Cap O2.

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Ao chegarmos na sala de reunião, cumprimentamos aos presentes e nos sentamos em nossas cadeiras. Aleksander havia se posicionado a minha frente, do outro lado da mesa, enquanto eu me coloquei do lado de Aaron, o presidente do instituto. Eu estava confiante, esse era meu primeiro caso oficial, digo, eu já havia feito outros, mas esse no entanto é o que faria minha carreira decolar. Não queria ser mais chamada por um título tão sem graça como "a garota mais nova a ingressar como perita criminal". Minha ambição me fazia querer algo mais, não apenas um um título como esse, ou até mesmo um currículo impecável como de Aleksander, eu sinceramente almejava algo que transcendesse tudo isso.
Sim, talvez eu seja a porra de uma garota ambiciosa, mas não me culpe. No final das contas, eu gosto de estabelecer metas que aparentemente são impossíveis. Não é atoa que cheguei onde estou hoje de maneira incrivelmente rápida. Estou sempre me pondo no meu limite, consequentemente ultrapassando o mesmo.

— Aleksander, vejo que conheceu sua parceira Ashryver. — Aaron disse, seus olhos cansados alternava entre mim e o homem arrogante a minha frente.

— Sim, Aaron. — eles se chamaram pelo primeiro nome, então com certeza são amigos ou no mínimo tem intimidade ao ponto de não utilizarem sobrenome. — Tive a honra de conhecer a senhorita Ashryver. Ela perece ser uma garota... — houve uma pausa dramática, do qual me fez encarar Aleksander com um olhar felino. Um olhar de advertência, que o faria medir suas palavras. Mas ele não pareceu se incomodar com isso. — encantadora.

Aleksander exibiu seu maldito sorriso branco e então virou-se para mim, me encarando de maneira casual. Eu forcei um sorriso também, que estava mais para uma exibição sem graça de dentes.

— Já que vocês se conhecem, vamos pular para o que importa. Então, creio que vocês já tenham seus casos em mão e que os tenham analisado com muita cautela.

Aaron disse, enquanto mexia em seu notebook. Alek e eu concordamos e abrimos também nossos "MacBooks".

— Eu exijo de vocês prioridade para este caso, por isso não serão designado para nenhum outro, para que possam se dedicar ao máximo possível... — Aaron esfregou as têmporas, batucou os dedos contra a mesa e sorriu. — Mas eu confio em vocês, sei que farão jus a fama que tem. — seu semblante amigável mudou drasticamente. — Esse é seu primeiro caso oficial, é o que definirá se vai ou não permanecer conosco...

Eu o encarei, ajeitei minha postura, no entanto tentando não demonstrar intimidação.

— Você não irá se decepcionar, Senhor, isso eu garanto. — afirmei confiantemente.

Depois da reunião fui para casa. Tomei um banho demorado, vesti um Baby Doll velho e desgastado, calcei minhas pantufas cinzas, preparei meu chocolate quente e me coloquei a trabalhar. Observando atentamente cada relatório, me demorando nos detalhes, revendo tudo e considerando as possibilidades. Analisei o caso mais umas duas vezes para confirmar que não deixei nada passar.
Nenhum rastro. Nenhuma pista. Nada. Esse serial killer é muito bom no que faz, por mais que me doa admitir. Porém, até os melhores erram. E quando isso acontecer, farei questão de estar por perto, bem na sua maldita cola. Depois de fechar meus relatórios, me arrastei até minha confortável cama e me joguei para debaixo do edredom. Por mais que eu estivesse cansada, o sono não estava disposto a me reinvindicar. Meus pensamentos estavam a milhão e eu me conhecia bem o suficiente pra saber que não iria dormir tão cedo. Disposta a encontrar uma distração, mandei mensagem para Luke:

00:10

Ahri.

Você está aí?

Luke.

Sim, estou aqui. Você está bem? Não consegue dormir? Ou teve outro pesadelo?

Ahri.

Faz tempo que não tenho pesadelos, eu estou bem. Apenas não consigo dormir. Só isso. Minha mente está a milhão, o caso que peguei não é nada fácil.

00:15

Luke.

Nem me venha com essa, você é muito boa no que faz. Pare de se auto sabotar.

Ahri.

Eu sei que sou boa. Boa até demais, admita. :)

Luke.

Sim, você é. Lembrei-me de uma coisa agora. Tá afim de sair pra beber mais tarde, depois do trabalho?

00:20

Ahri.

Não sei. Tenho que focar nesse caso, você sabe o quão importante ele é pra mim.

Luke.

Por favor, não seja chata. Você sempre prioriza seu trabalho.

Ahri.

Mas pra onde diabos quer me levar?

Luke.

Aquele barzinho que fica perto do seu trabalho. Ele parece ser bem frequentado.

Ahri.

Oh céus. Sabe que odeio locais com muita gente, mas tudo bem. Irei tentar dormir. Terei um dia longo. Boa noite, Luke. <3

Ahri ficou offline 00:30.

Desliguei o telefone. Minhas pálpebras pesaram e finalmente a escuridão me reivindicou.

— Ahri...

Eu prendi a respiração. Forcei-me a ficar quieta, por mais difícil que fosse permanecer naquele armário pequeno e empoeirado. O cheiro forte de morfo e o breu da escuridão me abraçavam de maneira incômoda. O medo me penetrava até as entranhas, me lembrando do quão fraca eu sou. E por Deus, eu não sabia o que fazer.

— Ahri, querida... Venha cá. Tenho uma surpresa pra você. — Cantarolou piorando os arrepios pelo meu corpo.

Só de imaginar ele me tocando meu estômago revirou. Mas me mantive escondida, implorando pra algum deus, protetor dos inocentes, para que eu não fosse achada.

— Ahri, sua vadia egoísta! — o tom amigável e falso de Taylor sumiu, substituído por um grito estridente. — Quando eu encontrar você, eu juro que irá se arrepender. Irei partir você ao meio.

Ele estava cada vez mais próximo, eu escutava os passos tão nítidos quanto a batida acelerada do meu coração. Minhas mãos trêmulas ainda estavam pressionadas contra minha boca, tentando desesperadamente reprimir um grito preso na garganta, grito este que foi solto ao abrir-se a porta do armário repentinamente.

— Achei você.

Acordei com meu pulmões sendo esmagado, o ar faltando-me e o estômago revirando. Ah não, de novo não. Sem tardar pulei para fora da cama, corri para o banheiro e vomitei as tripas. Meus olhos se encheram d'água. O enjôo depois dos pesadelos eram comuns. Não acredito que os pesadelos voltaram. Eu realmente achei que estava bem, que eu havia superado. Mas não... Por Deus. Eu não quero passar por isso novamente. Não agora, não quando minha vida está indo tão bem. Tomei um banho, fiz um chocolate quente e sentei na varanda. A brisa fria me abraçou, e eu me aconcheguei na minha poltrona velha e acolhedora. Meu coração apertou. Tive vontade de chorar, mas não tinha lágrimas. Talvez depois de muito tempo chorando pela mesma coisa, no final das contas você se acostume... Sei lá.
Meu telefone vibrou. Era Aleksander. O que diabos esse cara quer?

02:50

Aleksander.

Ele fez outra vítima.

Puta merda, não fode. E a noite só melhora.

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