Capítulo Seis - Chris - O destino toma suas próprias decisões

227 14 3
                                    

Estar em casa depois de dias enfiado em hotéis ou em aviões é a oitava maravilha do mundo. Eu nunca poderia desistir de tudo porque amo a música e sei que sou um filho da puta sortudo. Só que nos últimos tempos toda vez que volto, procuro ao redor por algo que nem mesmo sei o que é ou talvez saiba e prefira não me olhar no espelho e confrontar meu reflexo.

— Sua irmã está enlouquecida com a possibilidade de ficar sem uma babá — Lilli fala quando pisa no meu quarto, retiro os dedos das cordas da minha guitarra e levanto a cabeça para olhá-la. Quando começo a tocar e compor é como atravessar um portal para um novo mundo.

— Tudo culpa minha, mimei tanto essa garota que agora ela não tem nada realmente importante para ocupar a sua cabeça — respondo.

Lilli se aproxima e afaga meus cabelos. Eu nunca recuso seu carinho de mãe, seu amor de mãe, ela salvou a minha humanidade, porque se não fosse sua bondade eu jamais acreditaria nas pessoas.

— Ah porra! Isso merece uma foto: Chris, o bebê da Lilli!

Nate diz rindo da cena que acabou de flagrar e Issam e meu irmão esticam as cabeças para ver sobre o que ele está falando.

— Nenhum de vocês tem casa ou família para ir? Vão todos procurar o que fazer, uma mulher para co...

— Nem ouse terminar a frase, Christian. Eu juro que ainda posso te dar uma lição — Lilli ameaça.

— Eu sou família Chris, esses dois são apenas dois xeretas. — Will aponta para nossos parceiros de banda. Parceiros, amigos fiéis, família, casa.

— Deixe de ser metido, Will! Mi casa es su casa! E aqui que fazemos alguma coisa, fazemos música.

Nate me mostra o dedo, Will balança a cabeça concordando e Issam... Bom, Issam e seu silêncio já dizem tudo.

— Desisto de vocês, vão se divertir no estúdio que vou preparar um lanche.

Minha doce Lilli sorri e parte para a cozinha, minha gratidão é o que me faz perceber que eu possuo um coração. Talvez não pronto para amar uma mulher, mas sim, ele está lá.

— Podem sair do meu quarto agora, bando de idiotas! — rosno.

— Eu não vim até aqui para nada, tira sua bunda feia dessa cama e vamos ao estúdio mano. — Nate me puxa e antes que eu possa protestar, já estou de pé.

Finjo me irritar, mas a verdade é que gostamos de estar próximos e isso não é uma imagem feita para a mídia. Somos os mesmos dentro e fora do palco. Seguramos a barra um do outro sempre que é preciso. Nate e eu somos os mais velhos, nossas histórias e caminhos se cruzaram um dia, guardamos as tragédias um do outro. Desde então somos irmãos.

Passamos a tarde toda trancafiados no meu estúdio, compondo e fazendo novos arranjos para nossas músicas, dando uma pausa apenas para o lanche delicioso que Lilli nos trouxe.

Esse é o momento que Nate escolhe para estragar minha tarde quase perfeita.

— Cara! Vocês não vão acreditar. Lembram-se da modelo gostosa que deu um cano na banda, naquele show de Sampa? A menina foi internada em uma clínica de reabilitação, tentou suicídio. Overdose, mano, tão linda e tão louca!

— Tão com tudo em cima e tão viciada! — Will completa.

Ninna Werner entrou para minha lista negra quando não cumpriu um simples compromisso comercial, eu não a suporto. Não quis e nunca quero conhecê-la, recusei qualquer tentativa que fizeram para me mostrar uma imagem dela. Não a quero nas minhas lembranças, pessoas como ela e meu pai não sabem honrar compromissos. Por isso eu a descartei, meu velho me ensinou que essa é a melhor forma de mascarar a dor.

Reflexo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora