Leave Behind

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Título: Deixar para trás.

Mew

-Eu estava delirando. Ainda estou, na verdade. Eu o vejo, isso a todo o momento, para onde eu olho ele está lá... Sentado no sofá comendo doces, na cama sorrindo para mim, ou no chuveiro. Consigo escutar a voz dele. Às vezes estou acordado, outras sonhando, mas sempre estou chorando. Por que todas as vezes que acho ter o visto e percebo que não é real, parece que meu coração despedaça e eu sinto a dor física. Os remédios que você me receitou não fizeram efeito com uma pequena dose, então, passei a tomar vários deles, um atrás do outro e nem me lembro mais de como é não estar dopado. Mesmo assim, a dor não passa. Fiquei três dias sem dormir por que não queria sonhar com ele, e foi aí que começei a alucinar e ve-lo por aí. -Minha voz saía exausta, doente. Meus olhos não focavam na doutora a minha frente, eu passei a ver tudo embaçado, sem muita clareza. E sendo sincero, não faço questão de enxergar, tudo que eu quero ver é o rosto dele.

-O que você acha que deve fazer agora em diante, Mew? -Sina cruza as pernas apoiando sua prancheta nelas, esperando uma resposta minha.

-Eu... Não sei. Eu não quero fazer nada. Eu só quero que essa dor passe, mas parece que eu estou querendo demais.

-Vai passar. O tempo cura tudo, Mew. E eu vou ajudar você. Não é fácil, você está sentindo tudo; a confusão, o amor, a dor e a saudade, mas posso garantir que vai passar.

-Mas vai fazer um mês daqui a um dia, doutora. Eu não suporto mais. Isso é pior que qualquer coisa, eu não sou forte o bastante para continuar, dói muito. -a sensação de aperto no peito volta pela quinta vez no dia e minha respiração fica pesada. Eu me acostumei com tal sensação.

-Você tem certeza de que não quer falar como tudo aconteceu?

-Tenho. Não quero que você veja o Gulf com outros olhos... Foi tudo rápido e confuso. O que me destruiu foi que ele parecia assustado e eu não sabia com o quê. Os olhos dele... Eles estavam tão aterrorizados, eu queria poder ajuda-lo, mas ele não iria me dizer. Se limitou a frases prontas e a desviar o olhar a qualquer custo. Algo estava errado, mas eu não pude fazer nada. Eu não fiz nada e sinto que deveria ter feito. Mas o que eu faria? Ele deixou as coisas tão dolorosamente claras... Se eu tentasse algo não passaria de um incomodo. Ou...

-Não vamos aderir o sentimento de culpa. -Ela me para antes que eu pudesse continuar pensando sobre o que deveria ter feito. -Antes de tudo, você tem que querer seguir em frente. Tudo o que eu vejo aqui é você remoendo tudo denovo e denovo. A verdade que eu vejo, é que você não quer seguir em frente. Você quer que tudo volte como era antes. Você o quer de volta e isso é normal, mas você deve ser realista também. Se não, só doerá mais.

Ela está mais que certa. Eu não quero. Não consigo aceitar. Mas como aceitar isso? Como? Simplesmente não posso, não parece a coisa certa.

-Você fez o dever de casa da semana passada?

Sina havia me indicado que eu começasse a sair, tanto sozinho quanto acompanhado.

-Fiz, mas não deu nada certo. Sair por aí foi pior do que ficar em casa chorando. Eu vi coisas que me lembravam ele, e a minha reação nas duas vezes que tentei sair foi ter uma crise de ansiedade. Tive que voltar para casa, e na segunda vez eu apenas desisti.

-Você não pode desistir, Mew. -A voz mesmo doce e compreenciva soa firme.

-Desculpe, doutora Sina, eu preciso ir. -Me levanto em um movimento rápido deixando-a confusa.

No estacionamento ligo o carro e tento focar minha visão na estrada, as lágrimas não ajudando. No fim, consigo chegar ao condomínio e quando entro no apartamento, as memórias me invadem.

Without Halo - WHOnde histórias criam vida. Descubra agora