The History Girl

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Assim que ele passou pela porta, entrou na carruagem e sumiu no horizonte, o vento que abalava meus cabelos eram a liberdade me informando que tinha chegado por alguns dias. Corri para os jardins e já podia ver a estufa de longe. Fui o mais rápido que podia até lá e na porta eu a vi, como de costume, a plantar um vaso de gardenias.

- Então? - Ela disse plena, sem me encarar - Ele se foi?

- Falando assim, parece que estamos nos referindo a um homem morto. - Brinquei, ainda que fosse verdade - A carruagem já está longe o bastante para que não possamos vê-la.

- Bom. - Me olhou, satisfeita - Isso significa que não tem nada maior que a senhora nessas terras. - Voltou a cavar o vaso - E que não precisa seguir nenhum cronograma pessoal. Poderá fazer o que desejar.

- Posso ficar aqui com você? - Me aproximei e apontei para o chão.

- Claro que sim, Adora! - Se animou - Estou trocando as gardenias de vaso. Elas irão crescer mais e mais… Só que esse recipiente está muito pequeno.

- Elas dão flores? - Questionei.

- Sim… - Sorriu - São macias, brancas e perfumadas. São lindíssimas! Precisam de sol, mas também de sombras. Gostam de água, só que na medida correta. No ambiente com cuidados certos, elas crescem grandemente… - Se virando e pegando um outro vaso, retirava uma flor e colocava em minha orelha - Todavia, se não tem o tratamento adequado, elas podem morrer.

Peguei aquela flor branca e a admirei. Era tão linda e delicada, no entanto, exalava um perfume que dominava todo o ambiente preso por vidro em seu entorno. E poderia achar que era loucura… Mas senti nas palavras dela que não era sobre gardênias que ela falava quando explicava a forma correta de se cuidar de uma.

- Posso tentar? - Pedi educadamente, almejando passar mais tempo ali com ela.

- Será um prazer tê-la aqui! - Me cedeu o vaso - Você primeiro pega a pá, passa ao redor do vaso…

- Assim? - Me recordo de ter feito completamente errado o processo, despertando uma crise de risos nela, que me segurou os braços e as mãos, delicadamente. Eu estava tensa com aquele contato e não sabia porque. A terra que estava nas suas passaram também para as minhas e juntas pegamos a pá.

- Dessa forma… - Ela me ensinava calmamente, também me auxiliando a retirar a planta de um vaso e passar para o outro.

E sem que percebêssemos, passamos a tarde toda ali, plantando gardênias e outras flores. Acho que nunca havia sido mais feliz em toda minha vida.

Foi assim durante os próximos também. Me mantinha ocupada em aprender sobre os chás, sobre as plantas, vez ou outra andávamos pelos arredores, conversávamos. Era extremamente agradável a energia de Charlotte Applesauce.

Em uma dessas noites, estava em meu quarto me preparando para dormir, quando senti-me inquieta. Pensava sobre o que tinha ouvido por burburinhos na cidade, aquela tarde, quando fui fazer compras de sementes de girassol. Duas mulheres falavam de mim pelas costas e eu tentava à todo custo não prestar atenção no que falavam. Mas, era inevitável. As víboras nem sequer disfarçavam. Acho que não me levavam a sério. E com o que comentavam, também ficaria difícil. Diziam sobre Prime e suas idas aos "clubes de jogos"… Falavam que ele também estava a ter um caso com uma prostituta do cabaré da cidade…

Por mais que pudesse ser mentira, não havia porque aquelas mulheres mentirem. E no fundo, eu esperava que algo assim fosse acontecer, eventualmente. Apenas suspirei e voltei para casa, com minhas sementes de girassol.

Can't Remember To Forget You. Onde histórias criam vida. Descubra agora