𝑰 𝑳𝑶𝑽𝑬 𝒀𝑶𝑼 - 𝑬𝑫𝑫𝑰𝑬 𝑴𝑼𝑵𝑺𝑶𝑵

𝟎𝟗- 𝐃𝐢á𝐫𝐢𝐨

⚠️AVISO: esse capítulo contém  citação de violência doméstica e suicídio. Se não gosta ou não se sente bem com esse tipo de conteúdo, por favor não leia.

•Beth Pov

Por que essa perca de memória de repente? Por que eu me esqueci dele e especialmente ele? Por que consegui me lembrar de Peter e não dele?

A umas semanas essas perguntas rodeavam minha mente, e eu me encontrava sem saber como respondê-las.

Eu estava no chão do meu quarto encarando a foto, a tal foto que me fez recordar de Munson e de nosso passado, mas...Por que minha amnésia repentina se curou tão inesperadamente  no momento em que meus dedos tocaram nessa foto? Esse esquecimento foi algum tipo de bloqueio e, essa foto fez com que esse bloqueio se cessasse?
Eu não sei, mas eu iria atrás de respostas para todas as minhas perguntas, eu iria acabar com qualquer resquício de dúvida que pairava em minha cabeça.

Ajoelhada ao chão, próxima a cama, eu percebo um assoalho de madeira solto. Morar na minha antiga casa não era tão bom, pois a casa estava caindo aos pedaços mesmo com as reformas constantes que sofreu.
Por algum motivo, aquele piso solto me trouxe nostalgia, então, retiro o piso e dali avisto meu diário. Um diario velho coberto de poeira com as páginas amareladas e um pouco sujas devido ao tempo que ele passou embaixo do piso. Um diario...O meu diário.
Como um choque de realidade eu me lembro vagamente dos finais de tarde, de meus sorrisos bobos enquanto mordia a ponta da caneta, pensando na coisa mais importante do meu dia para escrever nas páginas do pequeno caderno.
Abro o diário com a minha pequena caligrafia redonda e um pouco torta.

25/12

Querido diário,

Hoje conheci um garoto, seu nome é Eddie Munson. Ele me viu sentada na calçada em frente a minha casa. Era manhã de natal e mamãe e papai já brigavam. Dá pra acreditar? Eu saí de casa assim que vi papai desferir o primeiro tapa no rosto da mamãe. Eu não gostava nem um pouco quando eles brigavam...
Eddie me chamou para passar a manhã de Natal com ele e com seu tio Wayne. O senhor Wayne é um homem muito legal, que assim que me viu, já foi super gentil comigo.
Eu e Eddie tiramos uma foto, na hora da foto ele beijou meu rosto. Fiquei um pouco envergonhada com isso, Munson é um garoto bem bonito.

Termino de ler a página sobre o dia em que conheci Munson, essa página está anexada com um post-it rosa, escrito "meu novo crush." Solto uma pequena gargalhada da boba Davis mais nova, sim eu era apaixonada por Eddie Munson, e arrisco dizer que esse sentimento não sumiu, apenas estava adormecido no fundo de meu coração, minha pequena perca de memória fez com que ele adormecesse. Digo isso porque desde o episódio do beijo que tivemos, ando sentindo coisas estranhas, uma delas é o anseio para encontrar Munson novamente.

As outras páginas estavam repletas de coisas rotineiras ou sem importância, algumas  outras páginas tinham as brigas do meu pai comigo ou minha mãe.

07/01

Querido diário,

Hoje o Eddie me chamou para tomar sorvete com ele e seu tio. Como eu já te disse, o tio de Eddie é bem legal, muito diferente do meu pai, que quando soube que eu fui na casa do garoto, me bateu até deixar ematomas enormes em minhas pernas.
Sempre quando mamãe está viajando a trabalho ele me bate com sua cinta, ele também bate na mamãe. Não entendo o porque dela continuar com ele, quando eu a questiono perante a isso, ela muda imediatamente de assunto.

