Quantos corações quebrados há no inferno?

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Alerta de gatilho, contém relatos de abuso e estupro.

what is the price
of all your sins?

Angel estava em choque.

Imóvel, seu olhar focado num ponto aleatório do quarto enquanto ele estava sentado em um canto abraçando o próprio corpo, tudo ao seu redor estava escuro e em um silêncio ensurdecedor.
Ainda não conseguia sentir a dor de todos os hematomas espalhados pelo seu corpo, era como se nada daquilo fosse real. E ele se perguntava repetidas vezes na própria mente.

"Como ele pode fazer isso comigo?"

Parecia uma grande brincadeira, era impossível, e ainda assim ali estava. Em um limbo entre o que era real e o que não era, ainda sem conseguir encarar a realidade que estava duramente a sua frente.

Sentia como se seu corpo tivesse sido rasgado ao meio, não conseguia se mexer porque machucava, então pareceu mais fácil ficar ali, no chão, esperando. E ele nem sabia ao certo o que estava esperando, talvez que qualquer coisa acontecesse para lhe tirar desse transe. Que alguém o salvasse. Mas ele estava sozinho.

Foi quando sentiu as lágrimas quentes molhando seu rosto e caindo sob seu corpo, foi ali que ele descobriu que o gosto da violência, era salgado e tinha um cheiro doce. O cheiro de Valentino.

Se perguntava como alguém que dizia que o amava, poderia ter o machucado dessa maneira, e então se pegou questionando se talvez o amor fosse assim.

Quando ele se levantou, sentiu uma pontada de dor o preenchendo por inteiro, sentiu cada pedacinho do próprio corpo queimando, o estômago embrulhando e cada músculo se retraindo e se contorcendo dentro de si, repleto de marcas que ele sentiria por muito tempo, cambaleou pela parede tentando respirar e recobrar o equilíbrio, sentia que ia desmaiar. Continuou ali por mais alguns segundos até conseguir andar, e então foi em direção ao banheiro.

A imagem que viu refletida de si mesmo pelo espelho era deplorável.
Seguindo a linha da clavícula e por toda a extenção do pescoço estava repleto de marcas roxas que manchavam a palidez do branco neve dos seus pelos.
Essas marcas se espalhavam também pelo seu abdômen e por entre as pernas. Os pulsos estavam quase em carne viva por conta das algemas, que agora estavam jogadas no chão do quarto em algum lugar.
Ainda tinha sangue saindo dos seus lábios, e seu rosto estava cheio de maquiagem borrada, o preto escorrido e marcado lhe dando um aspecto fantasmagórico.

Então ali estava o vislumbre do seu futuro.

Sua mente começou a divagar em pensamentos tortuosos, podia sentir o gosto nojento na sua garganta, da sensação das mãos alheias pelo seu corpo, do som dos próprios gritos e da voz daquele que se aproveitava de si.
Seu corpo, seu espírito, já não eram mais seus, tinham sido completamente violados, tinha se perdido nas mãos de um outro alguém, perverso e cruel.

Queria vomitar, sentia repulsa de si mesmo.

Então ele caminhou a passos lentos até a banheira limpando as lágrimas que insistiam em cair, e ligou a torneira que jorrava água fria, se sentou ali focando na sensação gélida que aliviava a dor que se estendia por todo o seu corpo, onde ficou pelas próximas horas.

Ele se sentia desesperançoso, não havia um deus para o qual pudesse clamar, não havia alguém que fosse estar ao seu lado, não havia um vislumbre de que as coisas fossem melhorar, não havia um futuro com o qual pudesse sonhar, e não havia a morte para qual pudesse se entregar.
Naquele momento Angel percebeu que só lhe restava o sofrimento e a dor, e ele se sentiu idiota por acreditar que existia amor no inferno, e por acreditar que Valentino o amasse.

Não sabia o que iria fazer, não tinha forças pra pensar em formas de escapar, mas ele não tinha escolha a não ser fugir. E era o que ia fazer, ia fugir.

Naquela noite, acompanhado apenas das lágrimas que se misturavam com a água suja de sangue da banheira, Angel Dust começou a transformar toda a dor e medo que sentia, em raiva, porque raiva era uma ferramenta muito mais motivante, e o gosto da vingança era atrativo de mais, era o caminho mais fácil, e talvez o único que o demônio conseguia enxergar naquele momento.

Afinal o que mais poderia fazer?

Ele podia ter sido alguém ruim em vida, causado dor e sofrimento a mais pessoas do que conseguia contar nos dedos, e por isso estava onde estava.
Mas mesmo no inferno, mesmo sabendo de tudo aquilo que sabia, ainda não tinha respostas, ainda não entendia o sentido de todo seu sofrimento, afinal, ele não sabia se ele mesmo tinha causado tudo aquilo, ou se era algo injusto, como uma sátira do universo.
Fosse como fosse, não havia uma escapatória, e talvez esse fosse o preço de todos os seus pecados.

Eu não sabia muito bem como começar essa história, e foi o que saiu, sla me falem o que vocês acharam, eu nem sei o que esperar disso aqui mas vamos ver no que dá né.

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