Qual o gosto dos seus sentimentos?

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I can't feel anything
Does that make me a monster?

Alastor sabia que havia algo de errado consigo desde que era uma criança.
Ele nunca foi capaz de compreender os sentimentos humanos.

Costumava se questionar como era sentir.

O medo, o amor, o luto.

Se questionava porque tantas pessoas choraram no funeral de sua mãe.
Ouvia os cochichos
"O pai matou a mãe na frente dele"
"39 facadas, mal posso acreditar"
"Céus não consigo imaginar o que ele está sentindo"

Mas nunca conseguia entender porque todos olhavam pra ele com tanta súplica, porque lhe diziam o quanto sentiam muito.
Não conseguia entender todas as lágrimas.

Ele tentou, ele estudou os sentimentos, leu sobre eles, buscou compreender os livros de psicologia nos quais se afundou por anos.

Mas estudar sobre eles, e vivencia-los, eram duas coisas completamente diferentes.
Ele podia saber como as pessoas os descreviam, podia saber fingir, mas a verdade era que ele não tinha uma conexão real com os outros a sua volta, nem consigo mesmo.

A única coisa que se fazia presente na sua cabeça, eram desejos doentios e perversos, dos quais ele tentou fugir de forma quase poética, mesmo estando fadado a fracassar e a se render a eles.

Alastor se torturava com as fantasias da sua própria mente, com o quanto ele adorou ouvir as súplicas de desespero da sua mãe, ou o sangue que manchou seus sapatos quando seu pai, com aquele olhar recaidiço, começou a afundar a lâmina afiada da faca de carne na garganta dela.

E então ele não se sentia mais humano.
E talvez de fato, não fosse.
Talvez as manchetes sobre os assassinatos desumanos e monstruosos que apareceram nos jornais tivessem razão.
Ele era um monstro.

Mas quando Alastor buscou sentir, da sua forma doentia e pervertida, se tornando um assassino sádico, como isso poderia ser considerado menos humano? O seu desejo de sentir algo, como qualquer outro.

A verdade é que não importava o quanto ele quisesse, ou o que ele fizesse, nunca iria conseguir compreender porque era da forma que era.

Então porque deveria tentar?

E em uma noite nublada, quando ele estava no chão, coberto do próprio sangue, com o seu coração batendo cada vez mais devagar, ele sentiu como se a morte fosse irrelevante.
Fechou os olhos e deu o que achou que seria seu último suspiro, acompanhado apenas do som abafado das sirenes da polícia, o cheiro metálico de sangue, e a única coisa que ele pode sentir em toda a sua vida, a dor física, da qual ele aprendeu a gostar no fim.
Nenhuma gota de culpa o preenchendo, apenas um vazio grande de mais.

Até que, indo contra tudo que ele acreditava, Alastor abriu seus olhos novamente, acordando em um lugar onde o céu era rubro e o ar era denso.

Se tornou o demônio do rádio.

E nessa sua nova forma, escondido do olhar de todos, ele não tinha um coração batendo no próprio peito. Como uma metáfora daquilo que lhe faltou em vida, num humor completamente sem graça e amargo.
Nem mesmo na morte ele conseguiria sentir.

E a verdade era que, o que ele mais desejava era poder sentir.

Capítulo meio ruim, mas eu precisava explicar um pouco sobre o Alastor e como funciona a cabeça dele.

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