Capítulo Três- No fundo do poço

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Acordo no meio da noite suando e tremendo no escuro do quarto, me levanto rapidamente pra ascender à luz. Assim tenho a sensação que aquele demônio que faz com que ache que o mundo é feito de pessoas podres nunca mais vai me tocar. Ligo meu som baixinho, a voz do líder da Storm Black enche meus ouvidos, é uma voz calmante e ao mesmo tempo com uma pontada de dor.

- Ninna, Ninna, acorda agora Ninaaa!

Acordo com minha mãe aos berros no meu quarto, provavelmente esqueceu de tomar seus remédios.

- O que você pensa que estava fazendo indo embora da festa de ontem sem dar uma explicação!

Kátia Barcellos está furiosa!

Olho ao redor, desnorteada e percebo que já amanheceu. Provavelmente as investidas pra conseguir um cara rico não deram certo pra ela. Sei que sou seu maior erro, o olhar dirigido a mim já diz isso.

Ela aguarda minha resposta de braços cruzados ao pé da cama.

- Olha mãe eu disse que não estava me sentindo bem. Será que você ficaria satisfeita em ver meu rosto estampar alguma capa de jornal, essa manhã, e ler que não fui perfeita? Acho que não.

- Espero mesmo que seja isso Ninna. Isa me deu uma explicação nada convincente, estou cansada de limpar sua sujeira.

"Isa não é boa com mentiras, enrolar minha mãe não é uma tarefa fácil."

- Não tem mistério, mãe foi só isso!

- Arrume-se, porque vamos tomar café rapidamente, você tem um ensaio para o próximo desfile daqui a poucas horas. E, bom... Antes que me esqueça Hélio me ligou ontem e me convidou pra almoçar com ele hoje. Está voltando definitivamente de Madri e acha que podemos retomar nosso casamento. Na verdade sempre achei que nossa separação foi um erro.

Sinto-me enjoada ao ouvir seu nome, meu corpo fraqueja. Sinto minhas pernas começarem a tombar, então eu desmaio.

Acordo com Isa ao meu lado acariciando meu cabelo e minha mãe me fitando com total reprovação.

- Que susto Karen!

- Que bom que acordou porque não posso lidar com seus ataques agora, você foi uma das causas da nossa separação, por sempre ser hostil com meu marido. Agora ele quer uma chance e espero que você colabore, por favor, não estrague tudo.

"Kátia desdenha."

Não respondo, porque minha garganta está fechada. Não posso deixar o pesadelo recomeçar de novo.

Ganho um abraço de Isa, ela sempre foi uma espécie de anjo da guarda. A garota que de vizinha de porta na infância se tornou minha melhor amiga. Mas ela não sabe da verdade, porque eu nunca contei. Não quero que me olhem com pena, não preciso que tirem à sujeira que está debaixo do tapete, e que isso faça de mim uma aberração nacional.

Passo por mais um desfile sendo ovacionada e com um grande sorriso no rosto, mas no fundo eu só penso em alguma fuga. Não fiquei surpresa quando minha mãe informou que Hélio queria que eu fosse junto pra esse almoço.

Graças a Deus o ensaio demorou mais do que o esperado, então o tal almoço foi adiado.

- Isa. - chamo

Isa é muito competente, quando a chamei pra trabalhar comigo sabia que mantê-la por perto dificultaria as investidas de Hélio em se aproximar.

- O que foi Karen? O desfile foi um sucesso e tem gente de todas as partes querendo dar-lhe os parabéns.

- Isa chame um táxi, me arrume uma roupa bem discreta e me ajude a sair daqui sem ser notada.

- Karen isso não é uma boa idéia, pra onde nos vamos agora? Deixa todos esquecerem a confusão que foi sua última festa, não dê mais munição a imprensa.

Como se a questão fosse assim, simples de resolver.

- Você não vai a lugar nenhum, eu vou! Você cuida da minha mãe.

- De jeito nenhum! Você vai ver aquele idiota que sua mãe acha que é o melhor namorado do mundo? Pra que continuar mantendo um namoro de mentira?

- Não estou lhe dando opções Isa. Eu vou e o problema é meu.

Não quero ouvir o que ela fala. Pego meu telefone e ligo pra Jeff, temos um acordo. A mídia nos acha o casal perfeito, ele arruma as drogas e eu mantenho o namoro de fachada. Somos modelos de sucesso, duas belas fraudes. Ficamos perfeitos juntos.

Eu e ele estamos no fundo do poço, perdidos na nossa própria miséria. Isa diz que vai comigo de qualquer maneira, mas quando chego ao táxi digo a ela que esqueci meu telefone no camarim e peço pra que busque. Ela me olha desconfiada, mas como nunca me nega nada ela obedece.

Então eu aproveito o momento e entro no táxi fugindo pra esquecer o mundo de mentiras em que vivo. Quero esquecer que minha mãe só aceita a perfeição, esquecer que Ninna Werner é uma fraude. Não sei mais aonde Karen se encontra, não sei nem quando Ninna começou a tomar seu lugar.

Talvez um dia eu reencontre a criança sonhadora que desejava ser professora. Karen se perdeu de mim há tanto tempo que no espelho apenas vejo uma caricatura dela.

Encontro Jeff me esperando na porta do seu prédio, não existe muita comunicação entre nós. Estamos indo pra compartilhar as nossas merdas, seguindo rumo a mais uma festa.

- Então Ninna pronta pra uma noite de farra?

Olho pra Jeff sem a menor vontade de responder, ele não me interessa quando não tem um baseado ou uma "bala".

- Você pode apenas dirigir Jeff?

Ele acena com a cabeça.

Quando chegamos deparamo-nos com a casa lotada, não sei quem é o dono e muito menos de quem é a festa. Mas em lugares assim sempre encontro o que preciso. Fico só enquanto Jefferson vai buscar uma bebida, apenas abrindo caminho pra começar nossas loucuras.

Não demora pro primeiro baseado aparecer, ele logo apaga todas as lembranças terríveis do meu quarto. Algumas "balas" depois e eu encontro a felicidade, pode ser falsa, mas é tudo o que tenho para agarrar agora.

No meio da madrugada Jeff, eu e mais um turma estamos todos entorpecidos, danço até a exaustão.

Seguro uma garrafa de vodca enquanto danço. Mais "balas" me são oferecidas. Ultrapasso todos os limites, a volta de Hélio desencadeia todo o meu desespero. Como nos filmes vejo tudo em câmera lenta. Esforçando-me alcanço a porta do banheiro, eu não reconheço meu reflexo no espelho.

Não consigo continuar a me movimentar, não consigo falar, começo a vomitar em seguida, sinto que vou parar de respirar. No meu delírio esboço um sorriso com medo da passarela desabar, apenas uma alucinação. Não tenho forças pra me segurar então eu caio. Eu acabei de ter uma overdose e por Deus eu não quero e nem espero que ninguém venha me salvar. Com a vida que tenho prefiro morrer sozinha.




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