Changbin respirou uma, duas, seis vezes e quando finalmente o calor da xícara queimou a palma de sua mão, ele teve coragem de bater na porta de madeira. Honestamente, ele não tinha certeza se queria mesmo que a pessoa do outro lado ouvisse e o deixasse entrar, na verdade, Changbin não sabia o que estava fazendo ali e se fosse questionado (como ele tinha certeza que seria) não teria uma resposta boa o suficiente para não se envergonhar, mas, pelo menos faria o mais novo rir.
— Está aberta
A voz suave de Hyunjin soou quase inaudível e com um sorriso, falsamente, confiante Changbin adentrou o quarto alheio. Um fato interessante sobre ele era que independente da estação, ou do momento em que você estivesse lá, tudo seria aconchegante ao extremo, desde a iluminação vinda dos cordões de luz pendurados nas cortinas, até as velas aromáticas e a música ambiente que tocava baixinho na caixa de som ganhada no Natal passado. Tudo gritava Hyunjin, mesmo nos pequenos detalhes.
— Te trouxe chá — Changbin murmurou e com cuidado depositou a xícara bem decorada no espaço vazio da mesa.
Hyunjin parecia concentrado no esboço que rabiscava em seu caderno de desenho, Changbin não entendia muito sobre arte, mas, conseguiu identificar vagamente os contornos do que deveria ser o rosto de uma pessoa. Chegava a ser absurdo o quão rápido o mais novo havia evoluído, se o Seo conseguia lembrar bem, no início de tudo, seus esboços eram tímidos, não tão audaciosos, todavia assim como na dança, ele agora podia fazer qualquer coisa — desde saltos arriscados até grandes pinturas.
— Pensei que não entraria nunca — Hyunjin o olhou por cima do ombro com uma expressão divertida — Ele já deve ter esfriado.
— Você é tão mal agradecido — Changbin resmungou, com aquele tom de voz específico que sempre arrancava risadas do outro — Este pobre hyung está tentando cuidar de seu dongsaeng e só recebe reclamações em troca.
Hyunjin revirou os olhos, mas, no fim acabou por soltar uma risadinha antes de voltar a atenção para o que fazia antes da chegada do mais velho. Changbin entendeu aquilo como um sinal de que poderia ficar e buscando causar o mínimo de incômodo possível caminhou na ponta dos pés até o assento ligado à janela.
Até aquele momento, tudo estava ocorrendo bem, o suficiente para que o coração de Changbin se acalmasse e seu lado racional tomasse o controle da situação, aquilo era real, ele estava mesmo ali, mas por quê? Por mais que estivesse consciente de que não lhe agradava em nada estar sozinho, aquele era um sábado a noite, haviam outros membros, ele possuía também outros amigos e poderia estar fazendo qualquer outra coisa mais “interessante” do que observar, em silêncio, o Hwang desenhar.
— Eu não consigo me concentrar se você continuar me encarando hyung — Hyunjin murmurou risonho e levou o olhar até ele.
Os olhos pequenos do mais novo tinham se transformado em duas meia luas invertidas e ele parecia tão irreal que se Changbin piscasse, poderia desaparecer, tal qual um sonho ou uma miragem. Hyunjin era sem sombra de dúvidas a criatura mais encantadora que havia pisado na terra e, sendo um pouco exagerado, poderia facilmente ser um presente enviado dos céus — ainda que os humanos não o merecessem.
E Changbin estava apaixonado por ele.
— Seu chá…
Adrenalina, um montão dela, disparando por todo o corpo e acordando cada célula existente nele. Ele estava apaixonado. Suas mãos deslizaram pelo tecido do moletom, para cima e para baixo, elas estavam começando a tremer e em busca de estabilidade Changbin cruzou os braços, mantendo os punhos cerrados como forma de aliviar toda aquela descarga de energia e tensão.
— Oh certo, é mesmo — Hyunjin largou o lápis e se espreguiçou como um gatinho preguiçoso — Eu estive nessa posição por tanto tempo que mal sinto meu corpo.
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Aconchego || changjin
RomansaChangbin não gostava da idéia de estar sozinho, era um incômodo, lhe deixava inquieto e trazia pensamentos intrusivos. Por isso ele estava lá, num sábado a noite, com uma xícara de chá em mãos e a incerteza de bater ou não na porta de Hyunjin.