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Arrependimento é uma palavra amarga.
Mas culpa é ainda mais.
É só isso que existe dentro dele, nada mais. Como se tudo que viveu, como se seus 20 anos de vida tivessem sido jogados no lixo por um minuto que mudou tudo, como se tudo dentro dele tivesse parado de correr, pulsar, bater.
Como se ele fosse um nada, como se estivesse completamente vazio, como se seu corpo batesse apenas pela patologia da vida humana, porque ele não mais bate, não mais pulsa. Vazio, como se todos os seus gostos, sorrisos e toda a sua história de vida, personalidade, preferências e coisas bobas ou importantes que coletou durante cada respiração em cada ano que viveu tivessem sumido de dentro dele no momento em que...em que o coração dela parou de bater.
Respirar dói.
Eddie Munson está vazio há uma semana. Desde que começou a fugir, desde que o trauma de a ver levitar e cair morta no chão da sala o matou por dentro. Morreu junto com ela. Ele, por dentro. Ela, literalmente.
Não sente nada. Na verdade, tudo que restou, tudo que sente é culpa e arrependimento.
Fugindo, um covarde, se sente culpado mesmo que não tenha feito nada. É tão vítima quanto ela, vítima do trauma de a ver se quebrando de frente pra ele e de como ele quis gritar com a cena, de perder algo tão precioso e adorável quanto ela. Mas na hora, paralisou, na hora, não conseguiu pensar, traumatizado e confuso em ver algo sobrenatural acontecendo no teto do trailer em que morou a vida toda. Na hora, caiu no chão de susto, aterrorizado e não conseguiu reagir e nem saberia o que fazer se pudesse. Puxar ela pra baixo? Foi rápido demais. Em um segundo ela estava parada com os olhos revirados enquanto ele gritava e tentava a acordar, e no outro segundo ela levitou de frente pra ele.
Ele só conseguiu fugir.
E se odeia por isso. Se odeia tanto. Dói tanto. Uma dor no peito de arrependimento e tristeza que aperta e massacra, que estar vivo dói, que respirar dói, que o destrói de dentro pra fora como se todos os seus órgãos estivessem sendo apertados, esmagados sem dó alguma. Tristeza.
Está fugindo porque não sabe o que fazer. Porque a cidade toda acha que ele é o culpado.
Mas como pode ser culpado falsamente de algo tão cruel? Ser falsamente culpado pela morte de alguém dói. Mas ser falsamente culpado pela morte da garota que amou em silêncio nos últimos 4 anos dói ainda mais. Queima, dilacera, ele sabe que não vai conseguir viver. O trauma de a perder, de perder alguém que ama, e ainda mais o trauma de a ver partir de frente pra ele. Dói demais pro corpo humano aguentar.
A cidade nunca acreditaria nele. Ela era um raio de sol. Ele é a escuridão. E por isso ele nunca teve coragem de assumir os sentimentos por ela, nunca teve coragem de dizer pra Chrissy Cunningham que era completamente apaixonado por ela desde aquele show de talentos no ensino fundamental há 4 anos atrás, de dizer que pensou nela cada dia por 4 anos, cada segundo, cada minuto, de dizer que olhava pra ela todo dia, de que ela é a coisa mais linda que ele já viu na vida, que ela faz seu coração bater mais rápido, que o deixa sem ar, que sonhou por diversas noites em como seria tê-la nas mãos se ela não namorasse aquele idiota do Jason Carver.
