2 - Ética

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Soraya olhava toda aquela cidade admirada, tão agitada mas ao mesmo tempo tão segura e em paz, totalmente diferente de Brasília.
Enquanto seu táxi lhe guiava até seu apartamento no sul de Lisboa, a loira pensava em todas as possibilidades, de fazer novos amigos, descobrir um novo estilo de vida, todas as possíveis coisas passavam em sua cabeça...talvez nem todas.

Ao chegar a jovem observou a estrutura do prédio aparentemente de uns 20 anos atrás, para Lisboa era consideravelmente novo perto das outras contruções centenárias. Com a ajuda do taxista, tirou suas malas do carro.

— Obrigada, moço. — agradeceu ajeitando as malas na calçada. — Já lhe fiz a transferência com o valor da corrida.

— Obrigada, minha jovem. — o senhor já de idade olhou seu aparelho com certa dificuldade. — Boa sorte na sua nova vida. — disse gentil.

Soraya sorriu se despedindo do homem, logo entrando no prédio.

Ao entrar na sua nova casa, deixou as malas no canto da sala de estar. O espaço não era grande como era acostumada na casa do pai, mas como estaria sozinha, era o suficiente. A cozinha como de qualquer outro apartamento, pequena mas funcional, seu quarto a mesma coisa.

Soraya não perdeu tempo em se ajeitar no sofá, pelo seu notebook, queria ver logo as disciplinas e seus respectivos professores já que havia lido sobre alguns deles, mas a lista havia mudado há algumas horas.

Ciência Política, introdução ao Direito, português Jurídico, Direito Romano, Direito Civil, Direito Constitucional,Direito Internacional Público, Ética do Profissional Jurídico e Direito administrativo era alguma das matérias que Soraya mais teria aulas nos seus últimos dois semestres, excelentes professores e doutores, estava extremamente ansiosa para o dia seguinte.
Logo se ajeitou para dormir, amanhã seria longo e cheio de coisas novas. 

Assim que Simone chegou na faculdade, alunos e mais alunos a cumprimentava. Professora Tebet era a queridinha, todos amavam suas aulas, a dinâmica em que a mesma usava ganhava a atenção e o carinho dos universitários.

— Prof, que saudade! — Nikolas chega euforico. — Bicha, achei que tinha pedido demissão. — se aproximou da morena.

— De maneira nenhuma. — Simone riu com o carinho do aluno. — Alguns problemas pessoais.

— Que frase careta, prof. — revirou os olhos.  — Vem, vou te ajudar com os materiais. — Nikolas pegou alguns livros junto a bolsa da morena, caminhando até a sala que daria a próxima aula.

— Obrigada, querido. — agradeceu. — Agora vai, você deve estar em aula agora.

— Estou, mas a Lúcia é um pé no saco.

— Nikolas! — repreendeu. — Não fala assim de uma professora, me sinto até ofendida.

O garoto bufou.

— Você voltou mais chata do que nunca, nossa. — cruzando os braços.

Simone olhou no seu relógio de braço, vendo que faltava apenas cinco minutos para sua aula começar.

— Vamos, pra aula já. — disse rígida com o garoto. — Vamos, vamos, vamos. — expulsando o loiro de sua sala

— Nos vemos, bicha. — disse enquanto saia da sala de Simone.

O jeito estravagante de Nikolas era algo que Simone achava graça, o menino sempre foi autêntico, nunca fez questão de esconder sua sexualidade, muito menos para agradar os outros.

— Não pode ser, Soraya! — brigava consigo mesma. — Logo no primeiro dia.

Podia até mudar de cidade ou de pais, mas o charme de Soraya era seus atrasos com frequência. A jovem fazia de tudo para manter o horário mas nada dava jeito.

Soraya andava apressada pelos corredores da faculdade, deixaria para conhecer a nova universidade para outra hora. Quando viu sua sala no fim do corredor agradeceu aos céus, entrando sem nem se quer bater.

Simone já havia começado com sua aula, quando o barulho da porta abrindo e a mulher entrando tiraram sua atenção.
A olhou com repreensão.

— Está atrasada,senhorita. — disse cruzando os braços, segurando uma caneta em mãos.

Soraya se sentou ofegante, logo as 8h da manhã teria que lidar com a implicância da professora de direito administrativo.

— Perdão, professora. — finalmente olhando para a figura a frente. — Mas que eu saiba não é obrigatório a entrada no exato momento em que a aula começa.

— Questão de ética, senhorita. — firmando o tom de voz, quem essa garota achava que era? De qualquer forma não era jeito de falar com a autoridade máxima da sala.

— Questão de ponto de vista, professora. — Ótimo, Soraya e sua mania de não abaixar a cabeça pra ninguém, estava arrumando intriga em dia primeira aula, com a primeira professora, seria muita pretensão dizer que chegou causando.

Simone percebeu os bochichos entre os alunos diante da pequena troca de farpas.

— Shi...Silêncio. — repreendeu a sala. — No final da aula quero ter uma conversa com você, senhorita.

Soraya apenas abriu seu notebook enfiando o rosto atrás dele, impedindo de manter contato visual com o par de olhos negros.


Fogo no fogo - Simone e Soraya Onde histórias criam vida. Descubra agora