ATO 1 - Impulso sem sentido

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A época do Florescer Espiritual costumava ser motivo de festas tanto no plano dos mortais quanto no plano dos espíritos. Ionia se esbaldava num festival colorido pelas flores cor-de-rosa desta estação, no clima de comunhão, na sensação de proximidade com aqueles que partiram e com a paz interior. Era época de celebrar tanto a vida quanto a morte, e isto valia tanto para aqueles que estavam vivos quanto para aqueles que viviam no mundo espiritual, cumprindo suas devidas funções.

No meio destes se encontrava Ahri, a raposa guia. Em sua forma feral, resolveu dar um passeio pelos templos de seus colegas kanmei – jamais se aproximaria dos akanas malignos, possuía certos receios em relação a eles –. Todos pareciam animados com o festival de Ionia, Teemo como sempre bolando novas ideias para pregar peças nos seres humanos – e até com alguns espíritos, ele era muito ousado –, Aphelios e Alune passeavam por aí e a cumprimentaram quando se toparam pelo caminho, encontrou-se com Lillia mais tardar e também lhe fora simpática, até que a raposinha resolveu dar uma parada no templo de Syndra, o Espírito da Liberdade. As duas eram muito amigas, pois de certo modo, o trabalho de Ahri muitas vezes fazia com que ela tivesse de pedir o auxílio de Syndra para libertar uma alma de seus remorsos no plano mortal para que, enfim, se permita ser guiado pela raposa até sua nova morada.

Assim que fora notada pela mulher de cabelos platinados, esta lhe sorriu e fora em sua direção para oferecer um carinho no topo da cabeça felpuda.

— Saudações, velha amiga. Já comentei em algum momento que acho fofa a sua aparência quando estais nesta forma? — brincou, recebendo uma risada da raposinha como resposta – afinal, Ahri não podia falar devido ao fato de ser um animal no presente momento — O que está fazendo? Não viestes aqui apenas para ser mimada, não é?

A cauda azul balança em confirmação e Syndra ri novamente, compreendendo os significados de cada ação do animal. Conhecia bem o comportamento da amiga, por mais nobre que seu desígnio seja, Ahri era um espírito muito travesso – para não dizer debochado – e na maior parte do tempo livre fica perambulando pelos campos do mundo espiritual na sua forma de raposa para brincar.

— O tempo passa e você não muda, Ahri. — a mulher direciona os carinhos para a barriguinha cheia de pelos, a raposinha tinha se deitado no gramado com esta intenção e o Espírito da Liberdade não via problema em dedicar um pouco de atenção a ela — O Florescer se aproxima. Acho que desta vez até eu vou atravessar para o outro plano, por curiosidade.

A vulpina se revira na grama em surpresa. Syndra gostava de permanecer no plano dos espíritos e dificilmente fazia a travessia para o outro lado por não ver a menor necessidade de bisbilhotar a vida dos humanos.

— Não me olhe assim. Também posso ser tão curiosa quanto uma raposa que conheço, sabe? — ironizou, afagando o rostinho da raposinha, que riu e se esfregou ainda mais na palma alheia, sem vergonha nenhuma por exigir ainda mais carícias — E imagino que teu passeio não vá terminar aqui, não é? Tem alguém que desejas visitar também...

Ahri sente vontade de morder a mão de Syndra em respaldo, porém, se contém e apenas abocanha sua destra sem fazer tanta pressão com os dentes, e ali, a mulher entende que suas suspeitas se provaram como corretas. Não disse mais nada sobre o assunto por não ver necessidade. E, depois de muitas carícias e mimos, Ahri partiu para a próxima estação, que na realidade era o verdadeiro motivo para que estivesse realizando um tour no Plano Espiritual. As patas a levam pela trilha com destino a um riacho, que diferente daquele que Ahri possuía em seu próprio templo, não despende de nada além de várias árvores e plantas ao seu redor; nenhuma coluna de mármore, nenhuma cobertura, nenhum enfeite, nada que pudesse demarcar tal local como um templo de um espírito importante. A raposa vislumbra alguns espectros de coelhos brancos, anunciando que estava cada vez mais perto de seu destino. Tais espectros não interagiam diretamente consigo na maioria das vezes em que migrava até ali, contudo, nesta ocasião eles transpareceram certa aflição ao reconhecê-la e sumiram de suas vistas conforme se aproximava, como se a temessem ou, talvez, estivessem lhes dando privacidade.

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⏰ Última atualização: May 14, 2023 ⏰

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