Descendência

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Era muito cedo em Salem, ainda estava escuro, embora o sol despontasse no horizonte  e os pássaros cantassem um novo dia. Fazia muito frio, e o barulho do vento misturava-se aos cantos dos pássaros , deixando-os baixinho, quase inaudíveis.

Amora ouvia também os seus passos, enquanto atravessava o canteiro com folhagens verdes e acinzentadas. Decidira procurar Mercy Dillan à noite, enquanto rolava na cama, sozinha, ouvindo a própria respiração, depois vieram as lágrimas e por fim os soluços. Não sabia o que acontecera naquele dia, mas sua mãe estava morta e ela queria saber porque. 

A porta da casa de Mercy era grande, branca e precisava de uma pintura nova. Já havia estado alí, há muito tempo, mas não entrara, só esperara a mãe do lado de fora. A madeira rangeu quando deu mais um passo para bater na porta, e Amora assustou-se. Ainda tinha na cabeça a imagem da mãe deitada no chão, ensanguentada.Respirou fundo e bateu na porta pela segunda vez. Já ia bater uma vez mais, quando a porta finalmente se abriu, e uma mulher magra, de cabelos grisalhos e olhos esbugalhados a olhou. Fez sinal para que Amora entrasse, e trancou a porta atrás de si.

__ Oi , eu sou... __ Tentou falar enquanto observava o lugar, que parecia impecável, embora tivesse um cheiro de mofo.

__ Eu sei quem você é__ falou rispidamente a mulher, enquanto procurava algo nas prateleiras de livros. Parou um segundo pra olhar pra Amora __ Se está aqui é porque sua mãe morreu.

__Sim __ Amora não sabia se era uma pergunta ou uma afirmação, e como a mulher continuava a olhá-la como se esperasse algo, continuou a falar. __ Eu a encontrei ... acho que a esfaquearam... ela...morreu nos meus braços. __Seus olhos encheram de lágrimas.

A mulher pegou um livro na prateleira, tinha capa marrom, de couro,com partes desenhadas em ferro e no meio um pentagrama. O livro tinha um cadeado, mas não tinha abertura para chaves. Colocou o livro nas mãos de Amora.

__ Sua mãe pediu que entregasse isso pra você, quando viesse me procurar. É parte da herança das Beneth.

O livro era pesado, e Amora passou os dedos pelos desenhos da capa. Já ia perguntar como fazia para abrir quando ele simplesmente abriu, com um simples clique. Na primeira folha tinha alguns nomes, datas, desenhos estranhos.

__A família Bennett é uma antiga família  originalmente assentada em Salém, onde bruxas eram queimadas na fogueira. Quando os julgamentos de bruxas começaram eles se mudaram para  Mystic Falls, onde viveram em segredo por 100 anos.  __ Mercy falava enquanto Amora continuava olhando o livro, perplexa. __ Emily Beneth fugiu de Salém quando tinha 19 anos, acusada de bruxaria. Ela deixou todos que conhecia e se escondeu em uma cidadezinha. Lá ela conheceu um homem muito bom, que a ajudou muito. Seu nome era Stefan Dillan.  Ele a escondeu, deu abrigo e a ajudou, mesmo quando Emily lhe contou que estava grávida de outro homem. Stefan assumiu a criança, casou-se com Emily  e então nasceu Sheila Beneth, sua avó. __ Amora ouvia agora olhando atentamente em Mercy __ Quando Sheila fez trinta anos, Emily morreu, deixando todo legado de bruxarias, inclusive este grimório, para ela.  Sheila se casou alguns anos mais tarde, mas só teve uma filha quando já tinha 43 anos. Nessa época, havia uma guerra entre bruxos e feiticeiros, e  elas foram descobertas. Isso custou a vida de Stefan, o homem que Sheila chamava de pai e ela voltou a Salém à procura do irmão de Stefan que morava lá, Damon. Assim, Sheila e sua filha Bonnie ficaram com Damon Dillan,sua filha Margaret e a neta Mercy, eu, numa casa de veraneio, até que  acabasse as guerra e elas pudessem voltar a Salém. Eu  e Bonnie se tornamos grandes amigas, e quando Bonnie foi mãe solteira  e decidiu ir pra Boston tentar a vida lá, eu a apoiei. Você nasceu e cresceu lá, até que sua mãe recebeu notícias de que não era mais segura ficar lá e vocês voltaram. Sua mãe sempre quis deixa-la longe de tudo isso, mas ela sabia que não seria para sempre. O  que ela não sabia era que não ia ter tempo para te preparar.


Quando ela parou de falar, Amora não sabia o que dizer. Não sabia se ria, se chorava, se ia embora. Simplesmente ficou sem reação. Era muita loucura tudo aquilo, mas aquela mulher falava tão convicta da verdade. Era de uma família de bruxas. Isso fazia dela uma bruxa também? Tinha poderes? E aquele livro de feitiços na sua mão?

__ Eu... __ Amora levantou, ainda segurando o livro__ Preciso... ir... __Sem pensar, abriu a porta  e correu, como se pudesse deixar tudo aquilo para trás. Não ouviu Mercy pedindo pra ela ter cuidado,  tão alto estava seus pensamentos, misturados ao barulho do vento. Tinha que fugir de tudo aquilo, tinha que pensar. Correu por vários minutos e só parou quando não aguentou mais, quando suas lágrimas ficaram muito pesadas. Amora caiu de joelhos, em meio á mata, chorando, ainda abraçada ao livro que fora da sua mãe. As lágrimas caiam na capa do grimório manchando o couro e de repente o velho livro começou a brilhar na sua mão, como se tivesse vida própria, como se decidisse o destino de Amora.


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⏰ Última atualização: Jul 03, 2015 ⏰

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