ACORDO INESPERADO - SÉRIE DESTINOS - LIVRO 2

CAPÍTULO 1

Minhas mãos afundam na areia fofa da praia, como se fosse possível firmar-me em seus grãos diante da ventania que sopra trazendo, mais uma vez, uma tempestade de verão em Los Angeles. Agarro minha prancha e corro para o carro, colocando-a no interior com cuidado, para voltar para casa. Cuidado que vem tarde demais, quando percebo que alguém esbarrou na minha vaga e quebrou o meu farol.

Perfeito!

Huntington Beach é a melhor praia para surf, mas é um pouco distante do apartamento em que resido em Santa Mônica Beach. Esses pequenos deslocamentos são possíveis em raríssimos fins de semana e, por sorte, pude me oferecer esse de presente antes de entrar no espiral insano de contratos com Dominic.

Meu melhor amigo e CEO da Fuchs Enterprises precisa ingressar no mercado bilionário da Fórmula 1 e os contratos que estamos tentando obter são essenciais para isso. Eu gosto do frenesi que isso implica, mas nunca imaginei me encontrar em um desafio tão bizarro. Tudo bem, eu sou o criador desse Frankstein, pai único e absoluto.

Para obter um contrato bilionário e me pagar honorários bem ricos, Dom precisa ser um homem sério, comprometido com a família e... bem, quase digno de entrar para a política. Tudo o que ele é incapaz de ser, então, meio que decidimos alugar uma noiva.

Ele, uma mulher que não precisará se casar e fim. Apenas mais um sucesso na minha lista invicta de desafios que venci. Ele só precisa manter a noiva do lado dele, mas qual é: ele é um CEO rico de danar e ela precisa da grana. Isso não deve ser difícil. Não é como se os problemas, que com cuidado evitamos, fossem se materializar diante do nosso caminho por acaso...

— Puta merda! – Freio bruscamente o carro, ouvindo o som agudo do atrito do pneu com o asfalto fazendo a criatura louca na minha frente virar quase uma estátua. Noto que é uma mulher, mas o breu que recai sobre nós na estrada me impede de ver muito além da sua silhueta. Buzino freneticamente para fazê-la sair da estrada, quando parece cair em si, voltando para o local de pedestres. — Sai da estrada!
— Vete a la mierda!  Está cego?! — Vejo-a erguer a mão com o dedo do meio esticado, virando as costas e seguindo o seu rumo, em direção à Rodovia 60.
— Cego?! Essa é a estrada sua maluca!
— E esse é o seu farol apagado, barbeiro! — A silhueta grosseirona sai da estrada e faz uma mesura como se abrisse caminho para a realeza, mas o dedo segue em riste.

Acelero, ignorando a interrupção no meu caminho e sigo em alta velocidade, ansioso pelo meu canto, com cerveja e um bom hambúrguer.

[...]

A segunda-feira é frenética e, entre reuniões, minutas e esquemas de contratação de noivas com Dominic, consigo chegar em casa, mas apenas o pó, porque o resto de mim ficou em algum lugar da empresa. Jogo-me ainda vestido no meu sofá, e encaro a televisão imensa desligada. Ao seu lado, em uma decoração arquitetada pela intrometida senhora Monroe, se encontra ele: o totem.

Por um segundo eu o culpo pelo meu cansaço. Se eu fosse médico, herdeiro e filantropo estaria dormindo agora. Ou em Ibiza. Certamente, em busca da onda perfeita em algum lugar do globo. Mas, cá estou, e se me perguntarem, nego até a morte que a minha fuga do destino dos Monroe foi um totem vermelho que decora a minha sala. Aquela pedra vermelha de pescador me levou na contramão da minha existência, quando decidi que seria qualquer coisa que não fosse médico. Nada de curandeiro.

Foi no direito, como advogado, que encontrei minha caixa de pandora. Tornei-me acelerado, sem hora para dormir, com hora para despertar. Meu trabalho se resume a desfazer nós impossíveis e solucionar o insolucionável. Dar a voz.

Mas, os nós são mais frequentes do que eu sou capaz de lidar e sinto que, minha próxima noite de sono adequada, com oito horas em posição horizontal sem que o mundo esteja desabando, provavelmente será no dia em que eu morrer. Como prova disso, meu celular me desperta de um cochilo no meio da madrugada, com Dom pedindo para lidar com um possível estuprador. Dominic Fuchs, tem um talento nato de meter os pés pelas mãos e me chamar para limpar a bagunça.