Era uma menina acostumada a vestir os mais belos sorrisos. Nas festas, todos sempre elogiavam sua roupa e ela respondia com uma gratidão educada, mas alheia, como se não se reconhecesse como o alvo dos elogios. Foi numa dessas festas que a encontrei vestindo o sorriso mais bonito que eu já havia visto em toda a minha vida. Passei a observá-la por um tempo até que, algumas rodas de conversa depois, nos esbarramos, por intermédio de um amigo em comum. Ela era engraçada, tão engraçada que enquanto eu ria, me esquecia de perguntar tudo aquilo que eu queria. Eu disse a ela "é uma pena" enquanto ela comia e não me fazia rir, ela me perguntou o quê, e então eu disse "que não sejam teus os sorrisos, embora te caiam tão bem". Pela primeira vez, de repente, ela ficou séria e me olhou calada por um breve segundo, depois deu um sorriso raso e disse que não havia entendido. Eu sabia que sim, mas mesmo assim expliquei: "Quando você sorri, todo mundo observa a sua boca bonita, seus dentes brancos e a cor do seu batom e não conseguem olhar mais nada. Mas quando você sorri seu nariz fica engelhado, como uma roupa emprestada ou que já não serve mais". Ela então tocou o nariz como num reflexo e me olhou com as sobrancelhas arqueadas, numa estranha expressão de medo, expectativa, curiosidade e vontade de correr dali. Eu não queria que ela fugisse, mas desconfiando de sua força, mesmo receoso de chateá-la continuei: "E quando você sorri, todo mundo percebe as dobras dos seus lábios subindo e suas covinhas aparecendo, mas enquanto sua boca sobe e se abre em riso, as laterais dos seus olhos caem numa tristeza sutil". Naquele momento ela desviou os olhos, indecisa, mas depois resolveu me encarar e eu comecei a pegar alguns salgadinhos para dar-lhe tempo de me encarar sem constrangimentos, até que ela disse: Eu nunca tinha percebido isso, assim, dessa forma que você disse, mas é verdade, eu pego sorrisos emprestados. Eu gosto de fazer as pessoas sorrirem. E então eu disse: Isso é legal, eu não sou muito de fazer as pessoas rirem. Ela falou: Você é de fazer as pessoas pensarem. Aquele foi o nosso primeiro diálogo, seguido de uma noite de conversas sobre a vida, as pessoas, música, cinema e literatura. Eu a chamei para dançar, ela me disse que não sabia, eu perguntei se já havia tentado e ela me disse que não. Lhe estendi a mão e ela não hesitou em me acompanhar. Não precisei conduzi-la, o tempo todo ela já sabia flutuar. Dançamos um tipo de valsa, depois começou a tocar uma música mais rápida e inventamos nossas próprias e loucas coreografias, alguns amigos se juntaram a nós e à nossa liberdade. Quando cansamos eu disse: Você me enganou! Falou que não sabia dançar. Ao que ela me respondeu ofegante e com um sorriso largo: é que eu não sabia que era tão fácil voar! Naquela noite em que nos conhecemos, eu reconheci o amor da minha vida.