30 Dias • 2020

4 - Não É Nada Demais

JoshuaQuarta-feira, 04 de março de 2020

Segredo era uma das piores coisas que alguém poderia ter, porque o peso constante no peito de estar guardando algo de extrema importância era doloroso e sufocante. Pelo menos, eu me sentia assim a cada vez que saia da cama, ria de alguma piada idiota que meus amigos faziam, ou notava o apoio que eles sempre dão para qualquer coisa que um de nós vá fazer.

Existia uma parte minha que queria sair contando tudo de uma vez, mas o medo das consequências acabava falando muito mais alto. As coisas estavam confortáveis da forma atual, já tinha minha família se preocupando o bastante por toda a situação, então eu não precisava de mais olhares de pena, ou de mais pessoas pensando em meu bem estar durante todo o dia.

Deixei escapar um suspiro cansado assim que senti o lençol levemente úmido embaixo de mim, tudo culpa da maldita febre que tive durante a madrugada e me fez suar mais do que se eu tivesse corrido uma maratona. Eu não senti a menor vontade de sair daquela posição de completo fracasso, esticado na cama e olhando para o teto, talvez ela já fizesse parte dos meus dias, me provando o quão derrotado eu já me encontrava.

— Josh, acorda, você vai se atrasar. — A voz de dona Helena invadiu o quarto assim que ela abriu a porta, revelando um sorriso carinhoso preenchendo sua pele preta.

— Já acordei — resmunguei, tentando encontrar forças para colocar a mesma máscara de todos os dias e fingir que tudo estava bem. Não entendia exatamente como ela ainda funcionava, considerando que só de olhar um pouco para mim já dava para notar a mentira escancarada, mas o que importava era ainda dar certo.

— Está tudo bem, querido? — a mulher questionou, entrando no quarto e se aproximando da cama. Foi bem fácil perceber o momento exato em que ela viu a situação dos meus lençóis, porque o olhar carinhoso foi substituído pela preocupação, o que me deixava de saco cheio. — Ah, querido, por que não me chamou?

Mais um suspiro, pelos mesmos motivos, saiu da minha boca. A pior parte de saberem o que eu tanto queria esconder, era voltar a ser tratado como uma criança.

— Porque não é nada demais, mãe — respondi, torcendo para que meu tom de voz não soasse grosseiro, porque dona Helena não tinha culpa alguma e só tentava fazer seu melhor para me ajudar, mesmo que aquilo me sufocasse às vezes. — Só vou tomar um banho e já fico pronto.

— Qualquer coisa me chama — ela disse, se afastando um pouco da cama e começando a se direcionar na porta, mas parando para uma última informação antes de sair. — Vou fazer umas panquecas para você, não faz bem não se alimentar direito.

Eu concordei, enquanto a mulher deixava meu quarto.

Mesmo sem o menor ânimo, eu consegui reunir forças o bastante para me levantar e caminhar até o banheiro do meu quarto, nem me preocupando em pegar o uniforme, porque aquele seria um problema para o Josh do futuro.