Esquecei-me de mim

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Estava em meu serviço

Bibliotecário, algo quase extinto

Vi sua mensagem brotar em meu celular

(a semente já estava lá)

Nossa conversa era sobre alegria

Puramente nostalgia escolar.

Infância remoída, obstruída

Remoldada e transferida

Para algo inocente e longe de feridas.

Instruído pela simpatia

Garantia ser algo que não sou

Pude abrir-me como um livro infantil à ti.

Tu como adulta que fostes,

Leu-me por cima como algo sem grande valor.


Viu-me e experimentou meus traumas

Minhas tristezas e medos

Minhas histórias de família

Meus sonhos que mantive segredo.


Meu sangue amargo de ovelha, você provou

Aquela mesma que fora de seu rebanho por ser estranha demais,

Você observou minha lã ser retirada à força

Para outros estranhos usar.


Comecei por onde, tu terminastes por deixar.

Terminei por onde, tu nunca tentou sequer abraçar.

Acolhi tuas dores, as únicas que tu permitiu tocar.

E mesmo assim, não poderia ser diferente. Você decidiu ser um pássaro inconsequente e se permitiu voar. Tão longe e próximo do sol que eu não poderia mais te salvar das queimaduras daquilo que te insatisfazia.


Traiu minha confiança, meu ser

Atropelou meus valores, meu eu

Ignorou minha moral, meu querer

Usurpou meus sentimentos, meu existir.


Te resgatei, vangloriei e num pódio tu esteve, no colisseu de um jovem fanático à tua existência e por fim, numa humilhação pútrida mergulhei.


Fúnebre meu coração à ti ficou.

Do meu universo, para tiOnde histórias criam vida. Descubra agora