Entrevista de emprego

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                                      DANIEL ALMEIDA
                                                      14//10/2015

Hoje em dia está cada vez mais difícil encontrar pessoas reais, e eu nem tô falando dos fakes das redes sociais. Eu estou rodeado de pessoas vazias, o tempo todo, até na minha própria família. O meu refúgio é o meu trabalho, eu sei que é raro amar o próprio emprego, a maioria das pessoas odeia. Eu tive o privilégio de estudar pra ser aquilo que sonhei a vida inteira, de me dedicar ao máximo pra ser o melhor de mim naquilo que faço. Eu me tornei neurologista a um ano e alguns meses e depois desse tempo trabalhando apenas com plantões no hospital, decidi abrir a minha clínica e o que eu sei é que quero que esse lugar seja aconchegante e acolhedor, a maioria das pessoas chegam aqui com dor, não física, mas dor, chegam com medo e precisam de acolhimento. Pra ter um lugar assim, eu preciso de uma recepcionista cuidadosa e que se preocupa em dar esse conforto assim como eu. Nos 3 meses de existência da minha clínica, tive duas recepcionistas contratadas como temporárias, eu ainda não encontrei a pessoa que quero que continue trabalhando comigo, mas vou encontrar. Hoje, aliás, agora vou entrevistar a possível terceira recepcionista da Clínica Almeida.

Ouço duas batidas na porta e respondo para que a pessoa entre, presumindo que seja a candidata a recepcionista que não foi anunciada pois ainda não tenho uma recepcionista nova.

- Com licença - Ouço uma voz doce e a vejo entrar. Essa moça tem um rosto tão familiar, é bonita, mas diferente. Tem tatuagens pelo corpo, um cabelo longo e parece jovem, eu não deveria mas não deixo de notar sua beleza.

- Julia Oliveira, porque será que seu nome e rosto são tão familiares pra mim? Fique a vontade - puxo a cadeira para que ela possa se sentar.

- Boa tarde, Doutor. Bom, eu posso responder essa pergunta. Nós nos conhecemos, mas não pensei que se lembraria de mim. Minha mãe foi faxineira na sua casa e vez ou outra eu a acompanhava, nós sempre jogávamos algo ou ficávamos conversando, discutindo sobre quem era o melhor super herói .

- Julia? Por favor, não me chame de doutor. É claro que eu me lembro, brincamos por anos. Bom, eu já adolescente, mas não parei de brincar até hoje, inclusive o homem de ferro sempre será o melhor.

- Eu vou ter que continuar discordando, assistiu Guerra Civil? o Capitão América é insuperável.

- Eu não pensei que fosse te ver outra vez, nem precisamos de entrevista, vai ser uma honra ter você trabalhando comigo. Como vai a sua mãe? E você tem uma irmãzinha né? Deve estar enorme.

- A Luana está mesmo uma mocinha, um amor. A minha mãe faleceu a 3 anos e a dona Érica? Sempre me lembro dela e todo carinho que ela tinha comigo.

- Poxa, a minha mãe também faleceu, mas isso foi a menos de um ano. Maldito câncer, né?

- Sinto muito, me desculpa por perguntar.

- Sinto muito também. Bom, você já sabe a jornada de trabalho e a remuneração, não posso pagar muito mas te ajudo no que for preciso. Começa amanhã Julia?

- É sério? Claro, você não imagina o quanto eu preciso desse emprego, eu não sei nem como agradecer. Obrigada Daniel, obrigada por ter passado tanto tempo brincando com uma criança enquanto era 7 anos mais velho e obrigada por depois de tanto tempo ainda se importar com essa criança. - Ela dá um sorriso tão lindo ao dizer isso, novamente, eu não devia, mas reparo e não consigo parar de reparar

- Você não é mais criança Julia e eu não estou fazendo sacrifício nenhum, preciso de uma boa recepcionista e sei que você será a melhor. Te vejo amanhã às 9h. - Falo enquanto estendo as mãos pra aquele moça tão linda parada na minha frente.

- Até lá! - Ela diz caminhando até a porta. Como pode aquela menina tão inocente ter se tornado uma mulher tão linda?

Meu telefone toca.

- Alô?

- Oi amor? Já tá livre? Pensei em jantar com você hoje, o que acha? - Diz a Ana, minha namorada.

- Claro, tô indo te buscar.

Com amor, Julieta.Onde histórias criam vida. Descubra agora