikun me ajudaram com o que podiam.

Ele ficou me olhando durante alguns breves segundos, em silêncio, e eu juro que pude ver um brilho diferente em seus olhos, mas vou acreditar que estou apenas ficando louco.

— Eles são meus únicos amigos. - ditei novamente, e calculei que ele já saberia que eu era levemente introvertido. - Kai passou por bastante coisa durante os últimos anos, então ele tem um jeito mais... quieto. Ele namorou um garoto durante dois anos, mas o garoto tinha câncer e acabou morrendo no ano passado. - Kim me olhava atentamente, como se eu fosse a pessoa mais interessante do mundo - King tem um jeito mais descontraído, o oposto de Kai. King adora sair para festas, beber e dançar, mas nunca saí sem Kai. - não apercebi quando já havia comido bastante parte da comida apenas por estar distraído falando - Eu sou meio que uma linha entre os dois. Sou descontraído, mas não chego nos pés de King, e sou quieto, mas nada que poderia ser comparado a Kai. Eu sou apenas eu.

— Você é apenas um garoto. - a sua fala foi inesperada e eu nem sabia o significado daquelas palavras que, sem motivo aparente, fizeram algum sentimento desconhecido ou esquecido fazer uma pequena, quase nula, faísca se acender em mim.

DEATH BODIES [KimChay]Onde histórias criam vida. Descubra agora