Quando cheguei em casa não me importei em ligar para o trabalho da noite e avisar que não iria.
Joguei a bolsa no sofá e liguei a tv a fim de fazer um som na casa. Olhei as cartas no chão, em pleno século 21 parecia estranho que pessoas mandassem cartas ao invés de telefonar. Mas eu não tinha celular.
Olhei os remetentes, meus pais, amigos se é que podia chama-los de amigos e joguei todas na lixeira mais próxima.
Não abria as cartas deles nunca. Eles só sabiam onde eu morava porque também não mudava de apartamento a tempos.
Coloquei a blusa de frio na cadeira e comecei a tirar da geladeira ingredientes e cortar de forma aleatória. Guardei grande parte em potes de volta na geladeira e coloquei as batatas numa panela com água.
Sem saber bem o que me impeliu a fazer isso, pus a mesa para duas pessoas. Depois de muito tempo eu colocava os pratos, copos e talheres na mesa em cima da toalha.
Me servi apenas de um prato e sentei inspirando o cheiro da sopa:
-Esta com um cheiro muito bom-ela falou com um sorriso onde falava um dente. Sentada na cadeira a minha frente
-Hum-concordei baixo pegando a colher
-Você não come a muito tempo-ela fechou o sorriso
Concordei com a cabeça, a última vez que enfiei comida pela boca foi ontem pela manhã. A última vez que comi não faço ideia, tem diferença.
Coloquei a sopa na boca, o sabor dos temperos invadiu. Não me lembrava que uma boa comida podia ser assim, se eu fazendo comida apenas por fazer naquela manhã podia ser assim como devia ser a comida de minha mãe que não comia a tempos:
-Você está chorando!-ela falou apontando pras lágrimas que não sabia que estavam rolando até agora
Não me preocupei em enxuga-las, deixei que descessem o quanto quisessem enquanto apoiei a cabeça na mesa.
O tempo que se passou eu não faço ideia mas quando me levantei,ela não estava lá.
Tomei um demorado banho, esperando que o máximo de água quente caísse até minha pele ficar vermelha e o banheiro cheio de vapor.
Quando sai desliguei a tv e peguei uma blusa na pilha da cadeira do quarto vestindo enquanto passava na frente do espelho.
Era a primeira vez em muito tempo que me olhava de verdade naquele espelho embora ficasse no meu quarto. Estava muito magra:
-Você não tem comido bem-eu a vi pelo espelho. Estava sentada na minha cama balançando as perninhas no ar
-Vou me alimentar melhor-falei fitando a imagem no espelho
Ela desceu da cama alisando as pregas do vestido azul e se aproximou de mim:
-Prometa que vai se alimentar melhor e dormir também!
Meu coração disparava, me virei esticando a mão para pega-la. Mas ela não estava mais ali.
Respirando fundo me deitei na cama, a maioria das pessoas contavam estrelas, carneirinhos para dormir mas eu contava Miyuki e essa era a 720 pensei fechando os olhos.
🍁...........🍁
Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça, me arrastando até a cozinha tomei um copo de água e três comprimidos.
De novo sem comer nada sai de casa, cada dia da minha vida era igual ao anterior.
As mesmas pessoas estavam na estação de metrô, corriam de um lado pro outro e reclamavam como sempre. Levantei o olhar na esperança de ver ela mas sua figura pequena não estava do outro lado.
Peguei o metrô e parei no mesmo ponto, subi de volta para a rua caminhando devagar pela rua de lojas de conveniências.
A palavra assassinato soava em minha cabeça enquanto eu fazia aquele caminho, o lugar tinha uma escada que descia de volta para onde os metrôs passavam e um pequeno morro que estava cheio de neve.
Olhei pra baixo sem pretensão nenhuma e então eu a vi:
-Miyuki-o chamado saiu pouco mais que um sussurro na minha boca ao vê-la
Esse é o momento caros sunflower, façam suas apostas de o que aconteceu com a pequena Miyuki e vamos ver quem acerta
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Ei, lembra de mim?
Mystery / Thriller"Ei lembra de mim?" Essa era uma pergunta à muito esquecida que eu não respondia, não queria nunca mais escuta-lá Ou talvez... talvez só tivesse medo de responde-lá