Tell me

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Título: Diga-me.

Mew

Sinto-me preso a uma situação. Preciso levantar. Segundo a minha rotina já estou atrasado uma hora. Acontece que eu não quero levantar da cama. Não quero mesmo ter que me desvencilhar do abraço de Gulf, deixar de sentir sua respiração em meu pescoço ou seus braços em minha volta. Quero continuar aqui acariciando-o, me iludindo com uma ideia irreal de que estamos bem, de que nos amamos e de que Gulf não foi cruel comigo e me decepcionou.

Sentir o cheiro dele novamente tão de perto é como estar no paraíso e faz com que eu me lembre do quanto senti falta disso, de quantas vezes me deitei e desejei que quando eu acordasse Gulf estivesse ao meu lado e tudo não tivesse passado de um pesadelo, o pior deles.

Odeio esta situação angustiante e incomoda em que nos encontramos, detesto olhar para Gulf e notar sua expressão de decepção toda vez que falo com ele brevemente e me retiro o mais rápido que posso.

Estou sendo ridículo, frio, e às vezes até grosseiro com ele. Não consigo agir de outra forma, pois sim, estou com raiva. É impossível para mim, deixar de sentir raiva da minha própria pessoa. Sou patético, mais que patético, não consigo pensar em Gulf ou olhar-lhe e sentir algo menos que carinho ou amor. E Isso é uma das coisas que me deixa enfurecido. Eu deveria querer distância dele, mas não é assim, o quero perto de mim, sempre. Quero apenas o seu bem mesmo depois de tudo e sei que não é como eu deveria me sentir.

O trouxe para o meu apartamento para que eu mesmo cuidasse dele e visse com meus próprios olhos sua melhora. Me assustou demais vê-lo em uma cama de hospital, ainda mais pelo motivo disso. Como Gulf pode ter deixado de comer por tanto tempo, conseguindo levar o seu próprio corpo ao limite? Não é assim que as coisas deveriam ser, ele deveria estar melhor do que nunca porque se livrou de mim, assim como queria. Sua vida deveria ter voltado ao que era antes e não ter decaído de forma tão preocupante.

Pergunto-me o que houve para que de uma hora para outra Gulf tenha deixado de se importar consigo mesmo. Deixando de fazer o que o deixa feliz, como dançar, ou deixando até de aceitar doces e guloseimas que adora. Até mesmo Simon não sabe o que está acontecendo com seu melhor amigo, e está claro que Gulf está escondendo algo. Não sei se tem a ver com esse tal Tyler, mas quero descobrir e resolver o mais rápido possível. Tenho a dúvida de que se nós não tivéssemos nos distanciado, ele também estaria assim. Acredito que seria mais fácil para eu saber o que se passa com ele, não deixaria de notar caso o mesmo mudasse de comportamento.

Sinto como se estivesse tentando enxergar no escuro quando paro para pensar no que aconteceu. Estou curioso e principalmente preocupado. Sei que tem algo de errado, sinto isso, no entanto, também sei que Gulf não vai me contar.

Hoje de madrugada, quando o vi sentado ao meu lado, seu olhar transbordava preocupação, seu toque em mim enquanto eu pegava no sono era afetivo. Estou mais confuso que nunca com suas reações desde que veio para cá. Ele demonstra preocupação comigo, me olha com carinho toda vez que vou até seu quarto, mas diz que não me ama, que nunca amou. Porque ele se importa se estou tendo pesadelos? Por que aceitou meu pedido e permaneceu ao meu lado durante toda a noite? Por que está agarrado a mim como quem tem medo de que eu desapareça se não sente amor por mim? Não entendo, simplesmente não entendo e não quero me iludir novamente com algo que não posso ter de novo, que e nunca tive.

Todas as noites após descobrir que meu pai foi preso foram assim; eu tendo os mesmos pesadelos de antes, que mais se igualavam a lembranças do passado, onde eu me ajoelhava e era golpeado por Roger, vendo o sangue se misturar com minhas lágrimas no chão e sentindo minha garganta arder pela intensidade dos meus gritos, que, como uma criança inocente, acreditava que fariam meu pai parar.

Without Halo - WHOnde histórias criam vida. Descubra agora