18 Anos.

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O cantos dos pássaros era o único som que se ouvia aquela hora em Salem, quando Amora Beneth acordou aquela manhã. Não era um dia qualquer, era  segundo dia de outubro, e há dezoito anos Bonnie Beneth dava à luz a uma garotinha linda, branca e ruiva. Amora havia herdado da mãe, não só os cabelos ruivos, como também milhares de  sardas espalhadas pela pele.
Era sua marca registrada e também seu orgulho, mesmo sendo alvo de bulling na escola quando criança.
Amora levantou com pesar e pôs-se a arrumar o material de escola vagarosamente. Em 15 minutos estava pronta, não era de ficar se embelezando. Na verdade, com cabelos quase laranja, longos, as pontas onduladas quase na cintura, pele alva e olhos verdes penetrantes, não havia muito o que embelezar.
Quando saiu não viu sua mãe, mas sabia que ela deveria estar na horta, atrás daquela casa horrenda em que moravam. Nunca se acostumava a olhar pra casa gigantesca que a mãe herdara de uma tia distante, e ainda se lembrava da sensação que tivera quando a vira pela primeira vez, a uns 3 anos. Um arrepio  na espinha. Uma vontade louca de voltar pra Boston, pra sua vida civilizada, onde não existia casas horríveis e assustadoras.
Seu dia transcorreu normal, evitava falar que era seu aniversário pois odiava demonstrações demasiadas de afeto.E sua amiga Katy faria um escândalo se lembrasse da data. Era sua única amiga na escola, uma garota inteligente, que usava óculos e era viciada no celular.
Quando a aula terminou, ela saiu depressa, entrou no carro preto que havia ganho da mãe e deu a partida. Como sempre, ligou o rádio e o som do Pink Floyd invadiu o ambiente. Amora foi acompanhando a música, parando apenas quando cruzava com algum carro conhecido.
Já via sua casa lá longe quando de repente uma dor insuportável a atingiu na cabeça, como se comprimisse seu cérebro. Sem conseguir fazer nada além de sentir dor, pôs as mãos na cabeça, gritando mais alto que a música. Sem nem perceber freiou bruscamente o carro, que escorregou, rodopiou e saiu da estrada.A dor durou menos que um minuto, mas Amora se deu conta que nunca sentira isso.Abriu os olhos e gemeu ao ver os estragos no carro que batera numa árvore e pelo jeito não sairia dali.  Incrivelmente ela não estava machucada, a dor tinha passado, então resolveu sair do carro e andar o resto do percurso. Teve que sair pela janela já que a porta havia travado, estava com as pernas bambas. Deu alguns passos quando lembrou da bolsa no carro e voltou para pegá-la.Que droga! No dia do seu aniversário perdera o carro... Sua mãe ia ficar muito, mas muito brava.
Não queria nem pensar no sermão que teria que ouvir. Abriu a porta  da frente da casa sem muito barulho, sua mãe devia estar na cozinha almoçando. Subiu as escadas e foi para o quarto, havia alguma coisa no ar muito estranho que não identificou. Deixou a bolsa em cima da cama e foi até a janela, estava tudo normal, tudo no seu lugar, mesmo assim aquela sensação tomou conta de Amora.
Foi para a cozinha, precisava ver sua mãe, porém o cômodo estava vazio, como se ninguém tivesse estado lá. Estranho. Onde estava sua mãe? Deu a volta na mesa e desceu as escadas que dava para o fundo da casa. sua mãe estaria na horta? O que havia acontecido? Entrou em uma parte cercada onde tinha muitas hortaliças plantadas, sua mãe cultivava muitas verduras,  legumes e ervas. Havia um silêncio descomunal, e o medo fez sua respiração ficar mais pesada. Continuou pelo caminho entre as ervas, onde havia alguns baldes no chão,  e então a viu. Seu coração acelerou, quase saindo pela boca, e um grito escapou da sua garganta sem que nem percebesse. Caída no chão, ela estava desacordada, imóvel, tinha uma pá pequena na mão, mas Amora fitou a mancha vermelha no lado direito da sua blusa.
__ Mãe? Amora falou mas nenhum som saiu da sua boca, enquanto ela caia de joelhos ao lado da mãe. De seus olhos caiam lágrimas e por um segundo não conseguiu pensar em nada, tamanha era a sua dor.
Bonnie Beneth jazia pálida, inerte no chão batido, mas ao tentar ergue-la, Amora percebeu que a mãe respirava, lentamente e tão fraca que quase não se percebia. Um alívio tomou conta da garota por um breve momento enquanto a mãe tossia e tentava abrir os olhos.
__Mãe, por favor__ chorava enquanto tentava ajudar a erguer a cabeça dela __ o que aconteceu? VC ta sangrando...
__ Am... Amy__Bonnie piscou os olhos e tossiu mais uma vez antes de tentar falar.__Procura Mercy __Tossiu mais uma vez__Mercy Dilan... Você vai entender.
__Mãe, para. Você vai ficar boa __ Olhou para os lados tentando pensar no que fazer__ eu vou...
Uma nova enchorrada de tosses acometeu Bonnie, que tentava falar.
__ Você é uma Ben... Beneth.Eu... Eu....amo você, filha __ Uma lagrima escorreu do seu  rosto sofrido, os olhos verdes procurando os da filha. O sangue jorrava lentamente pela ferida que Amora tentava inutilmente tapar. Então, por um momento que pareceu uma eternidade, Bonnie suspirou  e seus olhos se fecharam.Não havia mais vida em seu corpo.
Amora irrompeu um choro sem consolo, não havia nada que alguém pudesse fazer por ela.Naquele momento nada importava, só sua dor, sua perca.Pensou que nada pior podia acontecer naquele dia. E o  que seria pior do que perder sua mãe no dia do seu aniversário??

The RedheadOnde histórias criam vida. Descubra agora