4. just a nightmare

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Porchay

Suor. Suor era o que cobria cada centímetro de meu corpo, minha respiração acelerada era escutada em todo o cómodo, meu peito subia e descia de um jeito descompensado, lágrimas faziam caminhos desde meus olhos até meu pescoço, um filme passava em minha mente, um pesadelo. Foi tudo um pesadelo? Porsche estava vivo? Mas... Parecia tão real. Os tiros, o pânico, o sangue, o seu corpo sem vida, totalmente gélido e branco.

Olhei para o lado onde Kim deveria estar, mas... Ele não estava lá. Então foi um pesadelo mesmo, se Kim não estava ali é porque foi tudo um pesadelo, tudo uma criação da minha mente.

Em questão de segundos eu me levantei da cama, alguns raios solares ultrapassavam as janelas, ainda era de manhã. Eu precisava correr para meu irmão e abraça-lo como nunca o havia feito antes, eu precisava ter certeza que era um pesadelo. Ele estaria dormindo ou preparando algo para o café da manhã, meu primeiro palpite seria que ele estaria dormindo, então corri para seu quarto, sem me importar de quase cair ao subir as escadas.

— Porsche?! - abri a porta de madeira com tanta força que poderia chegar a quebra-la, mas meu irmão não estava lá. A pouca esperança que me restava começou a desaparecer diante meus olhos, mas então... Um barulho, quase inaudível, mas que eu sabia que foi feito na cozinha.

Minhas pernas se moveram com velocidade, como se minha vida dependesse disso, na verdade a vida de meu irmão dependia disso, a vida de Porsche dependia de um pesadelo ou uma realidade cruel e dolorosa.

De costas para mim, cozinhando algo que eu não me preocupei em descobrir o que seria, lá estava ele.

Não era Porsche, era Kim, no conjunto de moletom marron que eu havia lhe dado no dia anterior, os cabelos levemente presos em um rabo alto, mesmo que várias fios caissem na altura da nuca e sua 'franja' estivesse caindo sob seu rosto.

Não foi um pesadelo, Porchay. Foi a pior realidade que poderiamos imaginar.

— Não foi um pesadelo. - minha voz saiu quase como um sussurro e, só ai, Kim percebeu a minha presença no cómodo, se virando para mim. Ele manteve o olhar em mim por longos segundos, e eu não sabia se por eu estar melhor do que no dia anterior, ou se eu continuava com aquele aspecto horrível.

— Eu fiz o café da manhã, Chay... - ele se aproximou de mim cuidadosamente, indicando que eu me sentasse em uma das cadeiras que ficava em volta da mesa, eu apenas obdeci calado.

Ele deixou um prato com comida na minha frente, um pouco de arroz e um ovo que tinha uma carinha feita com ketchup. Um sussurro saiu de seus lábios ao perceber que eu olhava a comida "Eu fiz um rosto nela"

— Eu não estou com fome... - parecia até um crime estar negando a comida de alguém que estava me ajudando por vontade própria. Ele não precisava estar ali, ele não tinha a obrigação... Mas ele ficou, mesmo a gente se conhecendo a menos de 24 horas.

— Precisa ter forças para sentir saudade... Acredite em mim. - sua voz agora era um pouco mais alta e firme, ainda mantendo o tom suave que Kim sempre usava comigo, mesmo eu não sabendo o porquê.

Ele estava certo... Porsche não iria querer que eu ficasse assim, ele não iria querer que eu me deixasse levar pela dor ou pela tristeza. Minha destra se ergueu, vacilante, até pegar um garfo que foi deixado próximo ao prato. Peguei um pedaço de arroz com o talher e levei até minha boca logo sentindo um enjoo me consumir e me dar vontade de deitar aquela comida fora. Mas eu me esforcei, me esforcei para comer aquele pedaço de comida que parecia como uma pequena batalha para meu organismo.

Já havia se passado quase uma hora e, ironicamente, eu ainda continuava em frente ao prato de comida que estava apenas na metade. Kim já havia terminado de comer e me perguntou se poderia subir para tratar das suas higienes diárias, pareceu até estúpido, quando eu precisei segurar o choro, pelo simples facto de lhe explicar que tinha uma escova de dentes, que eu poderia usar, no banheiro de Porsche.

