Capítulo 4

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-Aiko!-ouvi meu nome ser chamado

Yuki sorriu pra mim e rapidamente trocou por um biquinho:

-Você anda mais devagar que uma tartaruga-ela consertou a mochila no ombro

Aiko, eu era uma aluna do 3 ano da escola principal a 5 anos atrás. Não muito famosa mas muito conhecida tinha vários amigos mas ninguém mais importante que minha amiga de infância, Yuki era alegre, divertida e linda.

Ela voltava da escola comigo, e esperava eu passar na escola primária da minha amada irmã mais nova, Miyuki. Miyuki tinha 6 anos e estava no primeiro ano do fundamental,era como um pequeno lírio do campo, delicada com seu rosto cheinho e o cabelo preto longo, ela amava o fato de poder pular um pouco pela rua enquanto eu acompanhava Yuki ate em casa. Então voltávamos e pegávamos o metro sentido a nossa casa:

-Desculpe, Miyuki quis me mostrar as flores da escola que estão florescendo-falei sorrindo levemente

-An? Já estamos na primavera?-nos duas conversávamos enquanto apreciávamos minha irmã se equilibrar no meio fio

-Yuki, como pode ser tão distraída?

-É um dom-ela disse dando de ombros

-Ei! Neechan, posso tomar um picolé de uva?-Miyuki apontou para o carrinho de sorvete no fim do pequeno morro. Perto da linha de metro era onde o sorveteiro sempre ficava

-Hum, mamãe ira ficar brava por comer doce antes do jantar-falei

Minha irmã encheu as bochechas de ar num gesto muito fofo e cruzou os braços, Yuki e eu rimos:

-Apenas um sorvete não fara mau-minha amiga disse andando e se abaixando perto dela-Insista mais um pouco e conseguira tudo com a Akio, é assim que ela é

-Ei!-protestei rindo, era verdade mas ela não devia entregar meu ponto fraco assim

Ela se pôs de pé rapidamente e acenou com um sorriso:

-É melhor eu ir se não quiser me atrasar para o jantar-Yuki começou a correr

-Volta aqui!-gritei começando a correr, ao passar pela minha irmã disse-Tome, compre o picolé e me espere ok?

Ela sorriu, em geral sempre que minha amiga fazia isso eu dava dinheiro a Miyuki e pedia que ela me esperasse ao lado do carinho. Alcancei Yuki batendo nela com a mochila e caímos no chão rindo e descabeladas:

-Não vale, você participa do clube de escalada da escola-ela reclamou

Levantei ajeitando o uniforme:

-Então talvez deva participar também, caso contrario não terá chance

-Eu passo, prefiro atividades que não tenham esforço físico-ela se levantou

-Mande mensagem quando chegar em casa-falei quando ela se virou

-Para de agir como minha mãe-Yuki gritou por cima do ombro correndo

Fiz o caminho de volta ainda sorrindo quando tirei o celular do bolso e vi uma mensagem da minha mãe, ela devia ter chegado cedo e estava preocupada com onde estávamos. Abri a mensagem e gravei um áudio; Estamos bem mãe, já vamos pegar o metro da 6:30. Miyuki esta....

Nunca cheguei a completar a frase, ao ver minha irmã no meio do trilhos do metro pegando o picolé caído e uma luz vindo do túnel deixei o celular cair. Um grito saiu de mim, um grito nada humano conforme me joguei nas escadas chamando por Miyuki mas tudo que eu ouvi foi o estrondo do metro contra o corpo frágil da minha irmã.

Continuei correndo, o metro parou e algumas pessoas começaram a descer murmurando algo, o condutor desceu. Ele levava as mãos na cabeça em desespero e tentava olhar por debaixo do metro. Eu perdi o controle........

Corri ate o homem e soquei a cara dele, ele ficou tão assustado que não reagiu. Eu o soquei de novo, de novo, de novo.

Estava no chão, o homem ainda abaixo de mim e eu o socava. No rosto, na barriga aonde pudesse alcançar. Braços me seguraram, tentaram me erguer e separar mas eu os machuquei também, apesar disso não me soltaram.

Olhei pras minhas mãos, tinham sangue. Meu, do homem, de minha irmã talvez. Eu desmaiei.

Tudo que se seguiu foram apenas borrões em minha vida, fui parar no hospital. Não falava ou saia do quarto, indicaram meus pais a procurarem um clinica e me internarem.

Fiquei sem qualquer progresso no primeiro ano, me impediram de ver o enterro da minha irmã. Contaram que o homem a quem agredi morreu, eu bati sua cabeça muito forte no chão aquele dia.

Os médicos disseram que eu responderia pelos devidos crimes quando saísse dali, não tive pressa. Passava os dias no quarto, toda comida ingerida era de forma obrigatória, me neguei a receber visitas. Mesmo de Yuki que passava lá todos os dias para deixar um bolo que eu nunca comia ou de meus pais que diziam que eu não era culpada de nada enquanto achavam que eu dormia.

Depois de três anos, recuperei as funções básicas de um ser humano. Comer, dormir e fazer algum exercício, entre eles aulas com a psicóloga.

Contei a ela certa vez que via minha irmã as vezes, ela respondeu que era minha mente. Que eu devia ignorar por mais difícil que fosse pois aquela era minha mente querendo me fazer encontrar com ela, porem enquanto eu ignorasse estaria tudo bem.

Sai dali, me acertei com a justiça e fui morar em um apartamento no centro da cidade. Me candidatei a vários empregos e evitei qualquer contato com amigos ou parentes.

Depois de um encontro ao acaso com minha mãe acabei dizendo aonde morava para ela não se sentir tão mau e então cartas começaram a chegar, dela, de Yuki, de amigos da escola. Eu as jogava no lixo mais próximo sem se quer abrir, se viesse um presente, um agrado qualquer tratava de dar ao sindico do prédio.

Foi ao acaso que ao ajudar um homem com um endereço eu descobrisse que ele era Tsukasa, dono de um cafeteria perto de onde minha irmã havia morrido e me oferecesse um emprego de meio expediente. Sem clientes naquela ruela de lojas de artesanatos vazias percebi de cara que aquele era o máximo que o senhor podia fazer para mim.

Encontrei outro trabalho pra noite, fazia bicos entre eles, nos almoços. Qualquer coisa para não ter tempo. Para ignorar as Miyuki que passaram a aparecer em minha vida, pois enquanto eu ignorasse estaria a salvo.

Ei, lembra de mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora