Capítulo Único

272 52 10
                                    

Ele sempre soube. Desde o momento em que foi criado, ele só tinha uma única missão. E por mais que não ligasse na maioria das vezes, agora ele se importava. Como dizia o velho ditado, a morte é a única coisa que não se pode evitar. Por mais que tentem, o final sempre é o mesmo. No fim, Eren sempre levaria as almas das pessoas. Sejam ricas ou pobres. Doentes ou cheias de saúde. Ele sempre cumpria seu trabalho. Não importa o quê.

Feliz ou infelizmente, Eren, a criatura que nunca dava valor para as vidas alheias, havia encontrado alguém que o fez repensar em seus próprios princípios indiscutíveis. Parando de andar, ele olhou através do espelho para dentro da sala. Ele não tinha um coração para sentir algo, mas o pesar estava lá. Ele sentia isso. Bem no fundo de seu ser, ele estava receoso com o que teria que fazer. E apesar de saber que deveria, depois de tê-lo mantido por tanto tempo, ele se achava incapaz.

Levantando o seu olhar para a pessoa naquela cama, rodeada por fios e com a aparência frágil e pálida, ele franziu o cenho. De todas as coisas que já viu, para ele o câncer era extremamente cruel. Claro, ele já ceifou diversas almas que haviam sido torturadas quando vivas. Mas, isso... Com toda a sua certeza, era bastante cruel. Além da própria vítima, ele assistia seus parentes sofrerem também. E isso o fazia se auto questionar. Por mais quanto tempo ele poderá mantê-lo? Mesmo sendo a Morte, Eren não queria ter que matá-lo. Não ele.

Atravessando a parede, ele adentrou a sala com uma feição cabisbaixa. Ele já havia segurado-o por muito tempo. Estava na hora dele finalmente descansar. Esticando seu braço na direção do rosto pálido do homem, ele fez um leve carinho antes de se afastar novamente. Sua postura rígida nunca mudou, nem mesmo por um segundo. Inclinando sua cabeça para o lado, ele observou o paciente Ackerman em seus últimos suspiros.

A princípio, seria só mais um trabalho. Mas quando viu a reação do mesmo ao ler os resultados de seus exames, em idade tão tenra, ele segurou o máximo que podia para que ele pudesse sobreviver por mais tempo. E o que seria um câncer terminal, que os médicos deram-lhe somente duas semanas, se tornou em algo longo e tortuoso. Não era essa a sua intenção quando decidiu mantê-lo. Ele até tentou argumentar com a Peste - sua irmã -, mas ela não quis ajudá-lo. E por causa disso, ele assistiu durante todo esse tempo o sofrimento pelo qual Levi passou nos últimos sete meses.

Olhando para trás, ele viu o desespero de uma senhora de meia idade ao entrar no quarto ao lado de um senhor também de idade. Somente em olhar, ele já sabia que eram a mãe e o tio do garoto, e isso dificultou ainda mais sua decisão.

"Eu não posso mais, Kenny." falou Kuchel quando parou ao lado do Levi, não conseguindo sequer olhar para a feição do mesmo. "Eu não posso fazer isso com ele."

"Kuchel... Eu sinto muito."

"Por que?" Foi a última coisa que ela falou antes de voltar seu olhar para o homem.

Abaixando sua cabeça, Eren observou sua foice aparecer em suas mãos com um certo desgosto. Ele não queria isso. Mesmo levando diversas pessoas com esse mesmo problema, ele não conseguia se desprender do garoto. E isso o lembrou cruelmente a forma como ele estava sendo egoísta por não livrá-lo de toda essa dor que sentia. Ele sabia... Ele cometeu o seu maior erro quando se apegou a um humano. Ele não podia amar algo com vida.

Não muito tempo depois que aqueles dois haviam chegado, um médico entrou com uma feição entristecida. Ele iria permitir um adeus entre os parentes e o paciente, e após isso, ele desligaria a máquina. E Eren sabia disso. Apesar de ter planejado uma morte inconsciente para o garoto, Eren entendia que aqueles dois eram importantes para ele. E como um pedido de perdão por seu egoísmo, ele tocou na testa do garoto, o que o fez acordar.

Until Your Last Breath - ERERIOnde histórias criam vida. Descubra agora