Capítulo 46

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Por que todos acham que eu sou a garota que precisa ser salva?

Talvez porque eu estou sempre sorrindo.

Talvez porque eu sempre vejo o melhor em tudo.

Talvez pelas inúmeras vezes que arrastei meu pai babado de volta para casa.

Ou nas inúmeras vezes que me viam pular pela janela.

Intervir em brigas.

Chorar em qualquer lugar a qualquer hora que achasse estar sozinha.

Talvez pelas vezes que eu neguei ajuda.

Nós vamos resolver isso.

Já vamos dar o nosso jeito.

Isso não é nada, a gente sobrevive.

Nós não precisamos de nada, nem de ninguém, somos uma família.

E agora parada com a água do mar beirando meu pescoço só consigo pensar.

Se eu me deitar aqui, alguém se deitaria comigo? Alguém se deitaria comigo e esqueceria o mundo?

A verdade é que eu neguei tanto que precisava de ajuda que ela de fato não vira nem se eu me deitar por muito tempo.

Talvez eu tenha errado mais uma vez, não pedi ajuda e ajudar talvez tenha sido um erro.

Talvez Luke realmente amasse a Gien, talvez contar aquelas coisas tenham de fato acabado com o que poderia ser um futuro para essa família.

Se é que ainda pode ser chamada disso.

Fechei os olhos e aspirei o ar sentindo meu peito pesar, todas as palavras de Luke passavam pela minha cabeça.

Desde o primeiro xingamento após sua primeira bebedeira após o sumiço de minha mãe, até em seu último surto após o término com Gien.

Sempre a mesma frase, sempre o mesmo som.

É sempre sua culpa, as coisas dão errado desde que você apareceu, você é a desgraça da minha vida. Meu maior erro.

Sempre o mesmo sentimento.

Você sempre sabe o que está fazendo, te subestimo quando chamo de burra, mas é sempre burra de não ir embora.

Sempre a mesma ironia.

Sai da minha casa, para de atrapalhar a minha vida.

Sempre as mesmas gotículas de saliva caindo sobre meu rosto.

Eu odeio você, com essa carinha de boazinha, sonsa.

Nem sempre os mesmos objetos arremessados.

Mas sempre o mesmo alvo.

Passei as mãos molhadas sobre meu rosto sentindo a liberdade que o mar me trás, talvez ele me libertasse assim que eu me deitasse e essa era a ideia que se passava por minha cabeça.

Não pela primeira vez, talvez pela última.

Mas o som do motor de um barco se aproximando me fez mais uma vez recuar.

Seria uma morte chamativa demais para quem não teve atenção nem em vida.

Abri meus olhos e pude ver ele se aproximando com a maré calma.

Topper se deitaria comigo.

Mas ele não.

Rafe me estendeu a mão me puxando para levantar.

girl problems - Rafe CameronOnde histórias criam vida. Descubra agora