Criminal

¥ Perdão.¥

Melissa.

Saio o mais rápido possível dali. Noto que Jungkook não me seguiu. Como ele teve coragem de vir até aqui, pra tentar mexer com o meu psicológico? Pra tentar virar minha cabeça. Pra tentar mexer com o meu coração, que ele já machucou tanto? Que idiota, otário do caralho. Filho da puta! Sinto meus braços tensos de raiva. Ando a pé até sentir um pouco de cansaço e então paro no ponto e pego o ônibus pra ir pra casa.

Giro a maçaneta e entro em casa sentindo o peso dos meus livros e o peso da dor em meus ombros. Dor de um coração ferido. Dor de uma mente castigada.

Entro no meu quarto e largo os livros na escrevania. Retiro meus tênis com os pés mesmo e me jogo na cama. Deixo finalmente o peso das lágrimas chegarem em meus olhos. Eles começam a arder e logo meu rosto está molhado e os soluços começam. Me permito chorar. Me permito sentir. Me permito sentir o impacto que foi ver Jungkook em minha frente depois de muito tempo. Ele parece estar mudado. Mais crescido. Mais... bonito.

Esse último pensamento me fazer por impulso por uma das mãos em cima da boca, como se o que eu tivesse falado fosse algo profano. O que estou fazendo? - Melissa ele mentiu pra você! Para! - Digo em voz alta.
- Está falando sozinha agora menina? - Minha tia surge na porta do meu quarto.

- Oi tia.

- Vai dizer que está pensando naquele garoto?

Fico em silêncio. Não tem como mentir.

- Tudo bem querida. - Minha tia fala. - Sei que não é fácil deixar um grande amor para atrás. Fique a vontade para sentir.

As palavras dela me surpreendem, então deixo o choro vir. Minha tia me abraça.

24 de dezembro de 2021. Estágio no Hospital Getúlio Vargas.

A noite está calma apesar do dia ter sido um pouco agitado. O relógio marca 11:40 da noite, meu turno acaba á meia noite. Falta pouco.
Minha tia está se reunindo com alguns vizinhos pra fazer a festa de Natal. Pedi pra que não me esperassem pois eu poderia sair pontualmente do trabalho ou não. Eu espero que eles estejam curtindo a festa sem se preocupar comigo.

Meus pensamentos são interrompidos pelo aviso da chegada de um paciente com a glicose alta. Como minha colega enfermeira está ocupada com outro paciente, eu vou atender este que já passou pela triagem. Quando chego na porta da sala, penso ser algum tipo de piada. O paciente é o Jungkook.

- Eu sou um homem de muita sorte mesmo. - Ele diz com aquele sorriso ladino que eu nunca esqueci.

- Não posso acreditar. - Resmungo. Pego o aparelho de medir a glicose e me aproximo dele.

- O que você fez? - Pergunto sem olhar pra ele.

- Eu estava bebendo com alguns amigos. Senti uma fraqueza. Resolvi vir ao hospital.

- O que faz na cidade?

- Eu estou morando aqui já faz um tempo.

Fico em silêncio enquanto o aparelho apita o resultado. 355. Alta.

- Você vai ter que ficar aqui.

- O que? Não. - Jungkook diz já se levantando da cadeira. - Não vou ficar aqui. - Ele levanta e sai.

Fico ali com cara de tacho e surpresa com a reação dele. Pelo visto não mudou nada.

Já na saída do hospital, pego meu celular pra pegar um carro de aplicativo quando escuto uma buzina de moto. Olho pra ver de onde veio, e lá está ele. Jungkook veste uma calça jeans apertada e usa uma jaqueta de couro preta da Harley Davison.