Agora eu lutava com meu estômago para terminar de comer quando escutei Kim descer as escadas e caminhar em direção à cozinha.

— Chay? - escutei sua voz me chamar e logo agastei meu olhar na sua direção, vendo-o pousar meu celular sob a mesa. - Seu celular estava tocando.

Não disse nada, apenas segui meu olhar até o aparelho eléctrico e vi o nome de Kai aparecendo na tela, provavelmente ele e King viram a notícia na TV e ficaram preocupados. Pensei por breves segundos antes de pegar o objeto, atender a ligação e aproximar o celular de meu ouvido.

Oi...

Porchay? Você está bem?! - era King falando, ou seja, eles estavam juntos. - Vimos a notícia e você não falou nada. Tentamos te ligar e até ligamos para Porsche, mas vocês não atendiam!

Senti meus olhos se encherem de lágrimas e minha visão ficar turva ao escutar o nome de meu irmão. Ergui minha mão livre até meus lábios, tentando conter meu choro, mas foi impossivél.

O Porsche... Ele... - porque eu não conseguia simplesmente dizer a palavra? Porque pareciam tão difícil de falar em voz alta, além de meus próprios pensamentos?

Meus amigos logo entenderam o motivo de meu choro, apenas os escutei avisando que estavam vindo para minha casa, antes de algum deles encerrar a ligação. Eu precisei respirar fundo inúmeras vezes para não voltar a chorar em frente a Kim, parecia até irónico eu me preocupar com isso depois de chorar tantas vezes.

Kim se abaixou do meu lado, sem falar nada. Apenas pegou minha mão entre as suas e fez um breve carinho com o polegar enquanto que seus olhos se mantiveram em meu rosto. Esses pequenos acontecimentos foram o suficiente para me fazer chorar de novo, me fazer desmoronar como se estivessem arrancando meu coração de dentro do meu peito.

Kim se manteve ao meu lado, sem dizer uma única palavra, por longos 25 minutos, até escutarmos o som da campainha nos avisando que Kai e King haviam chegado. Kim me avisou que iria abrir a porta para eles e eu apenas acenei positivamente logo usando minhas mãos para limpar os requisitos de lágrimas que ainda escorriam por meu rosto.

Passos apressados se aproximaram, mas pararam a alguns metros de distância, eu não precisei olhar para saber que meus amigos estavam me encarando, e não precisei olhar para saber que seus olhares estavam inundados de pena, pena de mim. Eu estaria assim tão horrível ao ponto de meus próprios amigos se surpreenderem?

— Eu não mordo, sabe... - minha voz saiu levemente mais grossa que o normal, talvez por já estar me irritando com aquela distância que os dois mantinham de mim, até ignorando quando Kim passou por eles e voltou a ficar do meu lado.

Os dois caminharam em passos curtos até mim, como se tivessem medo que, com um simples passo em falso, eu pudesse quebrar como um cristal que fôra deixado cair no chão. Kim voltou a se abaixar do meu lado, segurando novamente minha mão e, inconscientemente, eu apertei meus dedos em volta dos seus, pudendo senti-lo estremecer levemente perante meu toque.

— Chay... - Sua voz me chamou baixo, talvez se apercebendo que Kai e King poderiam demorar para finalmente dizer algo. Eu virei meu rosto para ele, vendo-o me encarar como se tentasse procurar palavras para falar. - Eu não queria te deixar sozinho, mas seus amigos estão aqui... Eu preciso ir embora agora, Chay, mas eu irei voltar daqui algumas horas.

— Tudo bem. - acenei positivamente com a cabeça antes de continuar a falar. - Não se preocupe comigo.

Não demorou até Kim deixar a minha residência, se certificando várias vezes se eu estava bem, perguntando se eu não queria que ele ficasse. Eu apenas lhe respondia que eu ficaria bem.

O resto do dia passou torturantemente devagar. Kai e King se esforçavam para me alegrar ou pelo menos para impedir que eu chorasse e eu podia ver quando algum deles precisava se afastar para não acabar chorando na minha frente. Ambos os meus amigos conheciam Porsche desde que eramos bem pequenos, então, eu sabia que também estava sendo difícil para eles, mesmo que os dois se esforçassem para não mostrar isso na minha frente.

DEATH BODIES [KimChay]Onde histórias criam vida. Descubra agora