A música pro começo desse capítulo é "Carta aos desinteressados" de Esteban Tavares, eu tava ouvindo essa música enquanto escrevia e achei que ela tinha MUITO a ver com o momento.
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Era quase uma da madrugada quando marcou uma hora que Jeongin estava se olhando no espelho do banheiro.
Os olhos estavam secos, as lágrimas pareciam ter cansadas de sair depois de quarenta minutos rolando, mas como uma forma de recordar que ainda estavam escondidas em algum lugar, seus olhos estavam vermelhos.
A caixa aberta de remédios estava sobre o vaso tampado, havia tomado um quando sentiu que aquilo começaria novamente. Havia tomado outro quando as lágrimas começaram. O terceiro ele nem lembrava quando havia tomado.
Odiava suas crises.
Olhava fixamente o espelho, esperando que seu reflexo respondesse uma das perguntas que havia feito silenciosamente, a maioria todas iguais, se perguntando quando tudo aquilo acabaria.
Era nessas crises que passava a odiar tudo em si, desde seu rosto, seu corpo e até mesmo seus olhos. Mas nunca deixava de gostar de seu sorriso aparelhado, o qual sempre forçava um sorriso em frente ao espelho quando a crise começava avisando que a partir daquele momento odiaria até seu próprio nome.
Quando era criança, com cerca de oito anos, nunca foi um bom garoto na escola, era aquele típico aluno que toda sala tem: bagunceiro, turma do fundão, notas baixas.
Jeongin foi assim até seus onze anos de idade, quando passou a descobrir sua sexualidade. Claro, contar aquilo para seus pais sempre foi algo que martelava sua cabeça, mas não estava pronto para aquilo, não ainda.
Querendo amenizar a bronca que levaria na hora de contar aos pais, Jeongin passou a se ajeitar mais na escola, largando o time de vôlei que costumava participar depois das aulas para se concentrar nos estudos.
Suas notas, que antes eram vermelhas, aos treze anos já havia se tornado as melhores da turma, passando a média que o ensino médio recebia. Levava prêmios para casa de melhor aluno, medalhas dos concursos de soletrações nas quais seus pais nem faziam questão de assistir, chegando em casa apenas para não encontrar os mesmos ali, para saber por um dos empregados da casa que estavam tendo no momento viagem de negócios.
Mas quando os mais velhos chegavam, não havia parabenização, nenhum dos dois se importava com os prêmios toscos que o mais novo ganhava, achando vergonhoso um filho seu não ganhar coisa melhor. E foi por isso que Jeongin passou a deixar todas as atividades da escola, desde o clube de soletração que tanto amava, o grêmio estudantil no qual passou a ser membro, as aulas extras de redação que tinha toda terça-feira depois da aula. Tudo.
Mas ainda assim, nada agradou seus pais.
Foi aí que decidiu começar as aulas de piano e violão, instrumentos que a família de seu pai dominava. Naquele mesmo ano participou de duas competições de piano de aprendizes.
A primeira havia errado dois acordes, recebendo apenas um negar de cabeça do pai e um olhar afiado da mãe.
A segunda, com o erro de três acordes, seu rosto ficara marcado com os dedos do pai.
Aquele foi o ápice. Jogara o buquê - que havia ganhado por receber o segundo lugar no concurso de piano – no chão, aos pés dos pais, jogando na cara de ambos que eles não o aceitam do jeito que é, e que também não o aceitariam dizendo ali que era gay.
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Bilhete Anônimo | HyunIn or SeungIn
RomanceDepois de receber um bilhete anônimo que haviam posto em seu armário, Yang Jeongin passa a investigar quem poderia ser o garoto - e que sempre falava de si mesmo - enquanto passava a se divertir com as cartas e as histórias que o desconhecido contav...