Nasci em meados de 2003, e como muitas crianças eu chorei assim que fui retirado mãe, mas o motivo era diferente e só entendi muito tempo depois.
O barulho incessante de vozes, dos médicos, da minha mãe e das enfermeiras, eu ouvia tudo, vindo de suas bocas e das suas mentes, eu não entendia o que diziam, mas invadiam minha mente que quase derreteu.
Quando comecei a entender o que meus pais me diziam em casa o fluxo diminuiu, a correnteza de informações trabalhou a favor do meu aprendizado das linguagens.
As minhas primeiras palavras foram "Eu entendo", minha mãe presenciou e não acreditou nem um pouco, quando contou ao meu pai eu já conseguia falar uma frase quase inteira, talvez pelo fato do meu pai ser um executivo e repetir ela todo tempo, mesmo na mente:- E-eu preciso de m-mais tempo!
Recebi aplausos pelos primeiros meses, o que depois se tornou curiosidade e assombro, foram uns anos até eu conseguir explicar a eles.
Quando o susto passou, achei mais que criativa a forma que meus pais se dedicaram para me criar, minha mãe (Eleonor) prosseguiu incrédula e um pouco perdida, enquanto meu Pai (Pedro) pareceu sempre estar preparado pra isso:- Querida você não vai acreditar!
- Oi?
- Eu lembrei de um quadrinho que li quando era adolescente, e acho que precisamos manter esse dom do Aries em segredo
- Por que querido? e é sério que você tá usando um quadrinho com-
- Pense na reação da nossa família, vizinhos? Ou iriam pirar ou querer se aproveitar do pequenino
- Certo, mas como o quadrinho se encaixa?Meu pai correu para o armazém dele e passou umas duas tardes procurando esses quadrinhos, seria muito melhor mostrar, explicar nunca foi seu forte. Os quadrinhos de fato tratavam de uma criança que tinha poderes telecinéticos (clássico) e os problemas cotidianos dela, minha mãe achou que era roubada até ler os primeiros 5 capitulos, os pais do protagonista eram péssimos para ele, mas meu pai queria mostrar exatamente o que não fazer.
Aposto que meu pai adorou o segundo processo, assistimos vários filmes de ficção, foi um ótimo programa em família, ele focado em manter a mim e a mamãe entretidos com os filmes mais diversos, minhas memórias sobre isso são muito mais ricas por estar assistindo por 3 mentes diferentes.
Foi uma preparação deveras rápida, os filmes estão encrustados em minha memória, além dos aprendizados q meus pais se esforçaram para fazer, e quando eu fiz meu aniversário de 6 anos, a ideia de ir a uma escola começou a ser um elefante na sala, meu pai começou- Acho que ele está pronto
- Eu sei que está, mas acho mais inteligente ensinarmos o básico em casa
- Mas ele já aprendeu o básico amor
- Em filmes?
- Sim?
- Ele só assistiu e "aprendeu" - ela fez aspas com as mãos enquanto arqueava a sobrancelha de forma ameaçadora - o lado "paranormal" dele, ainda é perigoso pôr ele num lugar cheio de experiências novas e pessoas desconhecidas e má impulsionadas!
- são crianças querida
- Crianças más empulsionadas - corrigiu ela apontando para meu paiEsse era o tipo de discussão que eu não me envolvia, ouvir seus pensamentos cambaleando entre raiva, tristeza e preocupação me deixavam entre muitas coisas, enjoado, eram tão recorrentes quanto estressantes, minha mãe sempre pensava na minha proteção, mas sinceramente, eu lia pensamentos, não seria enganado por "crianças má impulsionadas", nem por adultos, vale dizer, enquanto meu pai pensava que como ele quando era mais novo, experiências sozinho eram muito importantes para meu caráter e conhecimento próprio, queria continuar protegido, e a preocupação da minha mãe arrepiava minha espinha, mas a liberdade, era muito gostosa na mente do meu pai, e de certa forma eu queria sentir isso.
Um dos dois iria ceder, era apenas uma questão de *tempo*.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Aries - O Ouvinte
Ficção AdolescenteUm adolescente Telepata se depara com o cruel mundo Escolar, onde ele descobre entre muitas coisas, sua "fraqueza".