Todo Amor Que Houver em Bora-Bora

Hora Errada Pra Se Apaixonar, Né?

Entramos com nossos faróis apagados, estacionados e com a ajuda do gentil porteiro (que parece acostumado a esta situação) nos ajudou a levar Cazuza, numa hora acordado e na seguinte dormindo, até sua cobertura através do elevador.

Chegando em seu apartamento, abrimos a porta com dificuldade e "jogamos" ele no sofá da sala laranja e branca, é tão... Cazuza. Ele parece dormir como um anjo, um anjo suado e bêbado.

Roberto fecha a porta e eu vou arrumar o quarto do anjo bêbado na sala, que tem uma escrivaninha, uma máquina de escrever, uma luminária e vários papéis rabiscados em cima. A cama é uma cama de casal com lençóis azuis escuros e travesseiros brancos.

Me lembro de ter visto em alguma revista sobre o apartamento novo dele.

Seu guarda-roupa é grande e marrom, eu o abro e vejo muitas camisas, camisetas, regatas (milhares delas), calças, jaquetas e até gravatas ordenadas por cores, das quentes às frias, e pego um cobertor.

De volta à sala de estar, vejo Roberto colocando um balde no chão ao lado de seu amigo.

— Que porra é esta?

Ele ri.

— Ele vai vomitar e daqui que ele chegue ao banheiro...o tapete foi caro, eu acho.

— Bom raciocínio. É um milagre que a ressaca ainda não tenha me atingido, não estou bêbada, apenas mais lenta que o normal. Você quer algo para comer?

— Não sei, talvez.

Vamos até a cozinha para ver o que há na geladeira. Acabamos tomando um copo de leite e um sanduíche de queijo derretido.

— Olhe para ele, parece que ele é normal.

— Roberto!

— É verdade! Ele é louco, mas é meu "irmão".

— Ele me disse algo estranho.

— O quê?

— Eu não sei, que ele ia me encontrar alguém e que essa pessoa estava muito próxima de mim.

— Ele não me disse nada. Mas é bem provável que ele te jogue para outra pessoa, ele odeia ver seus amigos tristes.

— Estou com medo do que vem dele.

Roberto ri olhando pra ele.

— Ei, olha, Roberto.

Ele está acordando.

— Ah, lá vamos nós...

— Roberto pegue uma toalha e uma xícara de café.

— Pra quê?

— Você vai ver.

Ele sai e eu corro para ver como está meu amigo. Ele parece tonto, com as mãos na cabeça, sentado no sofá, ele mal consegue abrir os olhos.

— Ei, você está bem?

— Onde estou?

— No seu apartamento. Longa história. Você precisa vomitar agora ou vai sofrer pela manhã.