Prólogo.

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        Prólogo.
          Por Harry Styles.


       "Mãos entrelaçadas.
          Sorrisos condizentes.
          O apego é um solstício
         de um verão resplandecente."

Negar para fugir da realidade é um dos mecanismos de defesa do ego. Ou seja, o indivíduo costuma rejeitar uma situação real, para fugir do desagradável momento vivido. Ao se deparar com a realidade crua e dura, nós fazemos o uso da negação para evitar o sofrimento e nos iludimos com falsas verdades.

A primeira reação pode ser negar a doença. Não acreditar na gravidade. Geralmente, os compulsivos, não admitem o vício de comida, sexo ou qualquer outro tipo de compulsão. Afinal, largar um vício é doloroso. Machuca. Machuca muito. Pessoas mentem para enganar a si mesmas, não estão acostumadas a conviver com a frustração.

O ato de negar está nos nossos dias.

Mas, só nos cabe até quando. O tempo é o único a nos dizer.

O tempo é a demonstração de amor mais intensa que poderia existir. Uma demonstração de amor a si mesmo, ou ao próximo. O tempo é a forma mais genuína e gratificante existente. Porque, o tempo, doamos para o outro. As horas, os únicos momentos.

O tempo é algo que não podemos ter de volta. O tempo perdido é irrecuperável.

A perca de tempo é a coisa mais devastadora existente, porque é a única coisa que não se pode ter novamente.

É algo que não recuperamos.

A negação está ligada ao tempo. Ao tempo perdido, ao irrecuperável.

Após passar longos minutos tendo alguns devaneios que não farei questão alguma de os colocar em prática — não mesmo —, vejo que ainda tenho um dia todo pela frente.

Sinto minha cabeça latejar assim que abro meus olhos. Noto uma pequena claridade entrando pelas brechas da cortina e me bato mentalmente por não tê-la fechado corretamente noite passada. Me espreguiço lentamente, me sentando na cama e encarando um ponto fixo no meio do quarto. Sinto que minha alma saiu do corpo e ainda não voltou.

Estou cansado. Estou cansado de todas as formas humanamente possíveis e impossíveis.

Hoje o dia seria longo. Cansativo. O mesmo de todos os dias. Trabalho em um dos inúmeros hospitais de Londres, St. Mary. Sou enfermeiro chefe, isso me alivia um pouco. Se eu quisesse, poderia ficar com a bunda sentada no escritório o dia todo enquanto vejo toda aquela gente e aqueles malditos internos que só servem para atrapalharem a minha vida trabalharem. Eu continuaria com o meu salário.

Mas como Deus me fez com uma alma tão boa, não sirvo para esse tipo de coisa. Eu só queria ser um pouco filho da puta. Mais do que eu já sou.

Desfaço dos meus inúmeros pensamentos matinais e vou para o banho. Demoro cinco minutos debaixo do chuveiro, enquanto canto uma canção qualquer de Taylor Swift.

Seco meus cabelos com a toalha, o jogando de um lado para o outro. Me olho no espelho, notando no quanto eu engordei nas últimas semanas. Preciso urgente fechar a minha boca. Tenho consultado um especialista no meu caso, já que não se trata de uma simples impressão. Devon é maravilhoso. Além de ser meu médico, ele é um grande amigo.

No entanto, escuto um barulho vindo da sala do meu apartamento. Franzi o cenho, indo até o cômodo ainda de toalha, para avistar o causador do meu susto. Ou melhor, a causadora.

— Oi, filha. Você me assustou. — Acariciei a enorme labradora de pelagem preta. Augustine.

Augustine tem sido minha única companhia nos últimos dez anos. Minha fiel companheira.

Retorno ao quarto, com August em meu encalço, para me arrumar. Separo tudo o que é preciso e me apresso para sair. O relógio marca seis e meia da manhã, estou atrasado. Eu admiro a minha incrível habilidade de me atrasar mesmo acordando antes do horário.

Bufo frustrado, enchendo o potinho de August de ração e água. Antes de sair, mando uma mensagem para Nati, minha vizinha, avisando o horário que retornarei. Nati tem cuidado da minha filha desde sempre. Deixo tudo o que é preciso em seu alcance.

Por todo caminho, até chegar ao hospital, penso em Louis. Penso na forma que ele me teve. Na forma que eu deixei ele entrar na minha vida. Ele foi como uma rajada de vento inesperada.

Daquelas fortes, que pretendem arrancar o telhado do nosso lar. Apesar de eu tentar fechar as janelas, de pouquinho em pouquinho, ele conseguiu entrar e bagunçar tudo aqui dentro.

Tudo que eu demorei tanto para consertar.

Negação [L.H]Onde histórias criam vida. Descubra agora