Talvez isso não seja sobre ser a irmã mais nova

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Ser irmã mais nova não é fácil.

Mimada.
Desobodiente.
Bagunceira.
Grossa.
Ignorante.
Preguiçosa.

Apenas algumas das suposições que fazem sem nem me conhecer direito.

Sinceramente, as vezes eu acho que seria muito mais fácil pros meus pais, pra minha irmã, e pra minha família em geral se eu não tivesse nascido.

Não estou dizendo que eles não me amam ou não gostam de mim, nada disso. O que eu estou tentando dizer é que a vida deles seria menos complicada.

Menos contas pra pagar.
Menos comida pra comprar.
Menos brigas.
Seria tudo mais fácil.

Eu também não quero dizer que preferia não ter nascido, também não é isso. É só que realmente seria mais fácil sem mim.

Minha irmã não causa problemas, não briga com ninguém. Ela é quieta. Na dela. Ela tem uma rotina, consegue se organizar perfeitamente. Tem o tempo de estudar, ler, fazer as tarefas de casa...

Já eu? Nem se fale. É briga praticamente todos os dias, principalmente com o pai. É cobrança de todo lado, não consigo me organizar pra fazer as coisas, viro quase todas as noites...

Talvez eu realmente seja a culpada de tudo isso, mas eu simplesmente não consigo mudar. É como se toda essa bagunça estivesse impregnada em mim, e não tem nada que eu possa fazer pra tirá-la.

E sabe qual é o pior? Eu a culpo por isso. Eu tenho raiva, inveja de como ela é. E eu me odeio e até choro, as vezes, por pensar assim dela. Eu a trato mal por nada. E logo depois eu me arrependo, mas não consigo pedir desculpas, o meu orgulho repugnante acaba falando mais alto.

E dói tanto, porque quando éramos mais novas não tinha nada que nos separasse. Brigávamos claro, bastante, mas pelo menos a gente se falava, passava a tarde brincando uma com a outra, se abraçava.

Eu não me lembro quando foi a última vez que eu abracei ela. Eu não me lembro quando foi a última vez que eu disse que amo ela. Eu não lembro a última vez que falamos alguma palavra que não fosse briga, a última vez que eu falei alguma palavra sem ser briga.
E isso é tudo culpa minha.

Sou eu que a culpo, que discuto, que desprezo ela. E ela nem deve saber o porquê disso. Mas eu não consigo fazer esse sentimento de raiva ir embora, por mais que eu odeie ele.

Por isso desculpa, irmã. Eu sei que você nunca vai ler isso, nunca mesmo. Mas eu peço perdão. Peço perdão pelo jeito que te trato, pela raiva que sinto de ti, pela inveja, por tudo.

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