Posso parecer fraca, mas sempre quando lembro das agressões que eu e minha mãe sofriamos, começo a chorar, eu não aguento, era muito sofrimento e eu era apenas uma criança.
Hoje eu não tenho mais a minha mãe, ela tirou sua própria vida jogando seu carro nos trilhos do trem. Ela não foi uma boa mãe, não me protegeu do meu pai mesmo sabendo o que ele fazia comigo, mesmo sabendo das noites que eu passava acordada chorando depois de uma agressão.
Meu pai quando soube da morte da mamãe ficou furioso e descontou em mim, me bateu tanto que acabei parando no hospital. Ele tinha quebrado meu braço.

15/03

Querido diário,

Eu sinto falta da mamãe, por mais que ela sempre estivesse fora devido suas viajens a trabalho agora é definitivo, eu nunca mais a verei.
Estou aprendendo a escrever com minha mão esquerda, já que papai quebrou meu braço direito. Por falar nele, eu nem sei onde ele sequer está, mas

...

Acaba ali.
Meu diário se finaliza ali. Claro que tem escritas passadas de dias anteriores a esse, mas o dia 15/03 foi o último dia em que eu escrevi naquelas folhas.
E pelo jeito que acabou, sei que  minha escrita foi interrompida, porque aquele "mas" ali não faz o menor sentido.
Sinto minha cabeça começar a latejar e passo a mão sobre uma cicatriz na lateral da minha cabeça.

Um turbilhão de memórias que até então estavam esquecidas, veem a tona, minha cabeça latejava ainda mais. Memórias ruins apareciam, memórias do tão fatídico dia, 15/03.
O dia em que mru pai chegou bêbado em casa e começou a quebrar tudo que via pela frente. Vasos, pratos, copos, tudo que poderia ser estilhaçado em milhões de pedaços era jogado contra a parede.
Quando escuto os barulhos dos vidros se chocando contra a parede, desço rapidamente para o andar de baixo da casa para ver o motivo de tanto escarcéu...Era o papai, com uma garrafa de cerveja na mão e um prato na outra, pronto para ser arremessado contra a parede.
Assim que seus olhos repousam sobre mim e logo em seguida em meu gesso no braço com uma singela assinatura, o mesmo fica quase carmesim de tão vermelho que seu rosto havia se tornado. Ele vai até mim e agarra meu braço quebrado com força o torcendo, fazendo com que eu urre de dor.

"É isso então sua vadia? Você vai continuar encontrando esse delinquente?!"

Meu pai dizia, enquanto olhava para a assinatura no meu gesso escrito "Eddie♡".

"Ed não é um delinquente, e sim meu amigo!"

Enquanto eu dizia, eu me debatia para tentar me livrar do aperto do mais velho em meu braço.
Parece que eu ter falado que Eddie era meu amigo só o irritou mais. Papai já estava bem nervoso, então com mais esse gatilho, ele me empurrou, fazendo com que eu batesse a cabeça na parede.
A tontura foi inevitável, o melado do sangue escorria da lateral da minha cabeça...Eu não consegui sentir mais nada, apenas a escuridão me consumindo aos poucos, até me fazer apagar.

Amnésia dissociativa... ou talvez uma amnésia sistematizada. Eu me esqueci de Eddie porque meu pai quis isso, eu me esqueci que ele existia, eu me esqueci da nossa infância, da nossa história.
Depois da pancada que eu levei na cabeça eu acordei em um hospital, do lado de uma tia minha. Meu pai? Sumiu desde então.
Foi nesse dia que eu me mudei de Hawkins, foi nesse dia em que eu comecei a morar na Califórnia com a minha tia.
Agora, o porque que eu voltei para Hawkins, bem... Isso eu ainda não sei responder.

............................................

𝑵𝑶𝑻𝑨:

Vim esclarecer algumas coisas em que vocês podem ter dúvidas.

Amnésia dissociativa:

É um tipo de transtorno dissociativo que envolve a incapacidade de recordar importantes informações pessoais que tipicamente não seriam perdidas pelo esquecimento normal. É geralmente causada por trauma ou estresse.

Amnésia sistematizada:

os pacientes se esquecem de informações em uma categoria específica, como todas as informações sobre uma determinada pessoa ou sobre sua família.

Não se esqueçam de comentar e de dizerem o
que estão achando! ;)

-Nissa