Part III - Pleasurable

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Sábado;

Normalmente era o dia em que eu dormia até tarde - para recuperar a energia da semana cansativa -, mas isso se tornou uma tarefa árdua depois da visita de Rhaenyra em meu quarto pela madrugada. Passei horas em claro com a imagem daquele sorriso sórdido em minha cabeça. Me perguntava se aquela poderia ter sido uma miragem da minha mente afetada pela raiva que vinha nutrindo durante toda a noite, sabendo que a loira estava nos braços de Harwin em um motel qualquer pela cidade. Mas não foi apenas o sorriso que tinha me incomodado... O que ela veio fazer no meu quarto assim que chegou de seu encontro, me abraçando e beijando minhas costas... Ela estava tão colada a mim que era quase como se ela quisesse que eu percebesse o perfume do homem impregnado em sua pele.

Essas provocações... ela estava tentando se vingar de mim de alguma forma? Se vingando por eu ter negado suas investidas e expulsado ela de meu apartamento, mesmo que a intenção fosse apenas impedi-la de cair em um caminho desprezível e sem retorno?

Qualquer que fossem suas verdadeiras intenções, eu não pretendia a questionar mais. Tudo o que queria é que ela fosse embora o mais rápido possível. Já estava bem claro que Rhaenyra e eu não poderíamos mais ficar perto um do outro sem que as coisas desandassem e se tornassem problemáticas, para dizer o mínimo!

Logo que entrei na cozinha, senti o cheiro de café fresco e de ovos mexidos com bacon. Pensei que encontraria a loira ali - usando apenas uma camiseta larga e bebendo o leite direto da garrafa, como de costume -, mas estranhei quando não a vi. Nem mesmo havia sinal de sua presença - além do café pronto e ainda quente, sinal de que ela não havia saído a muito tempo - em qualquer um dos outros cômodos do apartamento.

Bom, pelo menos teria um pouco de paz até que ela voltasse...

Tomei meu café sossegado, vendo algumas noticias no jornal que estava passando na TV da sala. Após estar saciado e desperto, resolvi aproveitar o fato de que acordei cedo em pleno sábado para poder fazer algo mais produtivo do que ficar o dia inteiro vendo televisão e batendo uma. Abri meu notebook - resistindo a tentação de clicar naquele ícone anônimo na barra lateral - e adiantei algumas planilhas que iria fazer durante a semana no trabalho. Algumas horas se passaram naquela atividade. Quando a terminei, o ronco em meu estômago indicava que já estava na hora de preparar algo para almoçar. Dei uma rápida olhada na geladeira e no armário, tentando decidir o que cozinhar. Suspirava, bufava, coçava a cabeça... Indeciso, acabei com um copo plástico de macarrão instantâneo em minhas mãos.

Não era a primeira vez - e nem seria a última - que eu acabava recorrendo aquela porcaria que vendiam como comida. Mas era prático, e tinha um gosto descente, então estava bom para mim.

Talvez eu devesse ter usado meus "dotes culinários" para preparar algo mais elaborado, já que tenho visita em minha casa. Mas ela nem mesmo se deu o trabalho de avisar para onde foi ou quando iria chegar, então eu não precisava me preocupar com o que ela iria comer.

Conforme a tarde passava, a televisão e o trabalho já não eram mais capazes de satisfazer meu tédio. Era só eu e meus móveis em silêncio. No meu quarto - em um armário bem escondido atrás de uma porta falsa na parede - eu sabia que poderia encontrar algo para passar o tempo. Mas eu estava fazendo de tudo - reunindo forças que pensava nem ter mais - para não ter que recorrer aquilo. Provavelmente esse já era o maior tempo livre sem me masturbar ou chamar uma prostituta nos últimos 18 meses.

Bufei irritado, alcançando o controle remoto do outro lado do sofá e ligando a TV para poder distrair novamente meus pensamentos. Mantinha-me sentado de forma desajeitada enquanto clicava impacientemente o botão de alternar os canais. Procurava qualquer coisa que não parecesse minimamente atraente ou que pudesse ser visto com malícia. Suspirei aliviado quando encontrei um desenho qualquer passando no canal infantil. Um grupo de crianças cantarolava uma música ridícula e irritante que já começava a me causar enxaqueca. Ainda assim, não mudei de canal. Talvez eu estivesse merecendo aquele martírio.

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