Cap 1. Babaca 4/4

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       Após um longo dia de trabalho, subi para o meu apartamento e me joguei na cama, completamente exausta. Era tentador cogitar fingir uma gripe e faltar ao trabalho no dia seguinte, mas depois de anos desde que saí da escola, eu já não podia mais recorrer a esse truque. As semanas se passavam tão rapidamente que mal conseguia perceber. Tudo voltara ao normal, com meus acessos de raiva provocados por Tomas e ele continuando a me irritar sempre que podia.

    Onde estaria Marcela? Peguei meu celular e enviei uma mensagem para ela. Geralmente almoçávamos juntas, e o horário de almoço já começou há cinco minutos. Só fui ao banheiro e ela se mandou, pilantra. Será que ela foi almoçar sem me esperar? Guardei o celular e me dirigi ao elevador, mas parei ao ouvir risadas vindo da copa.

    Hum, reconhecia aquela risada alta e estranha. Caminhei até a área da copa e, assim que entrei, não me surpreendi ao ver Richard e Marcela perto da máquina de café.

— O Eric está namorando alguém da empresa!? Como assim. — Exclamou Marcela, surpresa.

     Cruzei os braços, sabendo que ela estava atrás de fofocas com o maior fofoqueiro da empresa, Richard. Ele era amigo do Tomas, embora fossem completamente diferentes um do outro. Tomas era insuportável, enquanto Richard era gentil e charmoso. Mesmo aos cinquenta anos, ele ainda arrancava suspiros das mulheres por onde passava, incluindo os meus. Uma verdadeira tentação, Richard é um homem forte, com a pele negra bem mais escura que a minha, e seus braços fortes ficam mais visíveis quando usa suas camisas sociais brancas, o cabelo com corte militar e um pouco de barba pelo rosto, tendo alguns fios brancos. Este homem deve ser um pecado sem camisa — que sua esposa me perdoe por estar pensando assim de você.

— Aham! Só fui ao banheiro e você correu para fofocar. — Marcela quase deu um pulo de susto. Eu balancei a cabeça em cumprimento para Richard, que estava segurando uma caneca de café em uma das mãos.

    Não resisti à curiosidade e me aproximei deles, me enfiando entre os dois. Richard passou o braço ao redor do meu pescoço, e nós três nos inclinamos para frente, criando um círculo de confidências.

— Você sabe quem é Eric, o gerente do departamento fiscal? — Richard me perguntou, e eu assenti com a cabeça. — Circula um rumor na empresa de que ele está namorando um funcionário.

— O quê? Um homem? — Perguntei, surpresa.

    Richard assentiu com a cabeça, dando um gole em seu café.

— Ele pareceu tão hétero. — Marcela comentou. — Uau, que sorte ele tem. Eric é um gato.

— Ah, nem me fale! — Digo. — Eu babo pelo Eric. Às vezes finjo ir ao banheiro do departamento fiscal só para dar uma olhada nele. — Confessei com um sorriso travesso.

    Ouvimos uma tosse forte. Viramos as cabeças ao mesmo tempo, sabendo exatamente quem era. Tomas estava parado na porta da copa, com os braços cruzados, seus cabelos bagunçados e uma expressão que eu não via com frequência: raiva.

— Vocês não são pagas para fofocar, são senhoritas? — Ele batia impacientemente o pé no chão. Aquilo era raro, Tomas estava bravo. — Além disso, vocês deveriam estar almoçando, não tomando um chá da tarde. — Ele conferiu o relógio no punho. — Não, é?

    Por que ele estava me olhando dessa forma? Senti o braço de Richard deslizar dos meus ombros.

— Já estamos indo, né, Ellen? — Marcela agarrou meu braço.

— É, algo assim. — Não tentei esconder a verdade, afinal, eu não tinha medo do Tomas.

    Marcela também não deveria ter medo, já que não havia regras explícitas contra fofocar na empresa — e não era a primeira vez que ele nos pegava assim, fofocando.

— É melhor, senhoritas. — Tomas suspirou, mas seu olhar estava fixo em mim, como se eu fosse a única culpada de algo.

    À medida que saíamos, ouvi Tomas comentar algo sobre querer conversar com Richard no final do dia. Não consegui evitar a curiosidade sobre o que eles iam discutir mais tarde. O dia passou rapidamente como um sopro. Eu era a última a sair, como sempre. Não sabia por que Tomas tinha me dado tanto trabalho hoje. Será que ele achava que eu era a única que trabalhava na empresa? Comecei a recolher minhas coisas, pois Marcela saíra às pressas por algum motivo urgente.

— Deveria mandar uma mensagem para descobrir o que aconteceu. — Murmurei para mim mesma, preocupada com minha amiga.

    Ao pegar o celular, notei a pilha de papéis debaixo dele. Eu havia esquecido que era para levar esses documentos até a mesa de Richard. Eram documentos de algumas empresas solicitando informações fiscais. Peguei os papéis e minhas coisas e decidi deixá-los em sua mesa. Não seria um problema, poderia sair logo depois. Chamei o elevador e entrei, apertando o botão para um andar abaixo do meu. Enquanto ele descia, suspirei pelo cansaço do dia.

— Deveria mandar Tomas pastar qualquer dia desses, ele não pode continuar a despejar papéis na minha mesa assim. — Pensei alto.

     Não planejava fazer isso, é claro, mas a ideia não era ruim. Já tinha mencionado isso de diversas formas sutis para ele, mas eu me perguntava se ele realmente entendeu. Ri, relembrando esses momentos. O escritório certamente não era um lugar entediante como o meu "emprego" anterior. 

   O elevador parou, esperei as portas se abrirem para sair. Com passos apressados, vou até sua sala fechada. Jogo o casaco no outro braço, segurando na outra mão os papéis. Quanto mais chegava perto, ouço sons abafados lá de dentro. Ele ainda está aqui? Antes que eu pudesse bater na porta, eu escuto:

— Argh, não sei se consigo mais esconder isso. — Era a voz de Tomas.

     Sem conseguir me mover, continuei parada, ouvindo atentamente.

— Tomas, você deveria contar para ela, dizer como se sente. — O tom de Richard é otimista.

    Era claro que eles falavam de alguém, mais especificamente de uma mulher. Tomas gostava de alguém da empresa? Ou eu havia interpretado tudo errado? Era impossível evitar de ouvir a conversa deles, já que as paredes do escritório eram finas.

— Contar ou não, não mudará nada. — Tomas me parecia desanimado. — Ela me odeia. — Sua voz estava repleta de drama.

    Ok, temos uma pista: ela o odeia. Quem mais poderia odiá-lo além de mim? Praticamente todas as mulheres, especialmente as casadas, suspiravam por ele. Não sabia que rumo aquela conversa estava tomando, mas estava fazendo meu estômago revirar.

— Ela não te odeia, se odiasse, já teria pedido demissão ou reclamado com o diretor Lee. Afinal, você é um pouco mal com ela. — Richard pausou antes de continuar. — Não sei como a Ellen não percebeu.

    E-Ellen? Havia apenas duas mulheres com esse nome no escritório, incluindo eu. Não gostei da direção que aquela conversa estava tomando.

— Sobre? Que sou loucamente apaixonado por ela?

     Oh, meu Deus















єм รυα мєитє [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora